Wednesday, December 24, 2008
Merda. É natal. Porcaria. Pegar rabeira no trem errado sem ter certeza. Correr de policial com as calças arriadas após um belo cagalhão numa avenida. Acreditar em chances. E desejar a paz e a luz. Sabe qual é que é? Têm uma pá de filho da puta que trabalha e recebe para tomar conta dos outros. Outros. A vida pode ser tão simples sem os outros. Outros. Todos querem presentes. Lembro da primeira série. Bem moleque. novo no colégio. Tínhamos que desenhar alguma porcaria em crayon. Papai e mamãe. Te amo vocês. Mesmo. Feliz natal. Amo vocês. Os outros, odeio. Se existe algo que odeio, é gente. Sempre apanhei bastante. Nas ruas e em casa. Sempre bati bastante. Na crocodilagem. O estado ensina. Ser mau é necessário. Lembro da primeira escola. Algo semelhante à Funabem. Escola do Estado. Uniforme azul claro. O gordinho tentou me intimidar ali, no meio da aula de encaixe. Tava entrando numas. Vê se pode. Tapa na cara e tal. À tarde. Chovia. Acenderam as luzes da classe. Ele me ameaçava. Apontei o lápis na cara dele. Eles me amarraram. Me levaram pra uma sala e me cercaram. Queriam entender. Entender. O quê? Selvagem nasce. NASCE E MORRE. Desde bem moleque sempre tive certeza: serei mau. Lembro da Maria Eugênia. Putinha. Ela gostava do Denis. Bostinha. Boyzinho da calça jeans cortada. No futebol me fez falta e sorriu. Depois, no bebedouro, eu enfiei sua cara na quina. Sangue. Muito sangue. E pontos na promoção. Ri com todos os dentes da boca. Me levaram prum canto. Me cercaram. Intimaram. Eles diziam: esse não tem jeito. É mau. Deu errado. Elimina. Evita. e eu olhava no olho. Ainda olho. Olho.
Tuesday, December 23, 2008
satisfier
As enchentes assolam Sampa. O tempo que muda. A coisa tá feia. do céu aos rios, dos rios ao oceano. Se nada grave acontecer, daqui 48 horas eu espero já estar na estrada para algum lugar. vou rumo ao Sul, para longe dos espectros de Santa Claus - como mosca vermelha, como Jesse Custer -, ainda sem planos ou trajetos. Somente enfiar as coisas no porta-malas e raspar o gato, sob o sol estalante e as chuvas de frente. penso nas praias de Santa Catarina e na cidade de Porto Alegre, penso nas estradas secundárias que rasgam o interior. Penso em cruzar as estradas desertas do Uruguai e circular sem voltar, apenas indo - mucha muchacha – you ain't so such a much - para bem longe daqui, para bem perto de se sentir velho. distante das festas & confraternizações. não vou para Jersey City, mas quem sabe não dou um pulo em Montevidéu. depois eu volto. estragado porém suave. Cavalgar é preciso.
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Ando um tanto podre este final de ano, talvez por causa da cirurgia que minou minha resistência, tão podre que fiz até um check up para conferir o que se passa dentro dessa carcaça de grilo. Fiquei num cagaço, naturalmente, em pegar meus resultados, mas tudo está nos trinques. Não tenho Hepatite C, nem colesterol alto, muito menos o temível HIV corre em meu sangue. estou apenas com alguma coisa inflamada na minha caixa torácica e piolhos.
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Aqui tem o primeiro disco do Bill Fay inteiro pra baixar, assim, de mão beijada.
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Aqui, na moral, esse tal de Eli “Paperboy” Reed e sua banda The True Lovers fazem soul music com pegada de nêgo doido, tipo um Al Green cheirado numas de roqueiro. Um dos melhores discos desse ano.
Eli "Paperboy" Reed and The True Lovers - "Roll With You" (via rapidshare)
Wednesday, December 17, 2008
capricho ou macumba
dia desses a gente tava falando do Alborghetti. dai fui assistir isso aqui. e sem querer, logo lembrei da coceira inglesa do Cabeça.
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E Blues na Galeria.
Monday, December 15, 2008
suma
Dezembro chuvoso em São Paulo. As ruas do centro ficam bem mais acolhedoras, as cores intensas e definidas como se alguém regulasse o contraste de um monitor, transformando toda a atmosfera num sonho atrás da janela. Durante o dia as pessoas caminham por ai sem preocupações graves, sem o pânico. As árvores balançam e escuto o farfalhar das folhas. E o céu volumoso e escuro dançando em explosões lá em cima do topo dos prédios como num prenúncio de que alguma merda vai acontecer. E geralmente acontece. Como vudu. Quando a noite cai. Quando ando por ai e me sinto cansado de tudo, chateado. Quando os loucos mostram os dentes e as laminas sangram. Os semáforos piscam numa mesma cor. Talvez eu apenas precise dar uma volta e respirar novos ares por um breve período de tempo. Tempo. Faz tempo que ando pelas ruas molhadas do centro da cidade de São Paulo. Estou cansado e repetitivo. Só preciso dar uma volta. Sentir tanto sua falta me deixa doente. Eu tenho quase certeza de que você fez vudu, macumba, ou algum tipo de trabalho para me atrapalhar. Você costumava me acarinhar como um cão. Sinto-me doente agora. E não é nada demais. Apenas mãos suadas e um zumbido agudo na cabeça. Vejo uma senhora carregando uma grande sacola de feira do outro lado da rua. Sinto muito por tudo que aconteceu entre nós. Ontem sonhei com uma estrada que circundava a serra beira mar. O carro minúsculo deslizando numa faixa negra de asfalto sob grandes montanhas com os topos cobertos por nuvens carregadas, como os prédios, mas as montanhas são mais imponentes. Acordei com as mãos suadas e uma melodia estranha na cabeça. O som do mar, a risada de um louco. Tenho certeza sobre esses trabalhos. Quase. Tem alguma coisa errada comigo. Como se estivesse sendo feito de idiota. É o vudu funcionando. Tarde demais.
Saturday, December 13, 2008
escuto música a madrugada inteira. passei a me levar mais a sério, mas evito fazer isso. fico ouvindo música a madrugada inteira. daí pesquiso coisas. minha curiosidade é gigantesca, sem pretensões, apenas coceira. coisa de babaca dependente. daí encontro um country boogie no El Diablo Tun Tun e fico quieto e curvado como um fanático, solitário e devoto. apenas escuto. madrugada. porra, e descubro que western swing e rhythm & blues podem me transformar numa pessoa melhor. e que todos esses idiotas que acreditam em cadernos culturais de grandes jornais que vão à puta que pariu. escuto um Joe Tex e acho que todos os problemas já não existem mais. e fico matutando sobre o fato do amor não ter nada a ver com felicidade. nunca. penso. penso em coisas que não me dizem respeito. fico na minha. tento. ao menos. nunca tive dúvidas quanto ao fato dos crioulos fazerem músicas bem melhor que os brancos. nem hesito, palhaço. não mexe comigo senão te meto a faca. sou raso, mas não sou comédia. sad days, lonely nights. dá uma olhada nisto antes de comer teu sucrilhos. esqueça. ando com uma vontade desgraçada de morrer num acidente. deus, tenha piedade. nunca te escutei. eu acredito. escuta aqui. não mexe comigo. certo?
isso é uma das coisas mais ridículas que eu já vi em toda minha vida inteira. quase morri de vergonha alheia.
Thursday, December 11, 2008
O lançamento da Musa e a abertura da exposição me deixaram um trapo velho. Maior putaria do caralho: mulheres lindas e seminuas, palavrões comendo solto, gente bêbada e petulante, amigos feios e malvados, garrafas voando e explodindo e sorrisos para fotos. Não posso esquecer de deixar registrado aqui meus sinceros agradecimentos ao Marquinhos, do Mercearia São Pedro, à Márcia, do Espaço Parlapatões, ao Linguinha, ao Cabeça, ao Trovão e a Lu e ao Márião & Saco de Ratos Blues, ao Vanderley e seu Demônio Negro, ao Ademir Assunção e Antonio Vicente - sem vocês, creio que a festa teria sido uma vernissagem insossa com gente fazendo biquinho. E obrigado aos amigos presentes - nada como encher a cara bem acompanhado. Precisei de 2 dias de repouso e reclusão para conseguir voltar a falar. Ontem, enquanto o telefone se esgoelava atado ao carregador e longe do meu alcance, eu sentia a velha sensação de que algo bem escroto acontecia na madrugada embolorada, eu olhava pro carro ali, sendo lavado pela chuva e pensava numa pá de merda, mas alcancei um Colto Maltese que estava esquecido debaixo da mesa e li até apagar. Hoje estou me sentindo novo, pronto pra uma briga de gangue no fundo de uma rua escura, mesmo assim, acho melhor, ultimamente, beber um vinho tinto morno na companhia de ninguém.
Hoje também achei uma resenha da expo no Homem Nerd.
já o Guia da Folha disse que o Carlos Carah aborda a relação entre arte & drogas. Bom, acho que eles confundiram a exposição com o lançamento d’A Musa Chapada. Até ai normal, mas eu tenho nojinho das temíveis drogas.
Aqui uma musiquinha pro chicote estralar.
Bobby Day – “The Bluebird, the Buzzard and the Oriole”
e vamos pra rua piranhar.
Thursday, December 04, 2008
BAIXOCALÃO @ QUEBRAMAR
[]
Nos próximos dias 5 e 6 de dezembro, a baixocalão junta-se à enorme lista de atrações do Festival Quebramar de Música Independente, peripécia em vias de ACONTECÊNCIA na Universidade Federal do Amapá (Unifap), em Macapá.
No intervalo entre os shows de Macaco Bong (MT), Mopho (AL), Jorge Mautner (RJ) e outras 27 bandas florestais, uma VENENOSA SELETA de trabalhos dos artistas da galeria ABRILHANTA a festa piscando em um telão instalado nas redondezas do palco. Exposições, workshops e palestras complementam o evento, organizado numa JOINT-VENTURE entre o Coletivo Palafita e o Espaço Cubo.
A entrada é FRANCESA.
Participam da empreitada Glauber Shimabukuro (SP), Sandré Sarreta (RS), Victor eLgUY (SP), Diogo Rustoff (GO), Alex Senna (SP), Jotapepax (RS), Celso Gitahy (SP), Vânia Medeiros (BA), Fabiano Gummo (RS), Kael Kasabian (SP), Herbert Loureiro (AL), Paulo Ponte Souza (PA), BT Nóbrega (SP), Leonardo Malaquias (SP), Carlos Carah (SP), Dado Motta (SP), Rômolo D´Hipólito (SP), Mulheres Barbadas (SP), Lu Lapan (RJ), Andrea May (BA), Guilherme Caldas (PR) e Maurício Pierro (SP).
Só lembrando: dias 5 e 6 de dezembro de 2008, Unifap, Macapá, Amapá.
Entrada = zero rauls.
Estando por lá, prestigie.
via Cardoso.
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Nos próximos dias 5 e 6 de dezembro, a baixocalão junta-se à enorme lista de atrações do Festival Quebramar de Música Independente, peripécia em vias de ACONTECÊNCIA na Universidade Federal do Amapá (Unifap), em Macapá.
No intervalo entre os shows de Macaco Bong (MT), Mopho (AL), Jorge Mautner (RJ) e outras 27 bandas florestais, uma VENENOSA SELETA de trabalhos dos artistas da galeria ABRILHANTA a festa piscando em um telão instalado nas redondezas do palco. Exposições, workshops e palestras complementam o evento, organizado numa JOINT-VENTURE entre o Coletivo Palafita e o Espaço Cubo.
A entrada é FRANCESA.
Participam da empreitada Glauber Shimabukuro (SP), Sandré Sarreta (RS), Victor eLgUY (SP), Diogo Rustoff (GO), Alex Senna (SP), Jotapepax (RS), Celso Gitahy (SP), Vânia Medeiros (BA), Fabiano Gummo (RS), Kael Kasabian (SP), Herbert Loureiro (AL), Paulo Ponte Souza (PA), BT Nóbrega (SP), Leonardo Malaquias (SP), Carlos Carah (SP), Dado Motta (SP), Rômolo D´Hipólito (SP), Mulheres Barbadas (SP), Lu Lapan (RJ), Andrea May (BA), Guilherme Caldas (PR) e Maurício Pierro (SP).
Só lembrando: dias 5 e 6 de dezembro de 2008, Unifap, Macapá, Amapá.
Entrada = zero rauls.
Estando por lá, prestigie.
via Cardoso.
Tuesday, December 02, 2008
Monday, December 01, 2008
sob encomenda
alguns dizem que são os faróis das carretas que vêm na direção contrária. outros, que são os animais que fogem das sombras. alguns temem a polícia ou a falta de sinalização. eu já discordo. fico apavorado mesmo é com o brilho da lua. nada é comparável àquele círculo prateado dependurado no firmamento, no escuro de uma estrada deserta, daquelas que todos evitam trafegar nas altas horas da madrugada. onde não há socorro. onde os andarilhos vagam. onde os cães, entre centenas de gerações, ainda não aprenderam a evitar. onde a lua impera sem parceria. e um carro ricocheteia nas crateras de uma dessas estradas secundárias federais e ali, dentro de um recipiente de aço, na cautela de não trincar nenhum dos molares, ou de um pedregulho largado de propósito no meio das faixas com o intuito de estraçalhar algumas rodas, alguém tenta escapar. a lua insiste. em silêncio. sempre. como uma senhora cansada na varanda. onde do pânico, que é algo que nunca se controla e sempre toma as rédeas, eu tento escapar. para não levantar suspeitas, arranco um dos fusíveis responsáveis pelos faróis, assim, meu maior temor se torna meu grande aliado, eu posso me guiar pelo breu noturno sob sua luz prateada. completamente apagado. nunca irão me encontrar. em terceira marcha, com o giro no talo, mantenho um olho na pista e outro no retrovisor. algo no porta-malas ainda respira com dificuldades, como um asmático trancado no porão. sob encomenda. pode-se dizer assim. até que acerto algo bem pesado com a lateral direita do Dodge Charger `74. o estrondo é tão forte que voam faíscas. o pneu estoura, tenho certeza pelo barulho. talvez a suspensão também tenha arriado, não garanto, pois não confiro. o veículo desliza para o lado contrário com violência, a borracha berra como se esfregasse o rosto de uma criança no cascalho. meu polegar esquerdo sai do lugar, mas consigo consertá-lo no calor. desço cambaleante e caio no mato seco que cerca a pista. não sei o que mais há ao redor. a lua lá, fitando tudo de braços cruzados. algo queima por dentro. escorre fogo pelas entranhas e pelos ouvidos. o rádio ligado numa estação errada. uma grande roubada.
O Largo da Batata à noite tem um clima bem noir. Dias atrás eu dei um pulo lá. fui procurar uma pessoa que não sabia aonde estava. apenas me dissera que era no Largo da Batata, num boteco com uma jukebox que tocava um forró sacana. já era bem tarde quando desliguei a ignição e deixei o carro deslizar até quase na esquina da Cardeal com a Cunha Gago. depois puxei o freio de mão e um cigarro. desci e tranquei o carro. caminhei rente ao muro e me encostei numa parede branca, debaixo de uma sombra formada pela luz do poste e pelo forro de alguma loja de macumba. apoiei minha breja no peitoral de uma janela e fiquei ali. haviam poucas pessoas nas ruas. elas eram enrugadas e sudoríparas como naqueles filmes. um grupo de 4 malucos passaram pela minha frente. eles estavam rindo de alguma coisa engraçadinha. eu não estava achando a menor graça. fazia tempo. eu esperava, foi quando lembrei da ficha do jukebox. o que ela fazia ali no meu bolso? comecei a me sentir como se estivesse numa história do Torpedo. desencostei e fui procurar outra lata. num boteco de azulejos azuis engordurados, perguntei se havia algo de errado com a máquina. Ixi, tá louco!, a mocinha de avental atrás do balcão disse, espantada hein - isso ai nunca funcionou. pois engoliu minha ficha, retruquei. a macacada toda riu. peguei uma nova lata e fui embora. voltei ao muro, às sombras. fiquei ali um bom tempo. jogando uma moeda para cima com ajuda do polegar. ela brilhava como lamina. uma moça baixa apareceu. de baton vermelho e lycra roxa.
- tá procurando alguma coisa? - ela perguntou com uma voz que parecia sair das entranhas do inferno.
- pode-se dizer que sim.
- o que você está fazendo aqui?
- acidente de percurso - respondi.
- E isso aqui, é pra mim? - ela arranca meu cigarro da boca e começa a tragá-lo, com um olhar bem de vagaba.
- devolve isso aqui, vagabunda - acelero, não tô pra palhaçada - tá achando o quê?
- Calma, moço!
- tô calmo.
- você não gosta de chupar uma bucetinha?
- você faz perguntas demais.
- Eu sei.
- eu não estou perguntando. estou afirmando isso.
- credo! só achei que você estivesse procurando um programa.
- não. dá licença.
fiquei ali mais um bom tempo. nem consigo me lembrar quanto. eu sabia que logo iria amanhecer. despertadores iriam tocar. e milhares de pessoas inundariam o terminal. fiquei ali mais um bom tempo. até que você apareceu. de vestido esvoaçante e um sorriso complicado no rosto. me fez perder o equilíbrio, mesmo encostado.
- demorei muito?
- égua!
- hã?
- nada. vamos embora.
e fomos assim.
- gastou a ficha? - ela ainda perguntou depois.
Friday, November 21, 2008
eu relaxei e estava pensando
afinal
se fugir
era uma boa idéia.
a primeira coisa que me lembro
depois disso,
foi que um bando de filhos da puta me seguravam.
opa!
eles gritavam:
calma calma
mas não calmei
nem fudendo.
escorreguei pelos braços. aquele monte de carne.
escapei. escorri pra caralho.
depois, relaxei. pensei e decidi,
afinal,
fugir é uma grande idéia.
escutava apenas meus passos,
e de fundo - antes das curvas -
alguns palavrões curtos ecoavam
pelas paredes dos galpões.
baixei a cabeça e continuei a correr.
olhava meus sapatos
no vice versa
minha respiração a falhar
foi me subindo um pânico pela culatra
eu suava como se estivesse derretendo
me dizia: te controla, parceiro,
corre mais um pouco
vai
então, encontrei uma garagem
lá não havia carro,
nada guardado
apenas um grande vaso
encostado na parede
me acocorei
escutava risadinhas
risadas de mulheres
aquilo lixava meus nervos
gelei
Tuesday, November 18, 2008
Severino aparece tarde. fedendo como de costume, inchado, com os olhos lacrimejantes e os ombros encolhidos, chega devagar depois que eu abro a porta e com sua voz pastosa pergunta:
- tem um cigarro?
- claro. entra.
ele me conta que o pai do Alexandre morrera de AVC e que depois do enterro todos foram beber à sua memória. disso eu já sabia. seu Jeferson, o pai do Alexandre, era um grande cara. passavámos muitas madrugadas em sua casa jogando cartas e tomando conhaque Presidente. a molecada toda. ele era sempre o mais animado. creio que fazia isso numa forma de nos manter longe das ruas. mas ele sempre perdia. perto das 5 da manhã, seu Jeferson se levantava e começava a lavar a louça da pia. era o sinal para que cada um arrumasse seu canto e dormisse. eu sempre capotava sobre um tapete felpudo que ficava no espaço entre a mesinha de centro e o móvel da televisão.
- porra, um monte de gente continua morrendo - Severino diz, parece muito triste.
- é. a morte está sempre presente.
- mas o Tex Willer continua firme e forte - ele diz isso enquanto aponta o indicador para a janela aberta.
- é.
- ele nunca envelhece...
- como está o Alexandre?
- ele queria saber de você. porra, creio que agora as coisas vão realmente fuder pro maluco. ele estava silencioso hoje, o tempo todo, talvez tentando pesar suas chances. tentei conversar, mas ele continuou quieto, dolorosamente sensível.
Alexandre é meu amigo desde à infância. crescemos juntos. seu pai tinha um Fiat 147. a gente conseguia abrir e ligar o carro com uma chave de fenda. aprendemos a dirigir nele, isso em 1986. de madrugada íamos pra Colina. lá havia um grande estacionamento ermo com árvores magricelas, onde casais trepavam em seus carros com os vidros embaçados. fazia sempre um frio danado, um vento que soprava pro leste. a gente ficava bebendo Presidente e fumando cigarros baratos, falavámos de bandas, das garotas, encostados no capô do carro e encolhidos dentro das jaquetas. cantavámos "fotografia 3 x 4" do Belchior com lágrimas nos olhos. naquele mesmo ano, sua mãe passaria cinco vezes pelo hospital, até morrer de ataque cardíaco de tanto fumar e beber.
- você devia ter ido ao enterro.
- eu sei. perdi a hora.
pela janela, vejo a vizinha estendendo um lençol para servir de cortina. privacidade após o banho. pela jeito ela se deu bem hoje e voltou cedo. na noite passada, bêbado, fiz uma serenata. eu cantava que por ela eu poderia mudar, juro, tudo para ficar ao seu lado pelo resto minha da vida. nem me lembro quando fui dormir. acabei perdendo a hora.
queria socar uma bronha
tô quase bom hein.
quase... naquelas
cansa fazer nada. daí desenho um pouco, leio bastante - mas abandonei os jornais - e fumo bastante também, e durmo às vezes. sinto falta das ruas e dos amigos. não vejo a hora de ficar bom e conseguir dar uma bica na bunda de todos. fico com o computador um pouco e dou uma trabalhadinha de leve, encaminhando os passos para quando melhorar mesmo; depois descobro músicas estranhas, coisas do Tampa Red e do Ry Cooder, Merle Travis, pesquiso as primeiras gravações do Elvis pela Sun Records e descubro que "Put your Cats Clothes On", do Carl Perkins, pode estourar meus pontos. descubro também que o álbum "Histoire de Melody Nelson", do Gainsbourg, pode me ajudar. minha cabeça está tranquila até. sinto-me tão saudável e tenho raiva disso, comi até bolo hoje. quero um garrafão de vinho e uma mesa de sinuca cercada de vagabundos. e que todos os comentaristas de futebol vão à merda, puxa vida.
Monday, November 17, 2008
Sunday, November 16, 2008
porra, eu deveria ter assistido "Marcado pelo Sarjeta" há muito tempo atrás, quando eu ainda era moleque e vasculhava os VHSs das locadoras atrás de filmes dessa linha, pelo fato de ser, exatamente, o tipo de filme que eu gosto, que trata desses desajustados sem esperança, putos, que vagam na merda até encontrarem uma borda para se agarrarem ou permanecem nela até afundar o queixo. esse filme conta a história do lutador de boxe Rocky Graziano, desde sua infância tranquêra matusquela, sua juventude de roubos e encarceramentos, até seu primeiro título mundial dos médios-ligeiros - numa revanche arranca-toco contra Tony Zale. o roteiro destrói, num ritmo ágil, inteligente, às vezes pesado noutras engraçado, de uma maneira que nem sonham em fazer mais hoje em dia; e têm as cenas em p&b da NY dos anos 40, que lembram uma graphic novel do Will Eisner e fazem a boca abrir e os dedos dos pés se encolherem. Paul Newman manda muito bem fazendo a persona de Graziano, um cara que carrega uma culpa autodestrutiva atrás da orelha, uma vontade de foder com tudo, de riscar a faca na cara dos otários, mesmo não sendo um sujeito mau, que no entanto, caminha pro lado errado com convicção. mas, eis que o destino não deixa que ele se foda assim, tão fácil, e coloca uma bela mulher(Pier Angeli) em seu caminho, que com muita astúcia, dá um jeito no campeão. A cena, antes da grande luta, em que ele confronta o pai brabo, é de lascar o mármore da alma. grande filme. bom pra assistir sozinho.
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desde já, recomendo essa entrevista com Miécio Caffé.
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Mitch Mitchell está morto. que bosta. o último remanescente do Jimi Hendrix Experience. um baterista que tinha problema de cabeça e muito estilo. um dos meus favoritos. aos 15 anos, eu fumava uma catronca e ficava de olhos fechados, estapeando minha coxas e batendo os dedos no ar, escutando o som desse cara, fingindo que era ele e que tinha uma multidão seminua me assistindo. estou fazendo isso agora mesmo.
"Bold as Love" - The Jimi Hendrix Experience
Friday, November 14, 2008
minha namorada, apesar dos ressentimentos, cuidou muito bem de mim nesses dias dolorosos. uma grande mulher que chamo de Pequena. quando cheguei na maca com rodas da sala de cirurgia, ela já me esperava no quarto, com um sorriso triste no rosto e as duas mão unidas em sinal de solidariedade. querida, ganhei uma xoxota pra gente, eu lhe disse.
muitas dias de insônia e noites em claro se passaram. é difícil dormir com um rasgo do tamanho de um lápis bem ao lado dos bagos. além disso, não consigo dormir olhando pro teto. não que eu durma de olhos abertos, mas a posição de defunto realmente detona as costas e me impede o desligamento. tento, em vão, girar levemente meu corpo pro lado esquerdo, até aguento alguns segundos, entretanto, a ferida late e eu volto pro tutankamon. mesmo assim, desde ontem, já consigo caminhar, aliás, é o que eu mais faço agora, apesar dos alertas. sentar é burrice. nos 3 dias que passei deitado, senti uma sensação semelhante a uma garrafa tampada de coca-cola chacoalhada. assim, caminho lentamente, pisando de leve e gemendo baixinho, como um zumbi, a diferença é que não levanto os braços pra frente nem tombo a cabeça pro lado. sou uma pessoa aflita, descobri.
li "A Arte de Produzir Efeito sem Causa", o novo livro do Mutarelli, ontem mesmo. gostei pra caralho. fiquei um tanto perturbado com o Júnior. e ainda tento descobrir quem enviava a porra daqueles pacotes. já à noite, assisti "O Cozinheiro, o ladrão, sua esposa e o amante", de Peter Greenaway. creio que essa combinação, mais as doses cavalares de antibióticos, analgésicos & antinflamatórios sejam os motivos do pesadelo mais horripilante que já tive em toda minha vida. dormi 1 hora e meia nessa última madrugada, e sonhei que era atacado, em diversas situações, por baratas voadoras no cio, policiais fardados cariocas e ex-mulheres que colocavam fogo nos meus cabelos e tentavam arrancar meus dedos no dente. acordei empapado de suor, com os olhos saltados e uma dor borbulhante na xoxota, como se vermes refestelassem na carne ainda fresca. fui à cozinha, enchi um copo de Tang laranja preparado na manhã anterior, acendi um cigarro e fiquei pensando: que merda. que merda, caralho. eu realmente levei a parada à sério, e quase rezei.
hoje fui ao médico. troquei meu curativo e na volta passei no Mercearia. tava um calor miserável. fiz uma coleta nas prateleiras e comprei mais uma cota de livros.
agora vou ler.
Tuesday, November 11, 2008
muita coisa:
saiu a XOK #2.
precisa baixar aqui.
mais informações no blog.
::
e a COYOTE #18 já está à espreita nas melhores livrarias.
::
a fantástica Fábrica de Animais se apresenta durante o mês inteiro no Teatro X.
não percam.
olha o cartaz do Kitagawa.
::
e a peça "Uma Pilha de Pratos na Cozinha" reestréia, no Satyrus I. francamente, uma martelada na nuca num quarto escuro. um frasco de calmantes vencido no estômago. não percam.
bem, ando pregado. passei o último mês com uma dor escrota na região dos bagos, algo semelhante à um alicate de unhas beliscando meus nervos. mas não alardeei. isso não é algo a se dizer para qualquer um: meus bagos doem! acho que estou sendo castigado pelos céus! mesmo assim, fui ao médico e esse me disse que tinha uma inflamação numa tal glândula do testículo direito. me passou uma porrada de remédios que comiam meu estômago e meu fígado, no entanto, as dores não passaram, pelo contrário, aumentaram e, enquanto corria pro hospital, com os colhões nas mãos e os pêlos arrepiados de dor, tive uma certeza: estou com um tumor. o doutor que me atendeu, um cara austero de bigode grisalho e belas sobrancelhas, me mandou baixar as calças e me examinou. uma apalpadinha aqui, outra ali. você tem hérnia inguinal, ele disse, e precisa ser operado logo, ele continuou, não é nada grave, frisou ao perceber meu semblante de desespero. assim, fiz uma porrada de exames que me picaram as veias e me fotografaram as entranhas, e é bem provável que eu entre na faca hoje. meu cacete vai continuar intacto e continuarei com colhões fortes e sadios e cheios de porra. peço aos amigos que relaxem, logo estarei de volta, apenas não me chutem o saco pelos próximos 2 meses, afinal isso é sacanagem.
::
alguém me falou assim: isso pra você aprender a sossegar. refleti como Groo e cheguei à conclusão: pode ser. acho que não. mas me agradar saber que poderei ficar dias deitado, lendo minhas edições de Ken Parker e assistindo minha pilha de dvds piratas, sem me preocupar com o que estou perdendo lá fora ou com aquele trampo que preciso entregar logo.
ou não.
peraí.
devo estar errado.
Wednesday, October 29, 2008
olhos sujos
Na minha casa as luzes estão sempre apagadas e as janelas fechadas. É a televisão sem volume que ilumina a sala e um pedaço do corredor com o brilho opaco dos comerciais de televendas de produtos para ginástica passiva rebatendo nas paredes. Ouço apenas o silêncio que ecoa e vibra no meu peito e enxergo em flashes. Minha avó, amaciada pelo tempo, com sua camisola azul claro com desenho de cavalinhos e suas pantufas gastas, dorme no sofá, com a cabeça pendendo levemente para o lado direito e o chá esfriando na xícara esquecida ao lado dos porta-retratos com fotos recortadas de revistas. Quando a escuridão chega lá fora, pego minha jaqueta de time de futebol americano e minhas chaves e saio pela cidade com meus olhos ofuscados pelo brilho das luzes elétricas. Sozinho, caminho. Fora do quarto, dentro do mundo. Beiro muros e murmuro uma canção que me traz lembranças de uma época mais iluminada, quando passeava pelos prados do Rancho Santa Fé à caça de sapos para jogar sal em suas costas acesas. Pelas ruas desertas do bairro, posso inventar alguém para andar ao meu lado, travando um diálogo inexistente sobre dedos amarelados pela nicotina e besouros que voam até uma janela fechada. Sobre discos solos de cantores desconhecidos. Sobre como recusar ajuda. Depois vamos ao armazém do chinês, onde escolho um vinho com preço acessível e rótulo ilustrado. Arranco algumas notas amassadas de dentro do bolso da jaqueta e lhe pago. Peço o saca-rolha emprestado e lhe agradeço. Invadimos o parque por um buraco na cerca e nos deitamos no gramado. Agora invento uma mulher bem estranha, dessas do interior, que gostam de deitar no meu braço e do meu pau envergado. Suas palavras são macias como sua pele. Digo que senti muito sua falta - apesar de nunca ter visto mais gorda - e peço-lhe que não me deixe mais, somente por esta noite. Acho que ela está sendo honesta quando diz tudo bem após baforar a fumaça do cigarro. O vinho tomba e tinge a grama de vermelho. Acordo para minha realidade distorcida. Silencioso como um mímico. Ecos da solidão que secam meu sangue. Indo para lugar nenhum e seguindo os movimentos dos meus olhos desnorteados como um lutador após o nocaute. Inventando companhia para evitar um desastre.
Thursday, October 23, 2008
hoje começa o Satyrianas, na Roosevelt, ou seja, se prepara. vou desenhar pro Gualberto, na HQ MIX. creio que isso deve ocorrer por volta das 19hs. ainda vão rolar uma pancadas de atrações que varam a madruga de todos os dias. confira no link.
::
e no começo do mês que vem, estréia Hotel Lancaster, com direção do Loureiro & uma pancada de amigos no elenco e na produção. pretendo passar lá pra conferir.
Thursday, October 16, 2008
Thursday, October 09, 2008
Hoje rola o Blues na Galeria, com Rodrigo Batello e o Flávio Vajman.
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Cagacinho. No sábado, participarei do VOCABULÁRIO, dos trutas Paulo Scott, Chacal, Marcelo Montenegro e Marcelino Freire. Lá no Bar_co. Nunca fiz nada parecido, rezo para não gaguejar nem suar muito.
Cagacinho. No sábado, participarei do VOCABULÁRIO, dos trutas Paulo Scott, Chacal, Marcelo Montenegro e Marcelino Freire. Lá no Bar_co. Nunca fiz nada parecido, rezo para não gaguejar nem suar muito.
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e, para alegria da criançada, nos dias 17, 18 e 19 de outubro, semana que vem, acontece a 15ª Fest Comix, a mais absurda feira de quadrinhos do Brasil. Lá você pode encontrar aquela ANIMAL que falta pra sua coleção, mangás obscuros em papel jornal, a Espada Selvagem com a capa do Liberatore, a coleção completa do LOBO SOLITÁRIO, muita coisa zerada e lançamentos com descontos de até 60%.
e, para alegria da criançada, nos dias 17, 18 e 19 de outubro, semana que vem, acontece a 15ª Fest Comix, a mais absurda feira de quadrinhos do Brasil. Lá você pode encontrar aquela ANIMAL que falta pra sua coleção, mangás obscuros em papel jornal, a Espada Selvagem com a capa do Liberatore, a coleção completa do LOBO SOLITÁRIO, muita coisa zerada e lançamentos com descontos de até 60%.
Data: 17, 18 e 19 de Outubro
Horário: 17 e 18 de Outubro das 10h às 20h / 19 de Outubro das 10h às 18h
Local: Centro de Eventos São Luís — Colégio São Luís
Endereço: Rua Luís Coelho, 323 — Estação Consolação do Metrô (ao lado da Padaria Bela Paulista)
Entrada: R$ 10,00* Meia-entrada: R$ 5,00
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Ontem, andando pela Teodoro, notei uma requenguela de camisa do Mickey listrada, com uma longa cabeleira escorrendo pelas costas e adornada de um belo dum buzanfã atravessando a rua. Nisso, o motoboy que estava parado no semáforo, solta de dentro do capacete:
- Nossa! Óia lá! Ae, lindona, cê num caga, cê lança bombom.
Horroroso, pensei, apertando o passo para chegar logo em casa.
Wednesday, October 08, 2008
sento
não é palhaçada
você acorda comigo
mas nunca me ouviu chorar
tento disfarçar
talvez seja errado - o que é certo?
esperar não é mudar
de vagar
estou cansado
apenas deitado
me apoio
durmo
para anoitecer
Friday, October 03, 2008
por onde errei
sob um amanhecer cinzento, estou unido aos desesperados do meu tempo, nas experiências destrutivas de uma grande cidade. sinto a aflição gelada de catraca percorrer minha veias. minha visão turva tenta definir os ângulos dos fios nos postes, das sarjetas carcomidas, dos primeiros ônibus com os letreiros ainda acesos. o rugir do tráfego acordando e meu silêncio de duas noites sem dormir. olho meu reflexo na porta de vidro de uma loja recém aberta e sinto uma prazer mundano por estar nas beiradas do inferno. jogo algo para trás sem perceber. olho lá. diaristas melancólicas com sacolas cheias esperam. viciados asmáticos de olhos fundos vagam numa busca sem fim ou motivo. mendigos enrolados em cobertores da cor do pavimento. eu. prostrado na manhã. o vento cortando por dentro. sem nome. com cheiro de cachorro molhado. sem medo e nada pra cantar. apenas estranho.
Tuesday, September 30, 2008
“Black and Evil Blues” – Alice Moore
I’m black and I’m evil, and I did not make myself (2x)
If my man don’t have me, he won’t have nobody else
I’ve got to buy me a bulldog, he’ll watch me while I sleep (2x)
Because I’m so black and evil, that I might make a midnight creep
I believe to my soul, the Lord has got a curse on me (2x)
Because every man I get, a no good woman steals him from me
If my man don’t have me, he won’t have nobody else
I’ve got to buy me a bulldog, he’ll watch me while I sleep (2x)
Because I’m so black and evil, that I might make a midnight creep
I believe to my soul, the Lord has got a curse on me (2x)
Because every man I get, a no good woman steals him from me
* aí, paulera essa negrinha. escutando isso no fone de ouvido parece até que o mundo sumiu. funciona.
aliás, consegui isso no sundayblues.org, um blog de blues em todas suas variações e épocas. ótimo para você, que, assim como eu, está ai sentado na frente do monitor, com uma mão no saco e outra no mouse, sem nada para fazer, vasculhar.
cachorro louco blues
eu não vou mentir, mãe. hoje vou passar a noite na rua. para procurar o desgraçado que roubou minha mulher e esfaquear os dois, fazê-los de picadinho. ao amanhecer, volto para casa e, no final da tarde, vou até o pastor pedir perdão. eu não vou mentir, mãe. sei que não sou um cara fácil de lidar, mas o que aquela vagabunda fez comigo não foi justo. e eu não vou aceitar os fatos como esses malditos corteses urbanos. pretendo consumar minha vingança e tentar a sorte em outro lugar. já tenho tudo preparado. eu não vou deixar barato. e não me importa o que os vizinhos vão falar. nem a foto dos cadáveres no jornal. eu não vou deixar barato. e não vou mentir, mãe. ando triste e definhado. contudo, vou me sentir bem melhor quando tudo isso acabar e eu estiver tomando meu trago.
Friday, September 26, 2008
no domingo
Clássicos do folk e "malditos" da MPB na Folk This Town - 28/09
Fechando o segundo mês da nova fase da Folk This Town (sempre no excelente Bar B), o dia 28 de setembro traz uma noite de homenagens, com dois projetos especiais mostrando clássicos folk (Donovan, Leonard Cohen) e os chamados "malditos" da MPB.
O Benção Maldita (trio formado por membros da banda Fábrica de Animais - a atriz Fernanda D´Umbra e os músicos Sérgio Arara e Flávio Vajman) prepara um show exclusivo com repertório em que homenageiam três dos grandes compositores "malditos" da MPB: o carioca Jards Macalé, o paulistano Itamar Assumpção e o capixaba Sérgio Sampaio.
Folk Sinister é um projeto do músico Ricardo Melo (da banda Le Rock Démodé), voltado ao folk norte-americano dos anos 60 e às suas reverberações no continente europeu. O repertório, cheio de clássicos, inclui canções de Simon & Garfunkel, do canadense Leonard Cohen e do escocês Donovan Leitch, além de alguns temas de sua própria autoria.
A festa
Tem festa pra tudo em São Paulo, não? Anos 90, electro-punk-house, hardcore caipira. Mas a metrópole não tem nenhuma noite dedicada ao folk e outras manifestações mais "tranqüilas" de música. Quer dizer, não tinha. A festa Folk This Town, projeto no Bar B, abre espaço para os violões, sussurros e um clima mais intimista - nada de "pista fervendo", o negócio é gente sentada, boa companhia e ótimo som. O projeto rola quinzenalmente, aos domingos e cedinho, sempre no Bar B (rua General Jardim, 43 - metrô República).
Na discotecagem, canções de gente como Grenade, Grateful Dead, The National, Neil Young, Belle & Sebastian, The Band, Cat Power, Moldy Peaches, The Byrds, Neutral Milk Hotel, Big Star, Bob Dylan, Son Volt, Nick Drake, Will Oldham e outros heróis do violão (plugado ou não). A festa abre às 18h, e os shows começam às 20h.
Folk This Town com Folk Sinister e Benção Maldita (http://folkthistown.wordpress.com/)
Bar B
Rua General Jardim, 43 (a 100m do metrô República)
Tel: 3129-9155Dia 28/09 (domingo)
A partir das 18h (Primeiro show a partir das 20h)
Entrada: R$ 5,00
Rodrigo Sommer
Wednesday, September 17, 2008
Na semana passada os nova-iorquinos do The Walkmen lançaram o álbum “You & Me”, e, assim, pode ir sossegado que é bom. Dessa vergonhosa safra de bandas de rock que apareceram nos últimos 12 anos, The Walkmen é uma das poucas que conseguem soar honestas e sem a afetação juvenil oligofrênica típica, principalmente, das bandas inglesas. Algumas músicas me trazem uma sensação semelhante a passar a noite de Natal sozinho. Escute “In the New Year” para me entender. Na verdade, foda-se.
“You & Me” – The Walkmen (via rapidshare)
::
Olha ai o Grampá
eu tenho a versão gringa que ganhei das mãos desse maldito - que vai desenhar o Constantine com roteiro do Brian Azzarello até o final do ano - e não empresto. por isso, passe lá para garantir o seu exemplar.
::
e eu estou na primeira edição da XOK.
a revista eletrônica que minha amiga Atena produziu sozinha.
aqui as infos:
XOK #01
NASCEU! Uma gestação de dois anos, mas finalmente consegui tirar do papel e jogar na rede uma publicação de arte que reune artistas - a primeira edição são 16 brazucas espalhados no mundo - de diversas formas de expressão.
A #01 traz os seguintes artistas:
JULIANA MANARAGINI,
O FELIPE e BIEL
CARLOS CARAH
ELUSA PRADO
SUSS4
FABIO SPAVIERI
BKLEEMANN
FONIX
LUCÓN
GIU GUERRA
VERIDIANA MORAES
GABRIELA DIAS
ATENA KASPER
DESIRÉE FRANCO
BEL KASPER
O Blog da XOK com todas as infos:
http://xokmag.wordpress.com/
Para Visualizar a revista sem fazer download:
http://www.flickr.com/atenakasper
O link para download gratuito da revista:
http://www.badongo.com/pt/file/11328273
ou
http://www.megaupload.com/pt/?d=1LS56JKT
“You & Me” – The Walkmen (via rapidshare)
::
Olha ai o Grampá
eu tenho a versão gringa que ganhei das mãos desse maldito - que vai desenhar o Constantine com roteiro do Brian Azzarello até o final do ano - e não empresto. por isso, passe lá para garantir o seu exemplar.
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e eu estou na primeira edição da XOK.
a revista eletrônica que minha amiga Atena produziu sozinha.
aqui as infos:
XOK #01
NASCEU! Uma gestação de dois anos, mas finalmente consegui tirar do papel e jogar na rede uma publicação de arte que reune artistas - a primeira edição são 16 brazucas espalhados no mundo - de diversas formas de expressão.
A #01 traz os seguintes artistas:
JULIANA MANARAGINI,
O FELIPE e BIEL
CARLOS CARAH
ELUSA PRADO
SUSS4
FABIO SPAVIERI
BKLEEMANN
FONIX
LUCÓN
GIU GUERRA
VERIDIANA MORAES
GABRIELA DIAS
ATENA KASPER
DESIRÉE FRANCO
BEL KASPER
O Blog da XOK com todas as infos:
http://xokmag.wordpress.com/
Para Visualizar a revista sem fazer download:
http://www.flickr.com/atenakasper
O link para download gratuito da revista:
http://www.badongo.com/pt/file/11328273
ou
http://www.megaupload.com/pt/?d=1LS56JKT
Monday, September 15, 2008
fora do lugar
ou
my mind is rambling*
Sob o céu laranja, caminho numa rua deserta com nome de mulher, de um bairro operário, que termina no horizonte. De lugar para lugar nenhum. Não me pergunte como me sinto. Não quero você por perto. Vejo a tarde cair com a temperatura. E não estou brincando. Um clima de fim de noite que se apressa. Um aperto no peito que finjo esconder. Montanhas de lixo acumuladas sob os postes. Tudo fica para trás. Do jeito que sempre deveria ser. Aos sábado aqui não há ninguém. Arrasto minhas solas pela calçada estreita do lado direito, bem rente ao muro de reboco aparente. As duas mãos no bolso. Ao meu redor, grandes galpões com pequenas janelas no topo e telhas de amianto. Não encontro razão, apenas um carro estacionado com a roda dianteira sobre a guia. Um Variant bege. Não existem interfones ou caixas de correio. Não existem mensagens ou nada que valha por aqui. Apenas portões e grades de metal. E a distância de casa. Tento me lembrar de dias que nunca aconteceram. Tudo. Estradas que não percorri. Amigos que nunca tive. Uma história que dormi antes do final. O vento sopra suave de um lugar distante. Em toda minha vida, sempre fui uma pessoa triste. Nascido para perder. Num bairro operário, minhas pernas cansam. E eu caminho sob o céu laranja que reflete nos portões de metal. De lugar para lugar nenhum. Onde nada acontece numa rua com nome de mulher.
* incessantemente, escuto essa música de Junior Kimbrough.
my mind is rambling*
Sob o céu laranja, caminho numa rua deserta com nome de mulher, de um bairro operário, que termina no horizonte. De lugar para lugar nenhum. Não me pergunte como me sinto. Não quero você por perto. Vejo a tarde cair com a temperatura. E não estou brincando. Um clima de fim de noite que se apressa. Um aperto no peito que finjo esconder. Montanhas de lixo acumuladas sob os postes. Tudo fica para trás. Do jeito que sempre deveria ser. Aos sábado aqui não há ninguém. Arrasto minhas solas pela calçada estreita do lado direito, bem rente ao muro de reboco aparente. As duas mãos no bolso. Ao meu redor, grandes galpões com pequenas janelas no topo e telhas de amianto. Não encontro razão, apenas um carro estacionado com a roda dianteira sobre a guia. Um Variant bege. Não existem interfones ou caixas de correio. Não existem mensagens ou nada que valha por aqui. Apenas portões e grades de metal. E a distância de casa. Tento me lembrar de dias que nunca aconteceram. Tudo. Estradas que não percorri. Amigos que nunca tive. Uma história que dormi antes do final. O vento sopra suave de um lugar distante. Em toda minha vida, sempre fui uma pessoa triste. Nascido para perder. Num bairro operário, minhas pernas cansam. E eu caminho sob o céu laranja que reflete nos portões de metal. De lugar para lugar nenhum. Onde nada acontece numa rua com nome de mulher.
* incessantemente, escuto essa música de Junior Kimbrough.
Thursday, September 11, 2008
Alicate
já faz uma cara
um período
um bom tempo
que me sinto seco. áspero.
como casca de ferida
como quadro negro
taco
falta-me concentração
ar
esses dias aí,
piorei
meu melhor amigo foi dar uma volta.
num domingo
numa noite
que dormi
e cansado acordei
sem miado
escutei carros
o barulho silencioso dos vizinhos
a chinela no assoalho
e então
veio o dia fatal
que dormi de novo
e acordei
no outro
descalço
empacado
descastrado
perdi meu amigo
o gato
fiquei chateado
quieto
vago
as avenidas choram
e eu sonho
com tragédias
atropelamentos
amizades que se vão
e pessoas que se fodam
Tuesday, September 09, 2008
O grande truta Rubens K, que agora é baixista do Fábrica de Animais, falou tudo sobre a Festa de Merda.
Passa lá no ótimo blog do cara.
Passa lá no ótimo blog do cara.
só posso dizer que foi
doidera.
::
E nesta quarta:
Bill Callahan se apresenta no StudioSP.
no dia seguinte, dá um pulo em Ribeirão Preto, segundo o Drag City.
::
E nesta quarta:
Bill Callahan se apresenta no StudioSP.
no dia seguinte, dá um pulo em Ribeirão Preto, segundo o Drag City.
sob efeito de remédios
quando era um fedelho, sempre achava piegas alguém chamar algo de lindo. hoje, no auge da minha sabedoria, até aqui, percebo que sou cego para esse tipo de coisa. talvez eu não seja um cara decente. apenas disse, que o nada pode ser lindo. como as poucas janelas abertas daquele edifício. talvez a fé tenha algo escondido, grande demais para ser enterrado. ou não querem enxergar de novo. nesse estágio, é difícil explicar porquê estava pensando em você quando pulei. agora, confinado nessa poltrona, tudo parece mais escuro. ninguém abre mais as janelas do edifício. é bem provável que poucos durmam tranqüilo a essa hora da madrugada. como os pássaros pendurados nos fios da rede elétrica. há muitas sirenes no meu bairro. sempre que alguma soa, sei que alguém sofre. pássaros perdem o equilíbrio, porém, eles possuem asas e um coração pequeno. eu não durmo agora. nem depois. penso nos idiotas que acham as coisas maravilhosas e fazem canções falando disso.
Tuesday, September 02, 2008
opa
sempre achei que estava andando pro lado errado
sempre achei isso
agora
hoje
é
tenho certeza
que a bifurcação
era
aquela lá
Wednesday, August 27, 2008
Friday, August 22, 2008
Há 33 anos, Elvis batia as botas em sua mansão. E pra comemorar, o blog boogie woogie flu colocou Dylan cantando Elvis e Elvis cantando Dylan.
Aqui vão duas que roubei.
“Don’t Think Twice, It’s Alright” – Elvis Presley
“Lawdy Miss Clawdy” – aqui Bob Dylan canta minha música favorita do Elvis
::
Hoje, no véio Merça:
Thursday, August 21, 2008
se liga
Entrada Franca> Duração: 3 horas> Noções básicas de fisiologia, técnicas diversas, manutenção & conservação do instrumento, a gaita cromática no blues, harmonia aplicada ao blues, dicas de improviso, percepção & apreciação musical, variações do blues, banda & palco, microfonação e muito mais!> Dia 23 de agosto, sábado, a partir das 14 horas> Centro de Estudos Musicais Rockabilly> Rua Rego Freitas, 512 - conj. 02> Reserve sua vaga: (11) 3151 5737.
Wednesday, August 20, 2008
tem uma criança morta na lavanderia
como se alguma coisa valesse a pena. esse exagero que não transborda um cinzeiro. o andarilho que toca o interfone de madrugada no escuro com um dos cadarços desamarrado. a música arranhada do caminhão de gás. e a vizinha que reclama escutando Cat Power e estudando para concursos enquanto fedelhos latem no térreo.
quê porra é essa, Clotilde?
nesta chafurda, alvejo. permaneço. senscolha. gostar de quem não gosta. como um melhor amigo que não existe. a espera numa fila que nunca chega tua vez. sem condições
e só lamentos. na paz que não acredito.
na próxima segunda,
farei uma campanha
para acabar comigo.
chega.
Thursday, August 14, 2008
insônia por opção
Na madrugada insone, ao invés de gastar as horas tateando o reboco das paredes de um labirinto escuro à procura de uma saída, perdido em meus pensamentos esquizofrênicos, com idéias que entram e saem sem a menor coerência, cato uma antiga história de Jerry Spring e seu amigo Pancho para folhear. Os dois atravessam o velho oeste e salvam uma família indígena. Um xerife mesquinho passa várias páginas perseguindo o grupo, mas acaba se fudendo no final. Depois Pancho enche a cara e se mete em encrenca numa estalagem, no entanto, tudo termina bem. Uma história bem simples, do jeito que eu gosto. Desisto da cama e ligo a TV. Nela passa uma luta de boxe entre dois pugilistas latinos peso pena. A luta é frenética. Parecem duas formigas saúvas disputando uma casca de pão. Os caras são rápidos, aquilo me acende ainda mais. Levanto e fico treinando jabs e cruzados e ganchos no meio da sala. Canso. Sou meu pior adversário. No outro canal, um jogo de vôlei entre Brasil e Rússia e, apesar do narrador e do comentarista expressarem efusivamente que a seleção nacional é muito melhor que qualquer outra nas Olimpíadas, o time perde dois sets seguidos. Canso. Mas não tenho sono. Pego a chave do carro e parto num passeio pelo meio da noite. Desço até a Marginal Pinheiros. A chuva fraca estala no pára-brisa. Ninguém nas ruas. O asfalto molhado reflete o brilho elétrico da cidade. Cruzo caminho com uma viatura totalmente apagada. Entro na expressa acelerando forte. O motor ronca alto. Tentaram levar meu carro na semana passada. Não conseguiram, mas arrancaram metade do painel para levar o som. Carro sem som é como mulher menstruada, é bom, mas complicado de aproveitar o passeio. Agora a música sai dos escapamentos, ou da minha mente, onde vasculho em meu jukebox alguma coisa pra espantar os pensamentos. Encontro Patsy Cline nas gavetas abarrotadas da cachola, ela canta “Shoes” pra mim. Entro na saída pra Castelo Branco. Faço a curva sobre o viaduto a toda. O carro parece querer se perder. Entro em Osasco que parece uma cidade fantasma. São 4:03 da madrugada. Estaciono numa avenida chamada Sport Club Corinthians. Acho tudo isso muito estranho, mas não perco meu tempo matutando. Uma motoca passa zunindo do outro lado, o cara que guia está todo encolhido. A chuva continua, de leve. Faz muito frio. Caminho até um butiquim ao lado de uma borracharia. Os azulejos azuis da parede atrás do balcão escorrem gordura. Um bebum dorme encostado numa geladeira. Um senhor de bigode grisalho e óculos de lentes grossas, com uma camisa da cor dos azulejos, parecida com a dos antigos cobradores de ônibus, me serve uma cerveja trincando. Esfrego uma mão na outra a fim de aquecê-las antes de pegar a garrafa. Vou até uma mesa na calçada debaixo de uma marquise. Encho meu copo e faço um brinde a mim mesmo. Uma homenagem ao grande filho da puta que eu sou. Hoje é meu aniversário.
Monday, August 04, 2008
merda é um estado natural
Fui até Brasília na semana passada. A cidade que nasci. Fazia tempo que eu não dava as caras por lá. Foi estranho. Cheguei quase de madrugada, na última quarta, e fiquei sentado na varanda do hotel olhando a cidade lá de cima. Suas luzes laranjas dançando no horizonte como chamas. Os carros sibilando pelas estruturais e os ônibus noturnos com poucas pessoas dentro. Quase ninguém nas ruas. Fiquei observando os amplos gramados cinzas como o calçamento no inverno. No meu silêncio, senti uma saudade morta. Da época que eu andava por ali, quando tinha poucos amigos e nenhuma mulher. Uma tristeza profunda me assolou. Fiquei pensando no monstro que me tornei.
:
Cheguei a São Paulo ontem no começo da madrugada. Estava pregado após rodar 3000 quilômetros em 5 dias. Mesmo com os olhos fechados ainda conseguia ver o mar de faróis que encarei na Anhanguera. Em casa, sentei no sofá e comecei a coçar o saco com força. Um marimbondo picou meu ombro e o calombo latejante me incomodava. Minha mulher subiu e desabou na cama. Fiquei encarando o dedão do meu pé e pensando em como ele é feio. Nisso, notei a falta de Alicate. Por onde andaria aquele gato filha da puta?, pensei. Sentia sua falta. Continuei trabalhando no saco e fazendo planos que esqueceria na manhã seguinte. Tive idéias obscenas, acho. Eram umas 3 e meia da manhã quando tudo apagou. Se num momento encarava o teto, no outro não enxergava nada. Um breu do caralho. Procurei o isqueiro na mesa apalpando tudo e derramei um copo de suco pela metade. Cachorros latiam na vizinhança. O alarme de uma produtora na rua debaixo disparou. Na escuridão, encontrei o isqueiro e o acendi. Fiquei parado olhando a chama, pensando em como sou imbecil, até queimar a ponta do dedo. Lá fora tudo estava apagado, os postes, os prédios e as casas. Decidi dormir.
Acordei hoje com minha Pequena reclamando com o gato. Desci e encontrei um baita cagalhão no piso da cozinha. Outro, esse mole como mingau, estava embaixo da mesa. Alicate dormia em sua almofada encardida.
- Caralho, quê que isso, seu filho da puta? – eu berrei. – Encheu minha casa de merda!
O gato fingiu que não era com ele.
- Qualé, parceiro, eu to falando com você – tentei mais uma vez -, tu mora aqui, come dorme e agora quer melar meu chão de bosta assim?!
Nada. Daí, perdi a esportiva. Peguei o vagabundo pelo pescoço e afundei seu focinho na merda.
- Isso aqui é errado – eu grunhia tentando explicar aquela merda toda.
- Larga ele! Larga ele, caralho! – minha mulher gritava na minha orelha esquerda.
Arremessei o gato pra trás, mas ele acertou a porta e caiu arriado com as patas para cima.
- Miaurrrrrrrrrrrrr!!! – ele soltou um gemido do fundo das entranhas.
- Ai, caralho, matei o gato... – pensei, ou disse, não lembro. Entrei em choque.
- AAAHHHHH!! AHHHH!! - minha mulher perdeu o controle –, você matou o gato! Matou gato!
- Cala a boca! Cala a bocaaaa! - me descontrolei – Olha aí, fiquei histérico também.
O escarcéu estava formado. Corri até o gato e notei que o problema era outro. Seu pêlo estava imundo e suas costas cheias de feridas. Alicate andou se arrebentando pelas ruas. Peguei ele no colo e seus miados aumentaram.
– Coitado – disse pra minha mulher –, o Alicate tá zuado.
Larguei-o no chão. Ele se arrastava como um senhor consumido pela vida. Fui até a vizinha perguntar o quê o bichano andou fazendo nos dias que fiquei fora.
– Olha – ela disse –, seu gato quase não deu as caras. Coloquei comida todos os dias, mas encontrei ele apenas na sexta. Tinha algo estranho.
Liguei para minha mãe que é veterinária e lhe contei o ocorrido. Segundo ela, ou ele foi envenenado pelo Sistema ou apenas comeu alguma porcaria estragada em suas perambulações noturnas. Daí me passou um remédio para limpar o bichano por dentro.
Porra, fiquei num remorso foda. Ainda estou. Fiquei pensando que aqueles dois cagalhões na cozinha poderiam ter sido apenas uma forma de chamar nossa atenção, que nem um bebê que se esgoela quando está todo assado, ou um moleque que corta os pulsos no banheiro enquanto a família assiste TV.
Espero que Alicate sobreviva.
:
Cheguei a São Paulo ontem no começo da madrugada. Estava pregado após rodar 3000 quilômetros em 5 dias. Mesmo com os olhos fechados ainda conseguia ver o mar de faróis que encarei na Anhanguera. Em casa, sentei no sofá e comecei a coçar o saco com força. Um marimbondo picou meu ombro e o calombo latejante me incomodava. Minha mulher subiu e desabou na cama. Fiquei encarando o dedão do meu pé e pensando em como ele é feio. Nisso, notei a falta de Alicate. Por onde andaria aquele gato filha da puta?, pensei. Sentia sua falta. Continuei trabalhando no saco e fazendo planos que esqueceria na manhã seguinte. Tive idéias obscenas, acho. Eram umas 3 e meia da manhã quando tudo apagou. Se num momento encarava o teto, no outro não enxergava nada. Um breu do caralho. Procurei o isqueiro na mesa apalpando tudo e derramei um copo de suco pela metade. Cachorros latiam na vizinhança. O alarme de uma produtora na rua debaixo disparou. Na escuridão, encontrei o isqueiro e o acendi. Fiquei parado olhando a chama, pensando em como sou imbecil, até queimar a ponta do dedo. Lá fora tudo estava apagado, os postes, os prédios e as casas. Decidi dormir.
Acordei hoje com minha Pequena reclamando com o gato. Desci e encontrei um baita cagalhão no piso da cozinha. Outro, esse mole como mingau, estava embaixo da mesa. Alicate dormia em sua almofada encardida.
- Caralho, quê que isso, seu filho da puta? – eu berrei. – Encheu minha casa de merda!
O gato fingiu que não era com ele.
- Qualé, parceiro, eu to falando com você – tentei mais uma vez -, tu mora aqui, come dorme e agora quer melar meu chão de bosta assim?!
Nada. Daí, perdi a esportiva. Peguei o vagabundo pelo pescoço e afundei seu focinho na merda.
- Isso aqui é errado – eu grunhia tentando explicar aquela merda toda.
- Larga ele! Larga ele, caralho! – minha mulher gritava na minha orelha esquerda.
Arremessei o gato pra trás, mas ele acertou a porta e caiu arriado com as patas para cima.
- Miaurrrrrrrrrrrrr!!! – ele soltou um gemido do fundo das entranhas.
- Ai, caralho, matei o gato... – pensei, ou disse, não lembro. Entrei em choque.
- AAAHHHHH!! AHHHH!! - minha mulher perdeu o controle –, você matou o gato! Matou gato!
- Cala a boca! Cala a bocaaaa! - me descontrolei – Olha aí, fiquei histérico também.
O escarcéu estava formado. Corri até o gato e notei que o problema era outro. Seu pêlo estava imundo e suas costas cheias de feridas. Alicate andou se arrebentando pelas ruas. Peguei ele no colo e seus miados aumentaram.
– Coitado – disse pra minha mulher –, o Alicate tá zuado.
Larguei-o no chão. Ele se arrastava como um senhor consumido pela vida. Fui até a vizinha perguntar o quê o bichano andou fazendo nos dias que fiquei fora.
– Olha – ela disse –, seu gato quase não deu as caras. Coloquei comida todos os dias, mas encontrei ele apenas na sexta. Tinha algo estranho.
Liguei para minha mãe que é veterinária e lhe contei o ocorrido. Segundo ela, ou ele foi envenenado pelo Sistema ou apenas comeu alguma porcaria estragada em suas perambulações noturnas. Daí me passou um remédio para limpar o bichano por dentro.
Porra, fiquei num remorso foda. Ainda estou. Fiquei pensando que aqueles dois cagalhões na cozinha poderiam ter sido apenas uma forma de chamar nossa atenção, que nem um bebê que se esgoela quando está todo assado, ou um moleque que corta os pulsos no banheiro enquanto a família assiste TV.
Espero que Alicate sobreviva.
Thursday, July 24, 2008
dirty versions
o We Versus the Shark acaba de lançar um disco.
aqui uma migalha dele:
We Versus The Shark – “Mr. Ego Death“
aqui uma migalha dele:
We Versus The Shark – “Mr. Ego Death“
Friday, July 18, 2008
eu não sou um cidadão
ando espirrando pra caralho. talvez seja o clima seco. meus olhos estão lacrimejando pus. quando acordo e antes de dormir. não durmo há dias. apenas vejo tudo embaçado. como num filme ruim. estou asmático. e peidando como um escapamento de carro velho irregular. talvez seja o clima seco. desço a Consolação com meu telefone tocando à cobrar. alguns se preocupam com a nova lei. os revolucionários de hoje usam gravata e perfume e são egoístas. comem mulheres obesas e tentam se justificar o tempo todo. eles roubam miseráveis. estaciono na Roosevelt, desligo o som e desço do carro. um mendigo me interpela. uma moeda? soco a mão no bolso, fuço e encontro 10 centavos. jogo em sua palma. ele confere e me encara. vira as costas e vai. minha boca está seca, parece que comi bosta de vaca. arrisco um cuspe. prestobarba. ando mais 30 passos e outro um maluco aparece, cheio de suspeita dessa vez. ele caminha sacudindo os braços como um daqueles bonecos infláveis de posto de gasolina. uma moeda? dessa vez eu encaro lá no fundo da alma, com a vista embaçada, bem de perto, no bafo, pra enxergar melhor. estou bem cansado. apanharia fácil. mas, eu, não sou comédia. parece que comi bosta de vaca. talvez seja o clima seco. ou minha sede de machucar quem me cobra curvado com os olhos revirados. tento continuar minha rota, mas ele puxa meu ombro esquerdo, numas de intimidar, só que ao invés disso, enfurece e impulsiona. meu braço direito faz um arco e acerta sua mandíbula. ele cai. e tenta me chutar com as duas pernas ricocheteando no ar como duas mangueiras cheias d'água sem dono. seguro elas. e pressiono meu pé direito bem nos bagos. puxo suas canetas pra trás e afundo a sola. vai. digo eu. vai. tem uma moeda? nem eu. acabou. solto o infeliz que murcha como se tivessem desligado o compressor, ou a torneira, vai saber. continuo minha caminhada. tudo fechado. uma viatura passa com os faróis apagados, bem devagarinho, quase não percebo. procuro outra moeda no bolso em vão. saco um cigarro e acendo. na esquina da kilt um agroboy acelera sua S10 num showzinho particular que ninguém percebe. olho pro céu e vejo a lua. parece um buraco pro outro lado.
Thursday, July 17, 2008
Tuesday, July 15, 2008
Mostra a rola
Amanhã encaro o Parque Antártica para assistir Palmeiras x Fluminense.
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A Conrad já colocou em pré-venda o novo volume com as tiras de Calvin & Haroldo, “Yokon Ho!”.
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E o Pre War Blues ou Honey, Where You Been So Long?, um dos melhores blogs de MP3 que eu conheço, disponibilizou uma seleção batizada de “Introduction to the Blues Part 1”. Uma pacoteira fina, só com fêmeas do blues, nomes como Memphis Minnie, Bessie Smith, Trixie Smith e uma pá de outras obscuras que nunca ouvi falar, tudo da primeira metade do século passado. Ótimo para ouvir sozinho na madrugada, assistindo a brasa do cigarro queimar na beirada na mesa de centro enquanto mutretas diversas ocorrem na esquina de baixo.
Aqui.
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O tablóide inglês The Sun anda caindo em cima do Ronaldo. Dizem que ele está grávido. Entretanto, creio que Ronaldo esteja apenas comendo bem e aproveitando a vida. Ele merece. Quem não merece? Além disso, ele ajudou o Brasil a fuder os ingleses nas quartas-de-final de 2002, aliás, ainda ganhou aquela Copa. Até entendo que qualquer futrica é motivo de notícia praquela porcaria de jornal, mas ficar pelando o saco do maluco, que tá na dele, é foda. O cara é apenas o maior artilheiro de todas as Copas. Eu gosto dele. Um vez encontrei o dentuço andando de braços dados com Cicarelli, ali na Oscar Freire. Eu estava completamente imundo após dois dias sórdidos pelas ruas e queria tomar um banho de loja por ali, na verdade, acho que fui encontrar uma guria que trabalhava numa butique ali, bem, isso não importa. Só sei que quando enxerguei o fenômeno na calçada, já cheguei chegando: "Ronaaaldo, Ronaldo, porra, tu é meu ídalo, cara! Quandé que cê vai jogar no Fluminense? Fala aí". Nunca, ele respondeu. Dei um tapa nas costas dele, que me olhou feio. Cicarelli parmaneceu de cabeça baixa o tempo todo, talvez com medo de me mostrar aquela cara de safada. Logo em seguida, uma cambada de velhotas apareceu abraçando Ronaldo. Ele atendeu todas na maior simpatia. Grande cara.
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A Conrad já colocou em pré-venda o novo volume com as tiras de Calvin & Haroldo, “Yokon Ho!”.
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E o Pre War Blues ou Honey, Where You Been So Long?, um dos melhores blogs de MP3 que eu conheço, disponibilizou uma seleção batizada de “Introduction to the Blues Part 1”. Uma pacoteira fina, só com fêmeas do blues, nomes como Memphis Minnie, Bessie Smith, Trixie Smith e uma pá de outras obscuras que nunca ouvi falar, tudo da primeira metade do século passado. Ótimo para ouvir sozinho na madrugada, assistindo a brasa do cigarro queimar na beirada na mesa de centro enquanto mutretas diversas ocorrem na esquina de baixo.
Aqui.
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O tablóide inglês The Sun anda caindo em cima do Ronaldo. Dizem que ele está grávido. Entretanto, creio que Ronaldo esteja apenas comendo bem e aproveitando a vida. Ele merece. Quem não merece? Além disso, ele ajudou o Brasil a fuder os ingleses nas quartas-de-final de 2002, aliás, ainda ganhou aquela Copa. Até entendo que qualquer futrica é motivo de notícia praquela porcaria de jornal, mas ficar pelando o saco do maluco, que tá na dele, é foda. O cara é apenas o maior artilheiro de todas as Copas. Eu gosto dele. Um vez encontrei o dentuço andando de braços dados com Cicarelli, ali na Oscar Freire. Eu estava completamente imundo após dois dias sórdidos pelas ruas e queria tomar um banho de loja por ali, na verdade, acho que fui encontrar uma guria que trabalhava numa butique ali, bem, isso não importa. Só sei que quando enxerguei o fenômeno na calçada, já cheguei chegando: "Ronaaaldo, Ronaldo, porra, tu é meu ídalo, cara! Quandé que cê vai jogar no Fluminense? Fala aí". Nunca, ele respondeu. Dei um tapa nas costas dele, que me olhou feio. Cicarelli parmaneceu de cabeça baixa o tempo todo, talvez com medo de me mostrar aquela cara de safada. Logo em seguida, uma cambada de velhotas apareceu abraçando Ronaldo. Ele atendeu todas na maior simpatia. Grande cara.
Friday, July 11, 2008
Burro Morto
Tuesday, July 08, 2008
Bem, após convite do truta Nick Farewell, juntei os trapos e arrisquei minha primeira visita à FLIP em Paraty. Confesso que minha maior preocupação, sem dúvida, era a final da Libertadores, assunto um tanto atrasado, mas que acabou por fuder minha paciência logo na abertura da tal festa literária. Após a derrota do meu time, meu ânimo sumiu. Roí todas as unhas que meus dentes alcançavam e pensei em estrangular um gringo falastrão que insistia em tentar falar português comigo durante o jogo. Cercado por felizbertos entusiasmados e obesas flamenguistas, preferi me recolher no chalé de pau que eu estava hospedado com minha Pequena. No dia seguinte, nos juntamos a um grupo de amigos e fomos à Trindade. Como nunca havia pisado naquelas praias antes, temia encontrar algum hippie defecando na areia ou mulheres alucinadas com tranças nos suvacos escutando Juthro Tull, entretanto, a costa estava vazia como na época do Descobrimento, alguns cães de donos aleatórios apareciam e ficavam me encarando. O cenário estava perfeito não fosse o vento que soprava gelado. Um pulo no mar servia mais para autoflagelação que para desfrute próprio. Na sexta, fomos munidos de substâncias proibidas, muita vodca e pouca vergonha para a mesma praia. Despirocamos na areia até o sol desaparecer e tudo tornar-se impossível de encontrar num breu féladaputa. Caminhamos perdidos até dar de cara com um bar que parecia mais uma loja que artigos de umbanda, lá arrancamos uma espécie de música indiana do som e colocamos nossas velharias para tocar. Bebidas desciam como uma avalanche liquida e o grau de loucura era tamanho que fica difícil explicar aqui. Consigo me lembrar que de 5 em 5 minutos eu corria até o mar para descarregar a bexiga. Lembro também de caiçaras carrancudos me encarando enquanto eu tentava em vão me manter de pé. Em certos momentos, achei que fosse morrer naquela porra de praia, ou que os donos do bar fossem nos surrar quando a conta aparecesse e a gente não tivesse a grana. Esse role só terminou na manhã do dia seguinte, no sábado, dia que Neil Gaiman ia dar as caras na FLIP, tinha Chacal e Marcelino no Picaretagem e uma pancada de festas com felizbertos entusiasmados e obesas flamenguistas esperando. Preferi ficar trancado no quarto lendo o pacote de quadrinhos que havia adquirido com a Via Lettera a andar desequilibrado pelas ruas atulhadas do Centro Histórico. Eu estava exausto e os borrachudos pareciam se aproveitar disso. O domingo foi como todos os domingos. Eu não queria voltar pra São Paulo. Por mim, ficaria na Estrada Real, que termina ali em Paraty, pegaria o carro e sumiria, no entanto, sou um cagalhão e a vida chama e bafômetros soam nos comandos dessa cidade e eu só me entrego morto. Sempre que planejo descansar, termino mais arrebentado ainda.
Tuesday, June 24, 2008
fora de moda
Ando postando pouco por aqui. Sequer acessei direito internet esses dias. Por mim, tudo bem, até aqui. No entanto, aproveito o frio e esse final de mês junino e o ensejo dessa onda caipira para falar de algo que venho escutando incessantemente:
Era uma vez, há muito muito tempo atrás, no ano de 1937, num vilarejo nos arredores do grande estado do Texas, quando o mundo era um pouco mais vazio e as grandes guerras eclodiam no Velho Mundo, quando os rios ainda eram limpos e as mulheres se vestiam melhor sem o auxílio de espelhos, uma cambada de moleques caipiras, de calças curtas e puídas e os dedos amarelados pelo tabaco e rapé, que tinham em comum o gosto pela música de Jimmie Rodgers, Bob Wills e Woody Guthrie. Um belo dia, esses vagabundos se juntaram num barracão e resolveram gravar um som, um hillbilly do caralho, para ser mais específico, já que naquela época, o termo country music nunca fora usado, e o estilo estava começando a criar asas após o primeiro lançamento de Jimmie Rodgers, 10 anos antes. Ben Pollack, Irving Fazola e Mugsy Spanier eram ratos do jazz, vistuosos e cheios de panca, já Maggsy Spanier, Ben Kanton, Joe Price e Francis Palmer, gostavam mesmo era de Western Swing, uma espécie de country dançante, cheio de improvisos e muitos músicos tocando juntos, num fuzuê só, daqueles que as damas no salão ficam dançando segurando as saias enquanto os marmanjos batem o salto da bota no assoalho ao mesmo tempo em que atolam o chapéu na cabeça. A turma, mal resolvida com o microfone, convida então Whitey McPherson, um molequinho magricela de 14 anos, um verdadeiro virgulino, para cantar numa sessão em que gravariam 15 músicas. Escutando a voz de McPherson, é fácil enxergá-lo como uma rapariga frágil de vestido florido e butina de couro marrom por causa de sua voz, que invoca ares de uma Billie Holiday yordeler. A forma como ele transforma um desafino em algo agradável como uma brisa é impressionante. Segundo o blog Western Swing, o Rhythm Wreckers praticamente fez apenas essas gravações e depois cada um foi pro seu canto. Mugsy Spanier, o rapaz responsável pela corneta da banda, suvaco de cobra que era, disse que sequer escutou as fitas depois de gravadas, e que a banda era um fracasso. Depois disso, Whitey McPherson ainda foi apadrinhado por Woody Guthrie, que o levou para Tijuana para se apresentar em seu programa de rádio. A última notícia que se tem do rapaz é que ele foi servir na Índia, em 1944. Big Tom, também conhecido como Tonhão, um negro de dois metros de altura e poucos dentes na boca, lembrou, numa noite farta de Bourbon, que McPherson era mais conhecido nas planícies texanas pelo seu gosto por ovelhas que pelos seus dotes de cantor hillbilly. No arquivo abaixo está disponibilizado essas raras gravações, que eu roubei do Western Swing. É difícil explicar a satisfação que sinto escutando essas antigas canções, que são cópias feitas diretamente de raros vinis de colecionadores. Apenas deito no sofá e aprecio esse jogo de solos, quando, na safadeza, entra o violino escorregando por cima; outrora quem manda é o clarinete; daí a guitarra de Joe Price aparece na maciota enquanto o violão faz a base marota. Algumas canções me remetem à antigos desenhos animados em preto & branco, outra me fazem sentar numa varanda de uma chácara há muito desaparecida, pouca iluminada, para cortar as unhas dos pés com um alicate enferrujado, numa noite fresca com alguns vagalumes que voam descompromissados pelo matagal ao redor. “Am I Blue” é a mosca branca desse disco. Quando McPherson pergunta se ele é triste depois que ela foi embora, sinto vontade de rir. Essa música, escrita por Harry Akst e Grant Clarke em 1929, depois seria gravada por Ella Fitzgerald, Billie Holliday e Etta James, no entanto, nenhuma dessas versões parece contar com o deboche e o swing dos Rhythm Wreckers. “Blue Yodel No.2 (My Lovin' Gal Lucille)” coloca uma guitarra viajante em primeiro plano, até que MacPherson entra num vocal jazzístico rasgado lamuriento que, esperto, se transforma em uivos para a lua cheia de outono. Perfeito.
Rhythm Wreckers - via mediafire
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Aproveitando, dêem uma passada no MySpace dos parahybanos do Burro Morto - esse nome de banda é foda – para conferir o ótimo som dos caras. Em breve mais informações sobre o show que eles vão fazer aqui com os mamelucos do Cicrano.
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E o Diddy Wah disponibilizou uma sonzera infernal do Fela Kuti lá em seu sítio. Se eu fosse vosmecê, passava lá e fazia o refestelo.
Era uma vez, há muito muito tempo atrás, no ano de 1937, num vilarejo nos arredores do grande estado do Texas, quando o mundo era um pouco mais vazio e as grandes guerras eclodiam no Velho Mundo, quando os rios ainda eram limpos e as mulheres se vestiam melhor sem o auxílio de espelhos, uma cambada de moleques caipiras, de calças curtas e puídas e os dedos amarelados pelo tabaco e rapé, que tinham em comum o gosto pela música de Jimmie Rodgers, Bob Wills e Woody Guthrie. Um belo dia, esses vagabundos se juntaram num barracão e resolveram gravar um som, um hillbilly do caralho, para ser mais específico, já que naquela época, o termo country music nunca fora usado, e o estilo estava começando a criar asas após o primeiro lançamento de Jimmie Rodgers, 10 anos antes. Ben Pollack, Irving Fazola e Mugsy Spanier eram ratos do jazz, vistuosos e cheios de panca, já Maggsy Spanier, Ben Kanton, Joe Price e Francis Palmer, gostavam mesmo era de Western Swing, uma espécie de country dançante, cheio de improvisos e muitos músicos tocando juntos, num fuzuê só, daqueles que as damas no salão ficam dançando segurando as saias enquanto os marmanjos batem o salto da bota no assoalho ao mesmo tempo em que atolam o chapéu na cabeça. A turma, mal resolvida com o microfone, convida então Whitey McPherson, um molequinho magricela de 14 anos, um verdadeiro virgulino, para cantar numa sessão em que gravariam 15 músicas. Escutando a voz de McPherson, é fácil enxergá-lo como uma rapariga frágil de vestido florido e butina de couro marrom por causa de sua voz, que invoca ares de uma Billie Holiday yordeler. A forma como ele transforma um desafino em algo agradável como uma brisa é impressionante. Segundo o blog Western Swing, o Rhythm Wreckers praticamente fez apenas essas gravações e depois cada um foi pro seu canto. Mugsy Spanier, o rapaz responsável pela corneta da banda, suvaco de cobra que era, disse que sequer escutou as fitas depois de gravadas, e que a banda era um fracasso. Depois disso, Whitey McPherson ainda foi apadrinhado por Woody Guthrie, que o levou para Tijuana para se apresentar em seu programa de rádio. A última notícia que se tem do rapaz é que ele foi servir na Índia, em 1944. Big Tom, também conhecido como Tonhão, um negro de dois metros de altura e poucos dentes na boca, lembrou, numa noite farta de Bourbon, que McPherson era mais conhecido nas planícies texanas pelo seu gosto por ovelhas que pelos seus dotes de cantor hillbilly. No arquivo abaixo está disponibilizado essas raras gravações, que eu roubei do Western Swing. É difícil explicar a satisfação que sinto escutando essas antigas canções, que são cópias feitas diretamente de raros vinis de colecionadores. Apenas deito no sofá e aprecio esse jogo de solos, quando, na safadeza, entra o violino escorregando por cima; outrora quem manda é o clarinete; daí a guitarra de Joe Price aparece na maciota enquanto o violão faz a base marota. Algumas canções me remetem à antigos desenhos animados em preto & branco, outra me fazem sentar numa varanda de uma chácara há muito desaparecida, pouca iluminada, para cortar as unhas dos pés com um alicate enferrujado, numa noite fresca com alguns vagalumes que voam descompromissados pelo matagal ao redor. “Am I Blue” é a mosca branca desse disco. Quando McPherson pergunta se ele é triste depois que ela foi embora, sinto vontade de rir. Essa música, escrita por Harry Akst e Grant Clarke em 1929, depois seria gravada por Ella Fitzgerald, Billie Holliday e Etta James, no entanto, nenhuma dessas versões parece contar com o deboche e o swing dos Rhythm Wreckers. “Blue Yodel No.2 (My Lovin' Gal Lucille)” coloca uma guitarra viajante em primeiro plano, até que MacPherson entra num vocal jazzístico rasgado lamuriento que, esperto, se transforma em uivos para a lua cheia de outono. Perfeito.
Rhythm Wreckers - via mediafire
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Aproveitando, dêem uma passada no MySpace dos parahybanos do Burro Morto - esse nome de banda é foda – para conferir o ótimo som dos caras. Em breve mais informações sobre o show que eles vão fazer aqui com os mamelucos do Cicrano.
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E o Diddy Wah disponibilizou uma sonzera infernal do Fela Kuti lá em seu sítio. Se eu fosse vosmecê, passava lá e fazia o refestelo.
Monday, June 23, 2008
Eu não sei me despedir. Cruzei a ponte que ligava nossos bairros pensando nisso. Já estava bem tarde. Meus sapatos raspavam as pedras no chão. Do outro lado, um homem empurrava um carrinho de bebê. Bem tarde pra passear. Eu apenas fugia. Como sempre. As águas do rio estavam escuras como lodo, e refletiam a luz da Lua. Nem olhei pra trás, apenas pensava no por que de não saber me despedir sem quebrar alguma coisa. Você também não perguntou nada. Com um punhado de reais no bolso, fui direto pra estação. Lá encontrei Rose, que trabalha no bar no período noturno. Contei que ia apenas ali. De trem. Volto logo. Sentei no chão e encostei na parede gelada. Tava frio como num frigorífico. Poucas pessoas passavam. Na maioria, velhos tristes e sem expressão, como múmias ambulantes. Uma música saia da caixa de som dependurada no teto. Bem baixinho. Não consegui distinguir, mas parecia música country do começo do século passado, bem lamuriosa. O trem apareceu. Entrei e encontrei muitos lugares vagos. Tava um fedor do caralho. Dormi logo, com a cara no vidro. Só acordei quando o fiscal apareceu para pedir meu tíquete. Sentia-me mal pelas lembranças e sabia que ficaria assim por um bom tempo ainda. Permaneci olhando as luzes que passavam rápido lá fora. Desejei com todas as minhas forças que aquela merda dentro de mim desaparecesse. Fosse embora, no trem noturno.
segunda de merda
talvez essa nova mentira esquecida por você na mesa da cozinha eu já esperasse. como giletes embaladas em celofane na caixa de correio numa segunda-feira. agora amarro minha cabeça com os dedos sujos do seu mel. as chamas estão fracas lá fora. pela janela aberta por onde a chuva entra, vejo o quintal escuro e as plantas murchas que um dia você cuidou.
Tuesday, June 10, 2008
cowboy
Domingo fui à quermesse aqui do bairro e aconteceu algo inédito em minha vida: eu ganhei no bingo. Sou um cara de sorte. Meu time fode na Libertadores e eu ganho no bingo. É.
Pagando a entrada se ganhava uma cartela de bingo, assim, munidos de quentão e expectativas, fomos a uma grande sala nos fundos da Igreja, onde ocorria o jogo do azar. Um senhor grisalho de bochechas flácidas anunciou os prêmios. Quem fizesse a linha ganhava um jogo de sobremesa. Cartela cheia levava 20 mangos. Por coincidência, todos meus números apareceram na mesma linha, assim, logo bati. Gritei bem baixo, para não chamar atenção da turba, quase falando: ganhei. Caminhei até a bancada e estendi a cartela para o bochechudo. Essa senhora também ganhou, disse ele, apontando para uma japonesa gigantesca de vestido vermelho ao meu lado. Eu sorri, ela me encarou bem macha, como se dissesse sai fora, arrombado, o prêmio é meu. O bochechudo entregou o jogo de sobremesas a ela. Eram umas cumbuquinhas plásticas com colheres coloridas. Um mimo. Eu realmente queria aquela porra, mas aceitei o fato calado. Pensei, foda-se, é só um prêmio. Bonifácio, traz outra prenda pro rapaz aqui, nisso, disse o rei do bingo. Bonifácio parecia emburrado, mesmo assim, me trouxe um pirex de plástico com umas flores tatuadas. Poxa, valeu, cara. Assim, fiquei passeando pela quermesse com o pirex debaixo do braço. Comi espetinho e pastel, depois matei um cuscuz de tapioca. O lugar começou a encher. Mandíbulas sedentas trituravam as iguarias juninas. Lamentei a falta de um tiro ao alvo, para que eu pudesse provar que sou bem melhor de pontaria que no bingo.
Pagando a entrada se ganhava uma cartela de bingo, assim, munidos de quentão e expectativas, fomos a uma grande sala nos fundos da Igreja, onde ocorria o jogo do azar. Um senhor grisalho de bochechas flácidas anunciou os prêmios. Quem fizesse a linha ganhava um jogo de sobremesa. Cartela cheia levava 20 mangos. Por coincidência, todos meus números apareceram na mesma linha, assim, logo bati. Gritei bem baixo, para não chamar atenção da turba, quase falando: ganhei. Caminhei até a bancada e estendi a cartela para o bochechudo. Essa senhora também ganhou, disse ele, apontando para uma japonesa gigantesca de vestido vermelho ao meu lado. Eu sorri, ela me encarou bem macha, como se dissesse sai fora, arrombado, o prêmio é meu. O bochechudo entregou o jogo de sobremesas a ela. Eram umas cumbuquinhas plásticas com colheres coloridas. Um mimo. Eu realmente queria aquela porra, mas aceitei o fato calado. Pensei, foda-se, é só um prêmio. Bonifácio, traz outra prenda pro rapaz aqui, nisso, disse o rei do bingo. Bonifácio parecia emburrado, mesmo assim, me trouxe um pirex de plástico com umas flores tatuadas. Poxa, valeu, cara. Assim, fiquei passeando pela quermesse com o pirex debaixo do braço. Comi espetinho e pastel, depois matei um cuscuz de tapioca. O lugar começou a encher. Mandíbulas sedentas trituravam as iguarias juninas. Lamentei a falta de um tiro ao alvo, para que eu pudesse provar que sou bem melhor de pontaria que no bingo.
Monday, June 09, 2008
Tuesday, June 03, 2008
Bo Diddley is a Gun Slinger
Ontem peguei de relance no final do Jornal da Globo a notícia sobre a morte de Bo Diddley. Porra, o cara estava com 79 anos. Viveu bastante e fez mais que o suficiente. O negão que, junto à Chuck Berry e Little Richards, eletrificou e acelerou o blues a ponto dele se tornar o rock n roll, também inventou o hand jive, um estilo de tocar, às vezes num acorde só, que ainda é chupado hoje em dia. Suas músicas são a catarse sonora, com a guitarra base rasgada como milhares de telhas de amianto sendo esmagadas, uma solando cheia de estilo, as crioulas doidas enlouquecidas nos backing vocals e muita, muita safadeza e tiração de onda. O foda, ontem, foi que fiquei pensando no assunto enquanto os créditos do noticiário subiam: porra, por que não morre logo o Lulu Santos? Nisso, de repente, eis que surge Lulu. Requebrando como uma geléia, com a boca de sapato jorrando perdigotos viscosos e andando nas pontinhas dos pés no palco do Programa do João Soares. Aquilo me fez um mal do caralho. Dizem, que quando você cita um elemento e ele aparece logo em seguida, significa que ele não morrerá jamais.
"Bo's Bounce" - Bo Diddley
"Bo's Bounce" - Bo Diddley
Monday, June 02, 2008
No sábado, fiquei no sofá. Li um Love & Rockets comendo biscoito e tomando chá. Depois dormi um pouco. Sonhei com fadas coçando minhas costas e cantando cantigas. De fundo, ondas quebravam na costa rochosa de algum lugar esquecido. Lá em casa tem um gato. E ele mia às vezes. Ele estava na árvore que fica em frente à minha casa. E miava estridentemente. Sonolento eu gritava: Alicate, cala a boca, caralho! Contudo, acho que ele queria me chamar para brincar de macaco e subir na árvore e atirar bananas e me pendurar pelo rabo rindo. O gato miava. Eu coloquei a almofada na cabeça para abafar um grito, um urro gutural de quem precisa descansar e não consegue. Irritado como um empresário, me levantei e fui lá fora, peguei a mangueira e liguei a torneira, a água percorreu a borracha, eu apontei em direção à árvore e o esguicho foi, formando um arco brilhante no ar. Alicate, desesperado, me encarou com as orelhas abaixadas. Mia agora, filho da puta. Ele se calou, finalmente. Eu voltei pro sofá. Alicate apareceu emburrado. Seu rabo balançava como uma pipa, sinal de poucos amigos. Alisei seu pêlo para secar o excesso d’água e ri, apelei, né, seu desgraçado, eu disse. Daí coloquei “Down By Law” para assistir pela primeira vez. Alicate se ajeitou, apoiou a cabeça sobre suas patas dianteiras e se preparou para a sessão da tarde. Eu já sabia o que podia esperar do filme, mesmo assim, fiquei impressionado. Porra, aquilo ali é foda. Tem tudo que eu gosto, personagens mesquinhos e vagabundos, bostinhas; o P&B que lembra uma história em quadrinhos imunda impressa em papel jornal; a trilha matadora de John Lurie e Tom Waits; e o humor de prima, original, não aquela coisa boba que se encontra em prateleiras. A cena do Tom Waits cantando sentado na frente de um barraco sórdido com uma garrafinha de whisky é linda. E aquela do Roberto Benigni, desesperado porque seus companheiros de cela o abandonaram na beirada do rio e os cães estão chegando para pegá-lo, é assustadoramente engraçada. É um filme que dá vontade de assistir em pé, na frente da TV, para perder nada. Formidável, assistirei outra vez. Alicate dormiu antes da metade do filme. Mesmo assim, fiz questão de incomodá-lo arremessando pipocas em sua testa felpuda. Sou um cara vingativo, mamãe diria.
Thursday, May 29, 2008
cuma
se eu lhe disser
que estou cansado
de procurar
cansado de encontrar
algo que se perdeu
Algo que
perdi e sempre
tenho saudades de
quem não conheci?
e se eu voltar
para o
esmo lugar
e me perder
na rua que
moro e busco
e não cuido?
e não me preocupar
com o que se perdeu
por procurar
algo
que nunca esqueceu
nem desejou
encontrar?
que estou cansado
de procurar
cansado de encontrar
algo que se perdeu
Algo que
perdi e sempre
tenho saudades de
quem não conheci?
e se eu voltar
para o
esmo lugar
e me perder
na rua que
moro e busco
e não cuido?
e não me preocupar
com o que se perdeu
por procurar
algo
que nunca esqueceu
nem desejou
encontrar?
Wednesday, May 28, 2008
nicanor e sua fé
Hoje, quando a noite chegar, vou para casa, comprar uma sacola de brejas e aguardar. Estou um tanto ansioso. O time do Boca é nojento, um time de argentinos filhos da puta, que jogam bem e sabem disso, parece uma revoada de pombas indo de um lado pro outro do campo envolvendo o adversário. Os hermanos têm a pegada. Riquelme é um dos melhores meios-campos do mundo, junto com Palácio e Palermo na frente, a chapa esquenta, contudo, o Fluminense está na pilha após eliminar o São Paulo. É só não vacilar e futucar o barbante deles pelo menos uma vez na Argentina. O engraçado é ler a Folha de SP. Ontem eles dissertaram sobre a situação do Boca Juniors, principalmente sobre a parte administrativa do clube que está em frangalhos. Hoje, além das tantas estatísticas e números, o que torna a matéria uma petulante encheção de lingüiça, dizem que o ‘Fluminense testa sua grandiosidade’ nas semi-finais, que o Boca tem Riquelme em sua melhor forma, e que o Boca sempre aplica um sacode em times brasileiros. Só não disseram que se o São Paulo estivesse lá, eles estariam fazendo festinha e mijando de alegria no piso da redação. Eu não entendo. Quem está testando o quê nessa competição? Qual time não sonha em ser campeão da Libertadores, almofadinhas? A questão não é ser grande, a questão é vencer. Antes do jogo contra os são-paulinos, exaltavam a superioridade bambina, sua grandeza e toda a experiência do time em Libertadores, que o Fluminense não ganhava do São Paulo por dois gols de diferença no Maracanã há 40 anos, tal. As labaredas estavam acesas, isso até tomarem a sapecada da semana passada, até o Rogério Ceni dizer que o Dodô bateu mal na bola e por isso ele cometeu aquela lambança. Foda-se a grandiosidade dos bambis e do Boca Juniors, isso pra mim é coisa de madame, foda-se a história desses clubes também, a única coisa que importa agora é a fase do Tricolor carioca e esses próximos 180 minutos nos dois jogos que acontecem hoje e na quarta que vem.
Tuesday, May 27, 2008
Monday, May 26, 2008
sobre vinis
no ensolarado último sábado, encarei o centro da cidade na sede de adquirir velhos discos. Acompanhado de dois grandes trutas, fomos a Galeria Nova Barão, na loja do Tuca, a Perdição & Ruína para quem, como eu, acredita que a única coisa que ainda presta nesse mundão é a música. A variedade é grande ali, rola encontrar desde coisas esquecidas de Chet Baker e Ray Charles a rockablillies de primeira, ou até um death metal das profundezas de El Diablo; tem até uma caixa comemorativa do Caetano, com uma pintura dele sorrindo debaixo de uma juba horrenda, deu uma vontade louca de lamber; um 7” do Silvio Santos; a caixa do Sonic Youth “Daydream Nation” - uma reedição comemorativa com faixas ao vivo e algumas raridades. Eu cheguei já na febre de pegar um Eddie Cochran e um Bob Dylan (que havia sido vendido), na fissura arrastei um Gene Vincent pra sacola e um Carl Perkins também. Daí sentei ali fora e fumei um cigarro batendo uma prosa com Tuca, Cabeça e um outro cara bem firmeza. Expliquei que não queria fuçar mais, que é preciso ir aos poucos, tal, que comprar discos é como comprar drogas em bocadas sórdidas. Dá até um barato na cabeça. Depois rola aquela ansiedade monstra de chegar em casa para ouvir. Como Frasa, meu camarada, em seu entusiasmo quase infantil com as pérolas que encontrava e mostrava das prateleiras pro pessoal lá fora, não terminava nunca sua busca, parecendo uma dondoca em loja de roupa de shopping, resolvi dar mais uma garimpada, e, não é que meus dedos encontraram do nada um Woody Guthrie. Pá. Senti sobre meus ombros os olhos crescerem, mas já era tarde, movido pelo impulso eu já sacara a carteira e estendia placidamente 18 reais para Tuca. Depois, ainda fomos encher a pança no Sujinho. Passei o domingo ouvindo meus vinis novos. Woody Guthrie e Junior Kimbrough eram os mais solicitados. Parecia que um furacão havia passado e eu estava estirado numa planície desolada com todos os pedaços de telhados e paredes e carros ao meu redor. Cansado. Mergulhado nas águas mais profundas e escuras de um lago. Minha casa imunda e minhas pernas doendo do tanto que andei sem rumo através do feriado. Vi todos os dias nascerem sem o menor entusiasmo. Quando chegava em casa, a primeira coisa que fazia era colocar uma bolacha pra girar, assim situação ficava mais tranqüila. Calma, eu pensava. Assisti toda a pilha de faroestes que estava esquecida sobre a caixa de som. Alicate miava dependurado numa árvore. Alguns times perdiam na televisão, outros ganhavam. Um novo livro eu tentei começar, mas a concentração estava tão perdida quanto meu sangue gelado. Limitei-me ao último volume do Preacher que eu estava segurando para não terminar. Sonhei enquanto encarava a quina do teto. Devorando um cacho de bananas que comprara na feira, eu me imaginava na estrada outra vez. O sobe e desce das serras resplandecentes, as curvas em cotovelo, a carne moída dos cachorros no asfalto. Escutando Blind Willie McTell debulhar a viola e o motor trabalhando acima dos 3000 rpm. Preciso apenas sumir um pouco. Escorregar pelas retas do Brasil central cercado por plantações silenciosas de soja e café. Preciso eliminar os musgos da alma. Mijar no acostamento de cascalho olhando o horizonte. Deixar tudo pra trás sem vestígios. Uma pausa. Por um tempo. Novos ares. Velhos tormentos.
Wednesday, May 21, 2008
yodeleriiiiii leriiiiii leeeriiii
As estações mais legais da internet são os blogs de MP3. Além da vasta informação grátis, você ainda pode descobrir coisas do arco da velha, daquelas que dificilmente se descobre em lojas de discos legais – cada vez mais raras hoje em dia. Pode-se também descolar lançamentos frescos que só estão nas prateleiras européias e americanas ou até os que nem saíram. Passo a hora do almoço e faço hora extra aqui no trampo para ficar vasculhando essas tranqueiras virtuais. Hoje mesmo encontrei esse El Diablo Tun Tun, que apesar de não possuir uma mísera resenha, disponibiliza para qualquer indivíduo curioso portando um mouse uma extensa coleção de raridades dos anos 20, 30 e 40. Só pelas capas já rola uma coceira pra baixar tudo. Dá uma olhada nessa acima. Eu ando na pilha de encontrar algo do Jimmie Rodgers, um cantor de alguma coisa entre folk rock pop de bailinhos da década de 60, ele é xará da lenda criadora da música country. Rodgers toca “Honeycomb”, uma canção bem mela-cueca, com cara de comercial de cereal matinal que eu gosto bastante, acho até que ela está na trilha de “Conta Comigo”, o filme que mais assisti na vida até hoje. Ainda não encontrei nada. Não importa. Voltando aos blogs, vale muito a pena uma visita também ao Doctor Mooney, que dá de bandeja uma pancada de raridades absurdas, daquelas que você só encontrava em CDs piratas de galerias imundas do centro da cidade com o vendedor/proprietário punk velho e sorridente que fica na dúvida de vender. É embaçado. Olha só essas “Eshers Demos” acústicas que os Beatles fizeram em 1968, as versões ainda cruas do que viria a se tornar o “White Album”.
Duas semanas após o pedido, hoje chegou minha encomenda da Fat Possum. Me deu até caganeira na hora que abri o pacote, juro, esse tipo de coisa me emociona bem mais que novela. Lá de dentro olhavam para mim as bolachonas do T-Model Ford, Junior Kimbrough & R. L. Burnside. Só paulada. Cada um custou 15 dinheiros americanos, uma pechincha comparando com os preços de discos desse naipe quando encontrados aqui no Brasil.
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E hoje, eu espero com grande ansiedade pelo jogo entre Fluminense x São Paulo. O Tricolor carioca, meu clube desde que nasci, vai esmerilhar essa cambada de bambis afrescalhados. Vai meter o sarrafo nesse time de mamãe-quero-bolo tangas-frouxas do caralho. Daí, depois do jogo, os são-paulinos vão colocar a chupeta e ir dormir encolhidinhos.
Bom, pelo menos, eu acho.
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