Monday, March 31, 2008

um cara normal

Caralho, o show do Shellac foi uma tijolada, ou o desabamento de um prédio dentro da minha cachola. Porra, é disso que eu gosto. Sábado, quando cheguei na Clash, o local estava vazio, a banda de abertura já havia tocado e na penumbra do palco apagado pude notar, pelo cabelo arrupiadinho do baterista, que os integrantes da banda estavam montando seus instrumentos. Eu me encontrava muito estragado pela noitada anterior somada a uma nova leva de trabalhos que precisei fazer no final de semana. Cogitei a hipótese de não ir e continuar trancado em casa. No entanto, meio febril, lá estava eu, de canto e um tanto de saco cheio, paranóico com tudo e todos. Se eu tivesse uma arma ali, descarregaria, em mim. A casa encheu, daí acenderam as luzes. Os três caras de preto subiram levantando os braços, mandando um abração pra essa mulherada gostosa desse Brasilzão. Eu me posicionei no canto direito da pista com uma visão boa do palco, encostado na parede. Acho que um dos caras disse algo como “We are Shellac”, ou não. Pode ser delírio meu. Só sei que Steve Albini deu umas palhetadas encardidas na guitarra. O baixo de Bob Weston roncou. E Todd Trainer deu umas marteladas. Daí os três ficaram em silêncio. O batera, o cara do cabelo arrupiadinho, magrelo com a feição de uma ratazana, levantou uma baqueta e fez um bico hilário, na mesma hora a platéia deitou de dar risadas, daí ele desceu o braço e o lugar veio abaixo. Sério. Albini usa a guitarra como se fosse uma serra elétrica que corta tudo. O baixo de Weston funciona como um escapamento de duas bocas e a bateria de Trainer é impressionante, o cara tem um estilo único, sem virtuosismo, minimalista, reto, parece uma fábrica trabalhando. As músicas vinham descendo como lapadas na orelha. A banda funcionando como um caça de guerra passando dentro de um túnel, aquele da 9 de Julho. A corda do baixo quebrou. Deram uma pausa. Steve começa conversar com o público. Pede perguntas. A molecada se diverte. Eu busco uma breja. E o escarcéu começa novamente. Meu cansaço desaparece. Quando tocam “A Minute”, do primeiro disco “At Action Park”, eu começo a pular que nem um maluco, além do que, minha lata de cerveja cheinha desaparece e gritos guturais começam a sair pela minha garganta. Era raiva destilada. Lembranças de uma época em que eu era apenas um moleque que gostava de punk rock e ficava andando pelas ruas sozinho, cagando pro mundo, invadem minha mente. Quando o show acaba, das caixas de som a microfonia me acalma. Era bem cedo ainda. Uma renca de mulheres de salto alto começa a surgir na porta do lugar. Pago minha comanda e saio. Encontro alguns camaradas e a gente passa a noite sentado na calçada, tomando cerveja e falando merda.

**
Ontem ainda fui tomar umas brejas com Todd Trainer, o baterista, na chopperia liberdade. O cara é um figura. Nada estrela. Não parou de falar um minuto. Entre um cigarro e outro, contou histórias hilárias com lendas do rock:
- Uma vez, Steve, que estava gravando esse último disco do Stooges, chegou pra mim e disse, “Hey Todd, Iggy Pop quer te conhecer”. E então eu disse: “Oooow! That’s really Cooool.”

Ou essa:
- Eu não gosto da Kim Gordon. Eu fui apresentado a ela umas 15 vezes, no entanto, sempre que a gente se encontrava, Steve dizia “hey, Kim, você conhece o Todd?, e ela “No”.

Fora outras de quando a PJ Harvey seguia a turnê do Shellac indo na van com eles. De quando tocou com Will Oldham, e muitas outras. É isso ai.

Friday, March 28, 2008

eu já era

Ando por ai todas as noites. Longe da minha terra. Com Roy Orbison no rádio e uma ausência de sentimentos. Perco a cabeça à toa. Comporto-me mal e durmo fora de hora. Deus nunca me ofereceu nada. Só acho um saco quando ele me ignora. Sempre. Não seja rude comigo. Talvez eu esteja doente. Ainda sou a mesma pessoa. Perdendo a cabeça à toa. Comportando-me mal e dormindo fora de hora todas as noites. Eu já era. Mas ainda sou a mesma pessoa. Acordei com seu cheiro hoje. Flexionei minha mente tentando sentir o gosto e barulhos e brilhos me deixaram atordoado. Talvez eu esteja doente. Ando por ai todas as noites. Sozinho comigo mesmo. Sem adornos. Ou conselhos. Deixo o amor para os outros. Faço da vida minha roleta russa.

Tuesday, March 25, 2008

desgraça sonora



O trio minimalista de punk, math rock - ou seja lá o que esses filhos da puta fazem – Shellac, toca na Clash Club, no próximo sábado. Tenho certeza que esse show vai ser um absurdo, pelo menos pra quem gosta. Meu camarada está aflito, teme pela violência primitiva que o som irá produzir no público, de qualquer forma, ele disse que vai levar um soco inglês numa mão e uma luva de boxe na outra. E preste bastante atenção, eles devem subir no palco por volta das 22hs. É cedo. Ainda bem. Daí, assiste o show e raspa o gato pro bar mais próximo e esfria o carburador. O ingresso vai sair por R$ 35.

Se quiser um disquinho deles, toma essa dose ai:

Shallac - Terraform (via rapidshare)



1 - Didn't We Deserve A Look At You The Way You Really Are

2 - This Is A Picture

3 - Disgrace

4 - Mouthpiece

5 - Canada

6 - Rush Job

7 - House Full Of Garbage

8 - Copper

Monday, March 24, 2008

XXX

Quando era moleque, eu acompanhava a industria pornô. Achava bem mais interessante assistir um XXX que os tais filmes normais. A rapaziada na escola queria ser jogador de futebol ou piloto de avião a jato, eu já queria ser ator pornô, ou um traficante bem sucedido. Fuder com a vida das pessoas. Antigamente não existia essa oferta de putaria que encontramos hoje nas bancas. Apenas aquelas revistas sórdidas em páginas de papel jornal com modelos grotescas em construções abandonadas ou em quartos de motel de fórmica azul e rosa, cenas quentes de carnaval e aquelas porcarias européias redondas de quinta que eram possíveis encontrar nas bancas da rodoviária – nada de DVDs ou esses filmes baratos que editoras de fundo de quintal lançam hoje em dia. Era preciso mesmo alugar um VHS. Na primeira vez, eu e um amigo, ainda despentelhados, fomos até a locadora do bairro e falamos que nossos pais estavam cientes da punhetagem. Meu camarada disse que seu pai fumava até maconha, numas de provar como sua família era liberal e não iria encanar com um simples filminho sujo. A balconista nos analisou e disse, vão até eles e tragam uma autorização assinada. Fomos à banca de jornal e fizemos uma na hora, num pedaço de sulfite. Ela olhou aquilo e disse, belê, na maior naturalidade. Isso era no começo dos anos 90, quando Savannah estava em seu auge e a gente pirava na lourona suicida. Eu tinha até um pôster da vagaba colado na parte interior do guarda-roupa, mas não lembro onde estava quando fiquei sabendo de sua morte. Tinha também a Racquel Darrian, uma deusa morena com o corpo perfeito, ela era a minha preferida, podia ficar horas descrevendo sua atuação para os moleques depois das partidas de futebol. Fazia um pornô bem mais soft que as coisas que rolam hoje em dia, que aliás, podem ser bem grotescas, tipo esse negócio de DP anal, gangbang, fistfucking, ass to mouth, etc. Sei que tem uma pá de gente que gosta, mas isso não me provoca ereções. Era muito divertido assistir os filmes com Ron Jeremy. Aquele gordinho com cara de mafioso sentando a vara numas gostosinhas não deixava de ser hilário. Dava para perceber pelo sorriso debaixo do bigode que o truta tava delirando de alegria. Lembro de pensar que se aquele desgraçado comia várias, eu iria comer também. Existiam também aqueles filmes com festas ao redor da piscina que era uma suruba dos diabos. Era o sonho hippie subvertido, que amor livre o caralho. Uma vez alugamos um filme com a Cicciolina. No encarte estava escrito algo como a Rainha do Pornô e só haviam cenas com a putana. O pornô italiano sempre foi mais sujo - coisas com freiras perversas, grupal desenfreado, bondage, tal - e nessa sacanagem havia uma cena que Cicciolina mijava na boca de um safado lá. Foi um choque. Chamamos a molecada inteira da rua pra ver aquilo, inclusive um tampinha de 5 anos que dava cambalhotas de rir. Hoje estou por fora, mas sei que a coisa anda bem mais profissional. Novas atrizes surgem todos os anos e, pelo o pouco que me informei, após a era Silvia Saint e as tchecas, as duas que mais chamam a atenção são extremamente paudurecentes. Melissa Lauren, apesar de porquinha, é uma das gurias de mais destaque, ela até já dirige alguns filmes e é apoiada pelos pais na profissão - eu não vejo nada de errado nisso, já que muitos pais ficam tão excitados quanto os porteiros vendo as filhas mostrando a bunda em capas de revistas ou rebolando na boquinha de uma garrafa na TV. Melissa é uma loirinha francesa que começou cedo no ramo, mas já pode ser considerada uma veterana. Apesar da pouca idade, 24 anos, já atuou em uma caralhada de filmes. A nova promessa é Sasha Grey, uma moreninha com cara de junkie sapeca e despudorada de apenas 20 anos. É uma deusinha de fazer o papai do céu pensar em pecar. Conferi um filme com ela esses dias e pensei, porra, taí algo que toda mulher deveria assistir. Que desenvoltura. Que sacolejo de quadris. Que sem vergonha. Hoje, noto que o pornô soft já está disseminado pelos meios de comunicação - e não estou falando de erotismo -, vide esses comerciais de cerveja e os editoriais cafonas de moda. Muitas celebridades nacionais estão mostrando o brioco por ai e dizendo que é apenas pela grana. Nem quero imaginar quem será a próxima Gretchen. A cada dia que passa as pessoas perdem a vergonha de dizer que gostam mesmo é de putaria. O grande problema é saber falar disso sem ser vulgar. Tem neguinho que exagera. Esse é um assunto que ainda se deve falar baixo, na manha, como uma trepada debaixo de um caminhão numa zona movimentada da cidade.

Melissa Lauren
Sasha Grey
isso aqui supera muitos grafites que eu já vi pelos muros desse vasto mundão, vixe maria.

noturno

Grande parte das minhas lembranças é noturna. Ou possui os tons do entardecer do Brasil central. Era uma vez. Foi uma vez. Tal vez. Algo que se tornou uma página virada pelo vento. Um bolero esquecido. Uma canção tocada em 78 rpm num velho gramofone empoeirado pelo tempo. Uma rodovia deserta com um hotel barato de letreiro de néon azul. Palavras ditas num sofá de feltro numa recepção vazia. Como uma bronca. 3 e meia da manhã. Minhas unhas ruídas. Meus velhos sapatos que caminham por ai. Noturnos. Onde realmente são. Smith & Wesson decidindo o destino de muitos. Minhas memórias não são honestas. São noturnas. Nada que presta.

Friday, March 21, 2008

Acabei de chegar em casa. Estou um pouco acabrunhado. Ligeiramente furioso comigo. Cansado. Dessa merda humana fresca que escorre pelas sarjetas e mela minhas botas por onde descarrilo por puro vacilo nesses meus momentos solitários cheios de uma fé mundana. Essa cidade é um pasto asfaltado. Pelo menos por onde passei agora pouco. Por onde errei de novo poucos minutos atrás. Creio que estou à procura de algo que não existe mais. Por enquanto. Toda essa artificialidade social entusiástica de bonequinhos maquiados que esbarram e sorriem. Isso me provoca caganeira. É foda acreditar em algo quando se é incasto. Fico chateado quando assisto uma putinha metida rebolar esperando olhares. Eu gosto de putinhas lindas e, francamente, daquelas estranhas, que não riem de qualquer piada, nem se maquiam depois que acordam, ou se acabrunham quando estão peladas. Dessas de regata preta com a alça do sutiã aparecendo, uma bermuda de calça jeans cortada e tênis branco encardido amassando a bituca na calçada. Queria mesmo é levá-las pra casa pra mostrar minha coleção de revistinhas. E essa música. E minha piroca, lógico. O foda é essa minha total falta de conecção. Ando intolerante comigo e, principalmente, com os outros. Eu amei absoluta e incondicionalmente minha última mulher. Uma pessoa especial. Sinto falta de falar com ela sobre minhas conquistas e sobre minhas derrotas. Sinto-me como um moleque que construiu uma pipa, com rabióla e tudo, esperando o vento. Sentado com as costas encurvadas nesse assento. Esperando que essa porra levante vôo rumo ao esquecimento.

Thursday, March 20, 2008

pirata



O ótimo blog de MP3 Doctor Mooney postou uma session de Bob Dylan e Johnny Cash juntos, em 1969. Os dois mestres tocam um repertório de prima.

Veja aqui.

pág 3


Wednesday, March 19, 2008

The Black Keys

Ando um pouco bodeado com novidades. Eu não acredito em mais nada. Ando num mau-humor escroto. Até tento escutar alguma banda nova, mas acabo arremessando o disco pela janela do carro depois. Não surte efeito nenhum. Muita coisa que está surgindo ai é para trouxas, desses que lêem o Lúcio Ribeiro, ou a Rolling Stone e depois ficam todos felizes, capricham no visual e vão arrasar de olhinhos fechados num club ao som de The Killers, ou LCD Soundsystem. Bando de filhos da puta. Ando num mau-humor escroto. Bom, pelo menos, agora não preciso mais gastar dinheiro com álbuns de merda, assim, sabe como que é, não preciso ficar dando tiros no escuro, só basta baixar, se for ruim, deleto. Eu sou curioso pra música, gosto de vasculhar, mas venho fazendo isso agora somente com o passado distante, música empoeirada. Ainda assim, estava sentindo falta de descobrir um som que me fizesse ouvir bem alto, segurando os bagos. Há algum tempo atrás me deparei com uma música fodaça que está na trilha do filme “black snake moan”, ela se chama “when the lights go out” e é sujona de graxa e poeira, sério, parece ter sido feita por uns borracheiros de posto de beira de estrada. Ainda assim, não dei a atenção devida à dita cuja. Eu sou um cretino. Daí ela ficou ali esquecida, em silêncio, que nem um lobo machucado. Hoje ela tocou aqui na minha orelha. Eu disse, eita porra, e já fui atrás de mais coisas dessa banda. Daí fudeu tudo. Isso aqui é daquelas porcarias que quando se escuta já se pensa uma pá merda, como atropelar uma vaca na Fernão Dias, ou beber gasolina antes de ir pro trabalho. A banda se chama The Black Keys e com eles não tem firula. São dois caras, Daneil Auerbach (vocal e guitarra) e Patrick Carney (bateria), que fazem tudo sozinhos, tocam com firmeza um pesado blues rock arranca toco. Os riffs da guitarra de Auerbach soam como se viessem duma espelunca do velho oeste. A bateria lembra Bonhan, ora econômica ora descontrolada. Esses caras devem ser tipo uns rednecks ignorantes, comedores de fumo, não sei, também não tô nem ai. Acredito que a dupla deve ter se conhecido e falado “Ô Jejão, tava pensando, vamo ali fazer um som na garagem do cortiço”, daí o outro, mascando um capim falou “Ah, vambora”. Um sentou atrás da bateria e o outro catou a guitarra e começaram a tocar. Pá. Sem viadagem. Numa levada do capeta que está me mantendo acordado hoje aqui no trabalho. Eu não dormi ontem. Estou num mau-humor escroto. E estou com uma vontade desgraçada de morrer num acidente. De cair de um desfiladeiro. E se for pra isso acontecer, vai ser escutando essa porra de banda.

A banda já lançou 5 discos de estúdio, aqui vão dois que eu consegui vasculhando o Mediafire. Eu gostei mais do “rubber factory”, que é mais puro, analógico, tem “Grown so Ugly”, que é uma versão rock paulera de uma música de Robert Pete Williams, um lendário bluesman. “attack & release” também é muito bom, só que a produção é bem mais caprichada, polidinha, daí acaba que fica com um jeitão de banda grande e pretensiosa. Aquele tipo de disco que você escuta várias vezes, gosta até, mas com o passar do tempo vai ficando de lado. Esse disco, na real, nem saiu ainda. O lançamento está marcado pro dia 1 de Abril.

Rubber Factory - The Black Keys (2004)

Attack & Release - The Black Keys (2008)

Tuesday, March 18, 2008

ramblin man - pag 2


No final de semana passado, após passar horas solitárias na prancheta numa madrugada chuvosa, resolvi dar umas bandas pela cidade. Deslizei com o carro pelas ruas molhadas que refletiam as luzes dos postes e dos faróis. Tudo estava muito estranho. Talvez fosse apenas minha cabeça. Descendo a Consolação, do outro lado, um comando da polícia com 8 viaturas, incluído 2 CET e uns 20 gambés empunhando escopetas e revólveres entre cones de sinalização, paravam os veículos que subiam. Agradeci por não estar naquela rota. Parei na Roosevelt que já estava moribunda. Muita gente já devia estar dormindo. Eu não tinha o menor sono. Tomei uma ou duas garrafa de cerveja com um camarada e puxei o carro. Continuei rodando. Numa esquina na Consolação, perto de onde os policiais estavam com a blitz, um gol branco fura o sinal e quase dá de frente com um táxi. Eles estão parados, um encarando o outro, até que o vacilão coloca meio corpo pra fora e estende o dedo médio para o taxista. Ele berra impropérios que eu não escuto graças ao Elvis que canta no som. O gol arranca e sobe a avenida. O taxista enlouquecido vai atrás no regaço. Eu pensei, Ih, ó lá, perseguição tipo nos filmes. Subo devagar quando vejo do outro lado um Peugeot capotado. O cara, que devia ser o motorista, tenta em vão desvirar o veículo. Uma viatura chega para averiguar a merda. Tudo parece frenético e descontrolado como um formigueiro depois de uma pedrada. Continuei em frente. Passando por baixo do viaduto, vejo uma mulher vagando com um carrinho de bebê. Aquilo me deu arrepios, parecia um espectro da madrugada, uma alma penada. Paro num semáforo fechado. Um carro com vários otários risonhos começa a acelerar ao meu lado. Ele quer tirar um racha comigo. Eu piso no acelerador e o giro sobe, a frente do carro sacode e o câmbio parece estar vivo. Faço cara de durão. O sinal abre e os bananões largam arrancando como se estivessem num bate-bate de parque de diversões de cidade pequena. Eu saio bem lentamente, no estilo, puxo um cigarro e penso outra vez, bando de trouxas, que morram. Eram quase 6 horas da manhã, mas ainda estava bem escuro. A chuva continuava. Rodei bastante, depois peguei o final da 9 de Julho. Indo na moral, vejo pelo retrovisor outra viatura, um Corsa. Ela emparelha comigo, me ultrapassa. Pela faixa exclusiva dos ônibus, um Gol verde surge e se posiciona entre meu carro e a viatura. Eu reduzo. O sinal fecha. Os polícias fream e o mané afunda a traseiras dos tiras. Pronto, mais merda. A cidade está perdida, lembro de ter pensado. Desço pro centro sem a menor idéia do que fazer. Fico rodando pelas ruas estreitas como se lambesse as varizes duma velha decrépita. Já é dia. Paro o carro na esquina da Ipiranga com a São Luiz. Desço e dou uma mijada na porta de um banco. Daí me sento debaixo de uma marquise e fumo outro cigarro. Alguma coisa me incomoda, como um risco na minha música favorita. Uma mulher gorda passa carregando uma sacola pesada. As pombas encolhidas arrulham sobre os fios e alpendres. O dia está nublado e chuvoso. Arremesso a bituca que quica na calçada e se apaga com a água. Estava na hora de voltar ao trabalho.

Monday, March 17, 2008

L2

Passei grande parte da infância na beira de uma grande avenida que cruzava a parte leste da cidade que eu morava. Eu gostava de ficar sentado na grama ou apoiado na janela do apartamento assistindo tudo. Era um puta movimento, no entanto, nada comparado com o tráfego de São Paulo. Lá os carros andavam em alta velocidade e os acidentes eram constantes. Lembro de uma vez em que uma Kombi branca não conseguiu frear, bateu de raspão no pára-choque de um Corcel, foi rebolando, rebolando, acertou o meio-fio e deitou de lado na grama. Os neguinhos de camisa de vereador e bermuda da Adidas saíram pela porta que ficou virada pra cima como larvas saindo de uma fruta podre. Não deu nem 5 minutos e a porra da perua começou a pegar fogo. Eu achei aquilo sensacional. Passei semanas esperando que outra Kombi capotasse perto do meu bloco. Uma vez também, um caminhão de gás perdeu o trinco da carroceria e os botijões rolaram pela pista expressa para desespero dos motoristas, só que esse acidente eu não tive a sorte de assistir, a moçada do prédio me contou quando cheguei da aula no final da tarde. Passamos a noite falando daquilo enquanto chutávamos a bola contra a parede. Às vezes meus pais iam trabalhar e eu ficava sozinho no apartamento. Como eu não tinha muita idéia do que fazer, ficava na janela vendo o movimento, esperando um acidente, um atropelamento que fosse, eu queria sangue e metal amassado, se pá uma explosãozinha. Enquanto isso não acontecia, eu pegava um papel e ficava riscando quais carros passavam mais, que nem um bobo mesmo. Era de extrema emoção passar a tarde fazendo aquilo. 1 fusca, 2 passats, mais 1 fusca, uma kombi, olha lá uma brasília, uma variant. No final o fusca sempre ganhava. Eu e os moleques gostávamos também de colocar caixas de papelão com latas de tinta suvinil dentro no meio da pista. Quando os carros acertavam aquilo era maior estardalhaço. E a gente caia na risada. Teve uma vez que estávamos ali sentados na beira da avenida quando um passat pointer vermelho e preto veio com tudo, subiu na grama e 3 malacos saíram de dentro empunhando os berros. Logo atrás, duas viaturas, incluindo uma veraneio apavorante, estalando vieram derrubando o mundo. A bandidagem passou correndo na nossa frente e a polícia atrás. 5 moleques de short de algodão assistindo aquilo com os olhos quase pulando da cara. Foi foda. Depois ficamos chutando a bola na parede e lembrando daquilo.

ramblin' man

continua

Wednesday, March 12, 2008

estado de espírito

"Solitary man" - Neil Diamond (baxaê)

Melinda was mine
til the time
That I found her
Holding jim
Loving him

Then sue came along
Loved me strong
Thats what I thought
Me and sue
But that died too

Dont know that I will
But until I can find me
A girl wholl stay
And wont play games behind me
Ill be what I am
A solitary man
Solitary man

Ive had it to here
Bein where
Loves a small world
Part-time thing
Paper ring

I know its been done
Having one
Girl wholl love me
Right or wrong
Weak or strong

Dont know that I will
But until I can find me
The girl wholl stay
And wont play games behind me
Ill be what I am
A solitary man
Solitary man

Monday, March 10, 2008

apenas um lamento

Misguided Angel (clique dir. salvar como...)
Cowboy Junkies

I said mama, hes crazy and he scares me
But I want him by my side
Though hes wild and hes bad
And sometimes just plain mad
I need him to keep me satisfied

I said papa, dont cry cause its alright
And I see you in some of his ways
Though he might not give me the life that you wanted
Ill love him the rest of my days

Misguided angel hangin over me
Heart like a gabriel, pure and white as ivory
Soul like a lucifer, black and cold like a piece of lead
Misguided angel, love you til Im dead

I said brother, you speak to me of passion
You said never to settle for nothing less
Well, its in the way he walks,
Its in the way he talks
His smile, his anger and his kisses

I said sister, dont you understand?
Hes all I ever wanted in a man
Im tired of sittin around the t.v. every night
Hoping Im finding a mr. right

Misguided angel hangin over me
Heart like a gabriel, pure and white as ivory
Soul like a luciferBlack and cold like a piece of lead
Misguided angel, love you til Im dead

He says baby, dont listen to what they say
There comes a time when you have to break away
He says baby there are things we all cling to all our life
Its time to let them go and become my wife

Misguided angel hangin over me
Heart like a gabriel, pure and white as ivory
Soul like a lucifer
Black and cold like a piece of lead
Misguided angel, love you til Im dead

patum de atê

O calendário de shows em São Paulo está interessante para os próximos meses. E não estou aqui para falar das mariconas perfumadas do Interpol, que tocam amanhã no Via Funchal para rapazes de terninho com olhos pintados e meninas que "se não fossem tão trouxas até que seriam legais". Liga só, já perto do final desse mês, o Shellac - a banda do lendário Steve Albini, o cara por trás dos malditos “In Utero”, do Nirvana e “Rid of Me”, da PJ Harvey – chega para se apresentar por essas paragens nas seguintes datas:

25/03/08 - Teatro Odisseia, Rio de Janeiro
28/03/08 - Garagem Hermetica, Porto Alegre
29/03/08 - Clash Club, Sao Paulo
01/04/08 - SESC, Bauru
02/04/08 - SESC, Sorocaba

É tão difícil rotular o som dessa banda quanto encontrar um elefante puxando uma carroça no centro. A experiência sonora pode ser algo semelhante a atravessar pelado um corredor polonês de 200 metros de comprimento. E, olha só, vale a pena sair inteiro, porque na seqüência, já em Abril, quem desembarca aqui é o Bad Brains, a banda do fim dos anos 70, de Washington DC dos negão chulé-rasta-punk que ensinou o hardcore para esses brancos de merda que fazem cara feia na MTV hoje em dia, toca no festival Abril Pro-Rock 2008, no dia 11, mas antes disso aparece aqui em Sampa para mostrar o novo álbum, “Build A Nation”, e tocar clássicos como "Banned in DC" e "Pay To Cum", dia 9 de Abril, na Eazy.




Bad Brains

O New York Dolls, banda caduca banguela com batom de glam rock, que já teve seus bons tempos a bem uns 40 anos atrás, também toca por aqui. Sei que eles estarão no mesmo dia e palco que os Bad Brains, no Abril Pro-Rock. Não fiz questão de procurar algo sobre eles se apresentarem aqui na Metrópole Tóxica.

Mudando um pouco de rumo, mas sem perder o prestígio, outra lenda, essa para assistir comendo pipoca, Ennio Morricone, o mestre responsável por trilhas sonoras de clássicos do cinema, vem ao Brasil para reger a Orquestra Petrobrás Sinfônica, no dia 5 de Maio, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Morricone trabalhou na trilha de mais de 400 filmes, incluindo os maiores clássicos do faroeste com assobio e chibatada no lombo do cavalo. Sem ele, o cinema seria tão enfadonho quanto um mundo sem música.

Aqui 2 amostras do que o sujeito fazia.

“The Good, The Bad and The Ugly” – Ennio Morricone – trilha do perfeito “3 Homens em Conflito”, de Sergio Leone. (clique no dir. "salvar destino como...)

“Ecstasy of Gold” – Ennio Morricone

Agora, chega.

Thursday, March 06, 2008

dancinha


porra, taí, o Fluminense enfiou um chocolate gostoso no boga do Arsenal. que golaço do Dodô, deu uma chapuletada na bola de primeira, do meio da rua, ela cruzou a área num arco perfeito e morreu no ângulo do goleiro argentino. deviam dar uma placa pro rapaz. 6 a 0. não vi o jogo, já que estava num Via Funchal lotado pela burguesia badalhoca paulistana conferindo Bob Dylan e banda. grande show também. Bob está com a garganta em frangalhos, como um pano de chão de banheiro de escola pública, veiaco, parecendo com Tonico & Tinoco, mas continua com entusiasmo para fazer shows. ele lançou uma pancada de clássicos obscuros totalmente desconstruídos, numa pegada blues, e muitas músicas do último disco "Modern Times", destaque para "Workingman's Blues #2", que me balançou e pela porrada "Highway 61 Revisited". na saída ainda tive a honra de apertar a mão do Belchior, o Cat Stevens brasileiro, disse a ele que sou grande fã do seu trabalho e que "Alucinação" é uma das canções favoritas de toda minha vida.

Wednesday, March 05, 2008

me chama de papai

Olá, querida. Puxa vida, quanto tempo. Hoje acordei me sentindo um pouco mal. Como se tivesse engolido um saco de pedras na janta. Fiquei andando em círculos pelo quarto que nem essas malditas galinhas de Angola. Não, isso não é ressaca. Venho maneirando na bebida com certo êxito. E não tenho problemas com o álcool, apenas penso demais quando estou de ressaca, e isso me incomoda. É uma lasqueira. Ninguém para conversar ou jogar um dominó no final da tarde, sabe? Mas, como você está, me conte? Como vai o seu novo amor? Ele deve ser bonitão, hein? Ou um almofadinha? Sei. Significa muito pra mim saber que você está bem. É. Eu também estou ótimo embora acorde com essas pedras no estômago. E esse negócio de andar em círculos pelo quarto está me deixando louco. Demoro um pouco para pegar no sono e penso bastante em você, principalmente quando sei que está longe. Minha pele mudou de cor depois que o inverno virou primavera. Te contei que uma caravana de ciganos passou por aqui esses dias? Pois é, não é fantástico? Pensei até em juntar meus trapos e ir com eles, sem nem perguntar o destino. Colocar uma argola prateada na orelha e sumir nesse mundão. Conheço tudo por aqui. Já caminhei por todas essas montanhas. Por todas essas encostas escarpadas. Conheço todas as curvas do todos os rios. O cheiro da brisa. Conheço tudo, inclusive na escuridão. Não há mais nada de novo. Queria ir pro litoral, catar conchas em praias desertas e esquecer meus tolos dias do passado. Queria parar de andar em círculos. Queria você de volta. Mas isso é um delírio. Viver com as costas prensadas num muro de pedras não é saudável. Para ser bem honesto, eu estou muito cansado de todas essas memórias. Não importa para onde eu olhe, sempre enxergo você. Carregando os baldes d’água ou reclamando que os coelhos atacaram a horta. Chutando os cães para fora de casa e me encarando com esse olhar de víbora pálida do deserto. Ou lavando a louça e rindo sozinha. Deixe me abraçá-la pela última vez, pelos velhos tempos. Agora peço que vá embora. Preciso arrumar minha vida, sair por ai e encontrar meu caminho. Parar de jogar com meus sentimentos como se barganhasse cavalos. Parar de andar em círculos como se tentasse limitar meu mundo. Minha alma atolada na lama. Preciso acertar minhas contas com o que deixei para trás antes de te conhecer e fugir para cá. Preciso me ver livre de mim novamente.

Tuesday, March 04, 2008

14ª Fest Comix


Nos dias 7,8 e 9 de Março, acontece a 14ª Fest Comix, com toneladas de revistinhas (ou gibis) empilhados no Centro de Eventos São Luis. As ofertas são de foder o cu do Batman, desde de lançamentos saindo fumacinha até aquelas Graphic Novels antigas dos anos 80/90 com até 70% de desconto. Praticamente todas editoras de quadrinhos marcarão presença, fora que ainda terão estandes da Quanta Academia de Artes, Fábrica de Quadrinhos e da Arena Comix. Vale muito a pena a visita. Leve seu sobrinho e uma mochila resistente. Volte para casa, deite-se no sofá e esqueça tudo que acontece lá fora.


14 ª Fest Comix
(Colégio São Luís - Rua Luís Coelho, 323 - Estação Consolação do Metrô - São Paulo/SP).
Dias 07 e 08 de março das 10h às 20h
Dia 09 de março das 10h às 18h

Monday, March 03, 2008

o uivo

13 de Maio é uma data, é também o nome de uma rua na Bela Vista, ou o dia do azar. Eu caminho por ali de madrugada. Com uma música na cabeça. Uma traveca crioula gigante se aproxima perguntando “onde fica a sinuca do Godô?”. Aponta pelos arredores com suas mãos de pele escamosa e unhas longas e vermelhas como casca de barata. O balcão de informações é na esquina de cima, eu digo. Debaixo do viaduto noto o brilho da lâmina em sua mão esquerda. Tudo não passa de um sacode. Dou dois passos para trás e levanto meus punhos. Olho no olho. Não seria uma boa idéia, ela percebe antes que eu prove. Um sorriso de canto surge em minha boca e eu continuo andando. Paro para uma mijada vigorosa. Do outro lado escuto algo como um uivo. Torço minha coluna, ainda segurando a piroca, e noto uma mulher encolhida no chão. Seu choro lamuriante aumenta, como o apito de um trem nas encostas de um vale sob o reflexo sem direção da lua. Aproximo-me e pergunto o quê há de errado. Ela me encara vidrada, espumando saliva pelos cantos da boca e balbuciando algo sobre a fruta envenenada que a bruxa do albergue lhe deu. Seus dedos entram e saem dos cabelos emaranhados, ela se movimenta num transe de quem profere um feitiço pré-cataclísmico. A bruxa está solta. Suas roupas fedem à fezes ressecadas pelo sol. Descalça e sofrida como uma plebéia pedinte romana. Vejo que não há nada ao alcance que eu possa fazer. Arranco um cigarro do bolso esquerdo e acendo. Caminho. Penso nas cadelas prenhas sem quintal, que uivam por seus cães levados pela carrocinha. Penso em Sebastião chorando na escada em frente de casa, dizendo que seu coração foi amassado por um martelo de bife. Penso naquele eco debaixo do viaduto. O sol começa a refletir nas janelas dos prédios. As luzes dos postes vão perdendo a força. Do viaduto Martinho Prado, noto os ônibus surgirem barulhentos subindo a Augusta. Peço um pão de queijo no boteco da esquina. Do outro lado do balcão, assisto a traveca mestiça enfiar a língua na orelha de um velho de camisa xadrez. Escuto ele dizer algo como, faz cóceguinhas. Olho para meu lanche. O arremesso, mas erro o cesto de lixo. Levanto e penso em sair correndo até onde meu carro está estacionado..