Friday, February 27, 2009

não é para Bancoc nem Budapeste ou Massachusetts. eu não nasci na primavera nem para me esconder, mesmo assim, ei, eu vou fugir por um breve período de tempo, talvez algumas horas apenas, tempo suficiente para atravessar este túnel que liga nossos bairros. vou para onde a mentira se refugia, onde os cães não param de latir e é sempre noite, onde as luzes dos postes piscam como sirenes silenciosas, onde velhos mendigos me abraçam sem esperar nada me troca e dos bueiros uma fumaça branca sai. um sujeito, claramente emocionado, me abordou hoje no parque, me segurou pelo braço e me disse para manter a calma. todo mundo rouba, todo mundo engana, ele disse e se foi. eu fiquei ali parado, pasmo, sentado num banco de madeira, olhando para a ponta dos meus tênis, tentando me lembrar do que aconteceu naquela noite de sábado, quando evitei contato com qualquer tipo de seres humanos e me limitei à Céline. uma tristeza genuína me acertou. a temperatura virou. o vento balançava as copas das árvores e levantava algumas folhas secas do chão. a grade que separava o parque do mundo estava bem enferrujada, mas eu podia perceber que um dia ela fora azul. o ruído do tráfego aumentava lá do outro lado, atrás das casas de cor salmão. eu não queria perder a chuva. meu chapéu cheirava a enxofre, como aquele banheiro público onde, na ausência de giletes, apaguei bitucas de cigarros nos meus pulsos apenas para garantir boas marcas.

Sunday, February 22, 2009

vamulá


Nessa segunda e terça-feira de carnaval vai rolar rock and roll no Teatro X. A nossa banda "Saco de Ratos" vai tocar lá nos dois dias. Antes do nosso show deve rolar um set acústico com a Fernanda e oFlavinho da "Fábrica de Animais". E antes, durante e depois dos shows, Carcarah vai atacar de DJ mandando muito rock and roll pra todo mundo dançar. É pra ir até de manhã já que a maioria da rapaziada não precisa acordar cedo no dia seguinte.  

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Bortolotto comanda o show que dura mais de duas horas e trouxe de volta o sentido sagrado para a noitada (rockeiro que é rockeiro não usa a palavra "balada"): desabafar

A banda devolveu ao rock autenticidade e elementos da sua essência, naquela que se transforma na melhor terça da cidade.
"

                              
  (Marcelo Rubens Paiva)

Apareçam.


Segunda e terça de rock no Teatro X

a partir das 22h - sem hora pra acabar

Ingressos : R$ 5,00

Banda Saco de Ratos

Mário Bortolotto : Vocal
Fábio Brum : Guitarra
Marcelo Watanabe : Guitarra
Fábio Pagotto : Contra-Baixo
Rick Vechione : Bateria

Set acústico com 
Fernanda D´Umbra : Vocal
Flávio Vajman : Gaita e guitarra

Discotecagem rock and Roll : Carlos Carah

O Teatro X fica na Rua Rui Barbosa, 399 - perto do Bradesco da Rui Barbosa

Fiquem a vontade para divulgarem em suas listas de e-mails. A gente vai achar bem bacana

Mário Bortolotto


Friday, February 20, 2009

fraude descartável

Já faz muito tempo desde o dia em que você partiu. Havia algumas formigas no prato esquecido numa manhã opaca de outono. Marcas do seu lábio na borda de um copo com restos de vinho. O cinzeiro transbordava com ajuda do vento. Ninguém deu a mínima na vizinhança. Mas eu me lembro perfeitamente. Que droga. Do final da tarde. Dos prédios e das janelas que limitavam nosso horizonte, e se destacavam nitidamente do céu que escurecia e abraçava tudo em sombras, me alertando que a noite seria longa, dolorosamente, eterna.

Thursday, February 19, 2009

Monday, February 16, 2009

cadê?


Saturday, February 14, 2009

O eco do seu soluço na escada de incêndio. Sua maquiagem escorrida fora de tom sob a aurora. Sua dor que endurece teu peito em silêncio e cheia de glória. Tanto tempo se passou. E nenhuma nova sensação. Talvez ainda exista um corrimão. Ou você possa passar por debaixo da catraca sem pedir perdão. Encare isso. Sem dúvidas. Caia fora desse quarto. Talvez se perca. Garanta uma arma. Finja escutar os outros. Nem tenha medo. Caia fora daqui.

Wednesday, February 11, 2009

Ike & Tina

o blog Doctor Mooney colocou à disposição "The Hunter", um dos melhores discos do casal sopapos Ike & Tina Turner. o blues e o R&B deslizam e rasgam faixa a faixa. esse albúm é uma desgraça de tão bom, um incêndio que se apaga com pauladas. passa lá e baixe tudo, depois queime um cd e coloque no carro, ou num cd player qualquer e pare de fazer o que você precisa fazer, pare de pensar demais, salve-se afundando na lama.

enderece e envie seus cartões postais. eu espero estar bem longe quando eles chegarem.

nada cai do céu. custa muita loucura. algo semelhante a gotas de sangue numa folha em branco. inesperado como um blecaute quando dentro do elevador, ou giletes sujas embaladas em celofane. um dia serei um suicida aposentado, quem sabe um rebelde adaptado. só espero não precisar da família nem dos amigos nem dos cães nem dos gatos.
há algo de muito errado nesse quarto escuro, que consome minha alma com talheres descartáveis e luvas plásticas quando chega a madrugada. quando chega a madrugada. e seu cheiro quente e fétido no ar. quando o vento abre e fecha a janela anunciando mais uma tempestade. quando mais um blecaute apaga a vizinhança. prefiro ficar à minha própria espreita para poder entender essa falta de vontade. a verdade que intimida. o refugo. sobre nunca colocar as coisas no lugar. sobre uma longa e escura noite. um silêncio absoluto. um sujeito atormentado, pensando longe demais.

Monday, February 09, 2009

Friday, February 06, 2009



Dan Auerbach, uma das metades do The Black Keys, lança na próxima segunda-feira “Keep It Hid”, seu primeiro trabalho solo. Eu já havia escutado “I Want Some More”, a segunda faixa desse álbum, um blues denso e distorcido, com a bateria marcada no ritmo de uma locomotiva no vale das sombras, uma música que pode te empurrar da beira do abismo ou te fazer tomar uns tragos a mais e encarar no braço aquele filho da puta encardido que não para de te olhar do outro lado do bar. Som para caras durões que mascam tabaco e rasgam as roupas das mulheres antes de fodê-las cuspindo palavrões em banheiros públicos. Bom, comecei a falar bosta de novo, o que importa é que o disco já está futucando o barbante da internet e você pode baixá-lo aqui, por enquanto, e é isso que estou fazendo agora.

Último brinde

Às vezes eu uivo pra lua e lembro do verso de Allen Ginsberg: “I saw the best minds of my generation destroyed by madness...”
Às vezes eu imito um velho bêbado conversando com seu piano.
Às vezes eu rio dos meus inimigos invisíveis que seguem atrás de mim na praia tentando apagar minhas pegadas na areia.
Às vezes eu olho pra cara vermelhona do sol e grito a plenos pulmões: é isso aí, meu chapa, continue brilhando, brilhe pra valer.
Às vezes eu sussurro versos indecentes no ouvido de Lady Solidão só pra vê-la excitada.
Às vezes eu recito diante do espelho trechos de poemas tristes que eu mesmo escrevi há mais de dez anos: “musas sádicas me acariciam / com unhas de gilete / lábios em carne-viva, mil beijos / de medusa — stripers que após a roupa / arrancam a própria pele.”
Às vezes eu escuto os pés do Tempo roçando de leve o assoalho de madeira do corredor e digo a ele: Eu sei que você está aí, meu velho, pode passar. Não precisa ser tão cuidadoso.
Às vezes eu sonho que sou um boxeador com a cara toda arrebentada caído no canto do ringue e uma garota branca como uma xícara de leite diz bem perto dos meus machucados: vamos lá, querido, não jogue a toalha, vá pra cima, você consegue.
Às vezes eu lembro do dia em que ganhei um triciclo do meu pai e saí pela rua pedalando a milhão, feliz como um garotinho que acabou de ver sua mãe voltando do hospital.
Às vezes eu tenho vontade de chorar mas faz muitos meses que não consigo. Desde maio do ano passado.


Ademir Assunção

Tuesday, February 03, 2009

semana

Hoje tem o Saco de Ratos Blues no Teatro X, a partir das 22hs.
É diversão garantida. eu apareço por lá toda terça-feira. E geralmente me comporto, ao contrário do pessoal.

Na sexta, dia 09/02, a Fábrica de Animais faz seu primeiro show do ano na Livraria da Esquina. Na mesmo dia, a banda curitibana Hillbilly Rawhide - que me foi apresentada por uma leitora desse espaço - se apresenta no CB.

Agora, no sábado, o Thee Butchers Orchestra toca no CB. Nem me lembro quando foi a última vez que esses caras se juntaram para uma putaria. Eu vou aparecer com um chicote de couro para dar umas lambadas nas costas dos indies sofredores e nos caras da banda.

Algo me diz que estarei esmerilhado na próxima segunda.

o Teatro X é na Rua Rui Barbosa, 399 - Bixiga Tel.: (11) 3283-2780.

A Livraria da Esquina fica na Rua do Bosque, 1254 - Barra Funda.

O CB fica ali na Barra Afunda, numa rua perto da estação Marechal Deodoro.
o começo do que viria a se chamar rock n roll.
prestenção no comecinho country da parada.

“Put your Cat clothes on” – Carl Perkins

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agora, isso aqui é mais sério:

Woody Guthrie - So long it's been good to know you




na próxima vez que eu me embebedar vou cantarolar essa canção pelas ruas.

Texas

Se eu pudesse dirigir pelo resto dos meus dias, talvez eu conseguisse me manter quieto. Quem sabe se eu arrumasse um lugar para onde ir com você, garota, para muito, muito longe, talvez eu conseguisse me acalmar um pouco. Apenas o seu silêncio me deixa tranqüilo e consegue juntar meus cacos. Você atrás do balcão tentando encontrar a freqüência certa da estação de rádio. Servindo os caminhoneiros falastrões empapados em suor ou fatiando a torta de limão segredo da casa. As crianças berronas arremessando batatas fritas com catchup pelo recinto. Sua paciência com as pessoas. Só o seu silêncio eu escuto. Pela janela vejo a rodovia ensolarada. A poeira no horizonte. Espero a noite. Quando posso te ajudar a colocar as cadeiras viradas sobre as mesas e recolher todo o lixo dos banheiros enquanto você passa desleixadamente o pano no chão. Depois eu acendo o néon da fachada da lanchonete e nos abraçamos rindo no estacionamento ermo. O vento que levanta seu cabelo. Um poste solitário que ilumina apenas alguns arbustos que nunca foram aparados. Você está muito bonita hoje. Sabe, ando tendo visões. Nós dois num lugar bem sossegado, com cães pulguentos e a aurora coberta pelo sereno prateado. Uma casa de madeira, ou palha, onde a gente possa chamar os amigos e ficar altos, tocando banjo a noite inteira. Não desligue o rádio ainda. Essa música, apesar da freqüência ruim, me remete aos prados resplandecentes das chácaras nas beiradas da rodovia que desce para o Sul. É pra lá que eu quero ir, com você, lógico. Não ria. Agradeça seu patrão por tudo, ou mande ele à merda, apenas pegue um desses sacos de lixo e coloque suas coisas dentro, vamos. Esqueça seus estudos e esses museus empoeirados. Vamos dirigir até encontrar um pedaço de terra onde possamos descansar das pessoas. Não ria dos meus devaneios. Na verdade você gosta das pessoas. Gosta desses macacos que aparecem em suas caminhonetes cintilantes e ficam olhando seu traseiro. Adora servir famílias em férias que vão para o interior. E ri de sujeitos como eu, que ficam aqui escorados no balcão com uma xícara de café morno imaginando uma vida ao seu lado. Você tenta encontrar sua estação favorita no rádio, com um pano de pratos no ombro, suas unhas vermelhas e sua botina carcomida pelo cascalho, seu velho e surrado vestido florido e seu chapéu de palha. Esqueça aquela casa perto do canal. Deixe para trás esse néon aceso na estrada escura. Traga isso tudo para perto de mim, antes que eu tenha que partir sozinho novamente. Eu sei, o tempo mata tudo que sinto. Eu ando triste e perdido em visões e delírios de um cara embalado pelo egoísmo e a angústia reluzente de um otimismo tolo, que cansou de contar todas as coisas que deixou passar e que te ama obsessivamente, como uma melodia antiga que não sai da minha cabeça. Talvez eu ainda possa dirigir pelo resto dos meus dias, se for preciso, para encontrar um lugar para morrer em silêncio.