Wednesday, October 29, 2008

olhos sujos

Na minha casa as luzes estão sempre apagadas e as janelas fechadas. É a televisão sem volume que ilumina a sala e um pedaço do corredor com o brilho opaco dos comerciais de televendas de produtos para ginástica passiva rebatendo nas paredes. Ouço apenas o silêncio que ecoa e vibra no meu peito e enxergo em flashes. Minha avó, amaciada pelo tempo, com sua camisola azul claro com desenho de cavalinhos e suas pantufas gastas, dorme no sofá, com a cabeça pendendo levemente para o lado direito e o chá esfriando na xícara esquecida ao lado dos porta-retratos com fotos recortadas de revistas. Quando a escuridão chega lá fora, pego minha jaqueta de time de futebol americano e minhas chaves e saio pela cidade com meus olhos ofuscados pelo brilho das luzes elétricas. Sozinho, caminho. Fora do quarto, dentro do mundo. Beiro muros e murmuro uma canção que me traz lembranças de uma época mais iluminada, quando passeava pelos prados do Rancho Santa Fé à caça de sapos para jogar sal em suas costas acesas. Pelas ruas desertas do bairro, posso inventar alguém para andar ao meu lado, travando um diálogo inexistente sobre dedos amarelados pela nicotina e besouros que voam até uma janela fechada. Sobre discos solos de cantores desconhecidos. Sobre como recusar ajuda. Depois vamos ao armazém do chinês, onde escolho um vinho com preço acessível e rótulo ilustrado. Arranco algumas notas amassadas de dentro do bolso da jaqueta e lhe pago. Peço o saca-rolha emprestado e lhe agradeço. Invadimos o parque por um buraco na cerca e nos deitamos no gramado. Agora invento uma mulher bem estranha, dessas do interior, que gostam de deitar no meu braço e do meu pau envergado. Suas palavras são macias como sua pele. Digo que senti muito sua falta - apesar de nunca ter visto mais gorda - e peço-lhe que não me deixe mais, somente por esta noite. Acho que ela está sendo honesta quando diz tudo bem após baforar a fumaça do cigarro. O vinho tomba e tinge a grama de vermelho. Acordo para minha realidade distorcida. Silencioso como um mímico. Ecos da solidão que secam meu sangue. Indo para lugar nenhum e seguindo os movimentos dos meus olhos desnorteados como um lutador após o nocaute. Inventando companhia para evitar um desastre.

aprendam com Wanda Jackson

Thursday, October 23, 2008

hoje começa o Satyrianas, na Roosevelt, ou seja, se prepara. vou desenhar pro Gualberto, na HQ MIX. creio que isso deve ocorrer por volta das 19hs. ainda vão rolar uma pancadas de atrações que varam a madruga de todos os dias. confira no link.

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e no começo do mês que vem, estréia Hotel Lancaster, com direção do Loureiro & uma pancada de amigos no elenco e na produção. pretendo passar lá pra conferir.
 




Thursday, October 16, 2008

Em Salvador


Thursday, October 09, 2008



Hoje rola o Blues na Galeria, com Rodrigo Batello e o Flávio Vajman.





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Cagacinho. No sábado, participarei do VOCABULÁRIO, dos trutas Paulo Scott, Chacal, Marcelo Montenegro e Marcelino Freire. Lá no Bar_co. Nunca fiz nada parecido, rezo para não gaguejar nem suar muito.



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e, para alegria da criançada, nos dias 17, 18 e 19 de outubro, semana que vem, acontece a 15ª Fest Comix, a mais absurda feira de quadrinhos do Brasil. Lá você pode encontrar aquela ANIMAL que falta pra sua coleção, mangás obscuros em papel jornal, a Espada Selvagem com a capa do Liberatore, a coleção completa do LOBO SOLITÁRIO, muita coisa zerada e lançamentos com descontos de até 60%.


Data: 17, 18 e 19 de Outubro
Horário: 17 e 18 de Outubro das 10h às 20h / 19 de Outubro das 10h às 18h
Local: Centro de Eventos São Luís — Colégio São Luís
Endereço: Rua Luís Coelho, 323 — Estação Consolação do Metrô (ao lado da Padaria Bela Paulista)
Entrada: R$ 10,00* Meia-entrada: R$ 5,00
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Ontem, andando pela Teodoro, notei uma requenguela de camisa do Mickey listrada, com uma longa cabeleira escorrendo pelas costas e adornada de um belo dum buzanfã atravessando a rua. Nisso, o motoboy que estava parado no semáforo, solta de dentro do capacete:

- Nossa! Óia lá! Ae, lindona, cê num caga, cê lança bombom.

Horroroso, pensei, apertando o passo para chegar logo em casa.

Wednesday, October 08, 2008

sento

não é palhaçada
você acorda comigo
mas nunca me ouviu chorar
tento disfarçar
talvez seja errado - o que é certo?
esperar não é mudar

de vagar

estou cansado
apenas deitado
me apoio
durmo
para anoitecer

Friday, October 03, 2008

por onde errei

sob um amanhecer cinzento, estou unido aos desesperados do meu tempo, nas experiências destrutivas de uma grande cidade. sinto a aflição gelada de catraca percorrer minha veias. minha visão turva tenta definir os ângulos dos fios nos postes, das sarjetas carcomidas, dos primeiros ônibus com os letreiros ainda acesos. o rugir do tráfego acordando e meu silêncio de duas noites sem dormir. olho meu reflexo na porta de vidro de uma loja recém aberta e sinto uma prazer mundano por estar nas beiradas do inferno. jogo algo para trás sem perceber. olho lá. diaristas melancólicas com sacolas cheias esperam. viciados asmáticos de olhos fundos vagam numa busca sem fim ou motivo. mendigos enrolados em cobertores da cor do pavimento. eu. prostrado na manhã. o vento cortando por dentro. sem nome. com cheiro de cachorro molhado. sem medo e nada pra cantar. apenas estranho.