Monday, June 29, 2009
Igor perdeu no par ou ímpar
Depois daquele atropelamento, todo mundo passou a mão em sua cabeça e o abraçou. Pareciam se preocupar com o garoto. Ele ficou imóvel, com seu pulôver listrado ridículo de gente mais velha e sua calça bege, agora com um novo furo no joelho esquerdo. Um fio de sangue escorria da sua testa. Outro brotava de dentro da blusa, bem no cotovelo, onde sempre se rala nos estabacos, ainda bem que ninguém percebeu. Ele olhava alguns pombos nos fios de alta tensão, alheio a tudo aquilo ao seu redor. Nada acontecera. Apenas o susto do impacto. Agora ele ouvia vozes desafinadas de pessoas que pensavam que ele fosse um bebê-chorão. Vozes de pessoas petulantes que encostavam suas mãos sebentas em seu rosto dizendo que não foi nada não. E não havia sido nada mesmo. Nada. Mesmo. Embora, ali, na calçada em frente à casa da Dona Tânia, surgisse, como se ligassem uma chave, alguma coisa o avisando para ficar longe daquela gente. Longe das pessoas que fingem. Assim, pegou sua BMX e desceu rumo ao gramado, onde estava indo antes daquele palhaço virar sem olhar para os lados. Onde deveria estar, à caça de grilos. Malditos grilos.
Low - "Peanut Butter Toast and American Bandstand"
Sunday, June 28, 2009
Friday, June 26, 2009
Me deitei no acostamento. Precisava descansar. Eu tentei. Dormir de olhos estalados. Ela me disse, ontem, que era tarde demais para continuar. E ficou. Talvez eu devesse me preocupar com esses anseios. Era tarde demais. Então, desisti. É. Caminhei sem olhar para trás. E a noite escureceu. Timóteo surgiu das sombras com a garrafa térmica e uma caixa de fósforos. Ele me disse que estávamos bem próximas da divisa. Acendemos uma fogueira e ficamos olhando as estrelas. O dia havia terminado. Uma Kombi passou de faróis apagados. Apenas eu percebi. E a noite escureceu pra valer mesmo. Timóteo dormia encolhido abraçado a mochila. Passei a noite alerta. Uma vela na rodovia. Talvez esperasse. Tão sozinho. Encolhido na escuridão. Me perguntava onde ficaria o norte. Meus olhos pesavam. Eu não dormi. Ainda. De olhos fechados no escuro. Ainda. Preciso descansar. Tarde demais. Para entender o que está acontecendo comigo.
Wednesday, June 24, 2009
troubled times
sabe, a melhor coisa é ignorar.
li isso em algum lugar
livro didático infanto-juvenil gratuito direitista cristão.
coisa de seguidores da comunhão.
para àqueles que tentam ser alguém
me baseio em nunca acreditar no que os outros pensam que sou.
prefiro uma facada a um elogio.
e ficaria satisfeito se tomasse um tiro.
sem esperar ou procurar.
E descobrir, afinal, que sou ninguém.
como você.
deus, às vezes é preciso um tempo enorme para desaparecer.
faz frio.
e as ruas continuam cheias de olhos de peixe.
isso não me significa porra nenhuma.
pelo menos
para ninguém
nenhum
nem
dormi tarde e não escovei os dentes.
você me diz que está ocupada.
uma tempestade entope a cidade.
talvez.
seja verdade.
alguém me contou
ou li
que uivar é coisa de louco
que sente dor
apenas para cantar
au auuuuuu....
"The Things That I Used to Do" - James Brown
li isso em algum lugar
livro didático infanto-juvenil gratuito direitista cristão.
coisa de seguidores da comunhão.
para àqueles que tentam ser alguém
me baseio em nunca acreditar no que os outros pensam que sou.
prefiro uma facada a um elogio.
e ficaria satisfeito se tomasse um tiro.
sem esperar ou procurar.
E descobrir, afinal, que sou ninguém.
como você.
deus, às vezes é preciso um tempo enorme para desaparecer.
faz frio.
e as ruas continuam cheias de olhos de peixe.
isso não me significa porra nenhuma.
pelo menos
para ninguém
nenhum
nem
dormi tarde e não escovei os dentes.
você me diz que está ocupada.
uma tempestade entope a cidade.
talvez.
seja verdade.
alguém me contou
ou li
que uivar é coisa de louco
que sente dor
apenas para cantar
au auuuuuu....
"The Things That I Used to Do" - James Brown
Sunday, June 21, 2009
Saturday, June 20, 2009
Hoje eu não volto pra casa. Há horas espero Iranildo. Estou cansado de lidar com a frigideira da ansiedade. Não consigo manter minhas mãos paradas. A noite está quente e venta um pouco. As moscas zumbem ao redor da lâmpada do poste sobre minha cabeça. Nenhum carro passa. Ninguém caminha a essa hora. A cidade fica bem mais atraente quando o azul da noite escurece e a Lua aparece para depois se esconder, lá longe. Todos esvaziam a cabeça em frente à televisão, ou dormem tesos ao lado de pessoas que não gostam. Ninguém parece se interessar por algo que não seja trabalho. Apenas pecadores perambulam e pescam oportunidades por ai. Cães latem para o caminhão de lixo na avenida e o semáforo daquela esquina pisca ininterruptamente no amarelo. A temperatura está ideal e minha carne gruda ainda mais nos ossos. O vento sacode o teto do posto de gasolina do outro lado da rua. A cidade opaca em preto e branco como a tela de uma câmera de segurança. Talvez Vanessa durma, ou lixe as unhas, mas isso não importa, é tarde, e, talvez, hoje eu não volte pra casa. Minha garota anda nervosa. Acho que não me tornei o que ela sonhava, nem a metade e meia disso ou daquilo. Logo, com sangue escorrendo perna abaixo, ela coloca toda culpa do mundo sobre mim, grita e arremessa objetos. Se arranha toda. Puxa, como gosto dessa belezinha. No entanto, sou um homem que não aprende. Sei apenas que as coisas não andam bem pro nosso lado. Tenho quase certeza até. E lamento, com as palmas das mãos no rosto. A rotina descascou nossa história. Afundamos na sorte. Assim, hoje eu não volto pra casa. Hoje só amanhã. Sinto uma forte azia me corroendo por dentro, como um caldo de câmbio, e estou cansado de esperar Iranildo. Cretino. Esperar cansa. Um louco numa trincheira. Qualquer coisa me cansa, até as coisas que gosto me cansam, se eu tiver que esperar por elas. Até você, minha sereia de privada, que penteia suas madeixas e balança o pé, que espera pacientemente seu pescador para em seguida o mandar ficar quieto em seu coral. Você me esgota. Seco. O vinho acabou. Já não espero mais. Levanto e desço sozinho a Consolação para ver o que encontro nas beiradas do centro e na zona de prostituição da cidade.
Wednesday, June 17, 2009
o Pinduca deu a letra:
"Saiu resenha sobre A Musa Chapada no jornal O Estado do Maranhão"
POR ZEMA RIBEIRO*
ESPECIAL PARA O ALTERNATIVO
[A musa chapada. Capa. Reprodução]
Não é novidade a relação entre literatura – ou mais especificamente poesia – e drogas. Não é fácil também criar algo novo nessa relação que não cheire – opa! – a apologia barata, as lições de moral da auto-ajuda ou umbiguismo autobiográfico (para o bem ou para o mal e, às vezes, também com lições de moral baratas).
Em A musa chapada [Demônio Negro, 2008, R$ 20,00 em http://www.sebodobac.com], o encontro dos poetas Ademir Assunção e Antonio Vicente Seraphim Pietroforte e do desenhista Carlos Carah, expande – ops! – o entendimento que se tem sobre o que é “droga” – se à menção do termo você só pensa em maconha, cocaína, crack, merla, heroína, haxixe e similares, que tal acrescentar a TV e alguns de seus programas no drugs hall of fame (principalmente a fé vendida na tela)?: “no canto da sala a TV ligada/ o pastor gritava/ (...)/ o poeta pirava/ “meu deus como pode/ tanta merda enlatada?/ que gente mais troncha/ que vida fodida/ (...)/ o real é a ilusão virtual dos que batem a cara contra o muro””, rima Ademir Assunção em A volta do anjo torto, poema com referências explícitas a Torquato Neto e Raul Seixas, dois malucos geniais.
Dedicado “à memória de Sérgio Sampaio”, e trazendo Itamar Assumpção como epígrafe, o trio dA musa chapada está bem acompanhado. Seja pelos beats, referência obrigatória em se tratando do assunto – e influência confessa dos poetas e do desenhista –, seja pelas personagens que povoam o livro: Lili Maconha, Mister Morfina, a Senhora dos Sonhos, O anjo do ácido elétrico (título de poema de Ademir Assunção), Santa Maria Joana (idem), Johnny Walker e João Bafo de Onça, entre outros, além da música de Miles Davis.
O recado de Antonio Pietroforte é direto em Poligonia do soneto III: “quem diz que a droga mata anda errado/ tampouco, acerta aquele que comenta/ “usuário dá dinheiro a traficante,/ promove, com seu vício, a violência”/ prefiro dar dinheiro pra bandido/ que vende, honestamente, seu produto/ se pago imposto, não recebo nada/ sustento deputado vagabundo/ violenta é a fala da polícia/ que fuça, no meu bolso, feito rato,/ aumenta, com propina, seu salário;/ a erva que se fuma só acalma,/ trabalho mata mais do que cigarro,/ por isso que eu fumo pra caralho!”
[Um dos desenhos de Carlos Carah em A musa chapada. Reprodução]
Nem um nem outro – nem o desenhista – ligam para o que é (ou não) politicamente correto. Dão seus recados sem transformar sua obra num apático manifesto a favor ou contra nada – a legalização das drogas, por exemplo. O que os autores fazem é apresentar a realidade nua e crua – mesmo em poemas ficcionais –, a inegável realidade da São Paulo paisagem dA musa chapada – mas não pensem que é diferente em outros lugares do mundo, bem aí do seu lado deve ter uma boca de fumo, uma “filial” da cracolândia, lugares simplesmente feios e sujos para a maior parte dos olhares conservadores. A vantagem é que ninguém é obrigado a nada.
Entre o lirismo e a ironia, os poemas de Ademir Assunção e Vicente Pietroforte tão bem ilustrados pelas “lentes manuais” de Carlos Carah são verdadeiros clipes de uma sociedade onde puritanismo é (quase) sinônimo de hipocrisia e, num circo de vaidades, (quase) todos se preocupam somente em consumir (drogas, inclusive) e produzir (por obrigação), sem olhar para o lado (leia-se, para os problemas que as/nos rodeiam), obtendo um pseudoprazer que, infelizmente, por vezes as satisfaz. A musa chapada é um tapa seguro e sonoro nesse bom-mocismo, nesse conformismo. Vai encarar?
*ZEMA RIBEIRO escreve no blogue http://zemaribeiro.blogspot.com
[No Alternativo, O Estado do Maranhão, de ontem]
"Saiu resenha sobre A Musa Chapada no jornal O Estado do Maranhão"
POESIA CHAPADA EM LIVRO
Em A musa chapada, poemas de Ademir Assunção e Antonio Vicente Seraphim Pietroforte ilustrados por Carlos Carah apresentam novas possibilidades para a relação poesia e drogas.POR ZEMA RIBEIRO*
ESPECIAL PARA O ALTERNATIVO
[A musa chapada. Capa. Reprodução]
Não é novidade a relação entre literatura – ou mais especificamente poesia – e drogas. Não é fácil também criar algo novo nessa relação que não cheire – opa! – a apologia barata, as lições de moral da auto-ajuda ou umbiguismo autobiográfico (para o bem ou para o mal e, às vezes, também com lições de moral baratas).
Em A musa chapada [Demônio Negro, 2008, R$ 20,00 em http://www.sebodobac.com], o encontro dos poetas Ademir Assunção e Antonio Vicente Seraphim Pietroforte e do desenhista Carlos Carah, expande – ops! – o entendimento que se tem sobre o que é “droga” – se à menção do termo você só pensa em maconha, cocaína, crack, merla, heroína, haxixe e similares, que tal acrescentar a TV e alguns de seus programas no drugs hall of fame (principalmente a fé vendida na tela)?: “no canto da sala a TV ligada/ o pastor gritava/ (...)/ o poeta pirava/ “meu deus como pode/ tanta merda enlatada?/ que gente mais troncha/ que vida fodida/ (...)/ o real é a ilusão virtual dos que batem a cara contra o muro””, rima Ademir Assunção em A volta do anjo torto, poema com referências explícitas a Torquato Neto e Raul Seixas, dois malucos geniais.
Dedicado “à memória de Sérgio Sampaio”, e trazendo Itamar Assumpção como epígrafe, o trio dA musa chapada está bem acompanhado. Seja pelos beats, referência obrigatória em se tratando do assunto – e influência confessa dos poetas e do desenhista –, seja pelas personagens que povoam o livro: Lili Maconha, Mister Morfina, a Senhora dos Sonhos, O anjo do ácido elétrico (título de poema de Ademir Assunção), Santa Maria Joana (idem), Johnny Walker e João Bafo de Onça, entre outros, além da música de Miles Davis.
O recado de Antonio Pietroforte é direto em Poligonia do soneto III: “quem diz que a droga mata anda errado/ tampouco, acerta aquele que comenta/ “usuário dá dinheiro a traficante,/ promove, com seu vício, a violência”/ prefiro dar dinheiro pra bandido/ que vende, honestamente, seu produto/ se pago imposto, não recebo nada/ sustento deputado vagabundo/ violenta é a fala da polícia/ que fuça, no meu bolso, feito rato,/ aumenta, com propina, seu salário;/ a erva que se fuma só acalma,/ trabalho mata mais do que cigarro,/ por isso que eu fumo pra caralho!”
[Um dos desenhos de Carlos Carah em A musa chapada. Reprodução]
Nem um nem outro – nem o desenhista – ligam para o que é (ou não) politicamente correto. Dão seus recados sem transformar sua obra num apático manifesto a favor ou contra nada – a legalização das drogas, por exemplo. O que os autores fazem é apresentar a realidade nua e crua – mesmo em poemas ficcionais –, a inegável realidade da São Paulo paisagem dA musa chapada – mas não pensem que é diferente em outros lugares do mundo, bem aí do seu lado deve ter uma boca de fumo, uma “filial” da cracolândia, lugares simplesmente feios e sujos para a maior parte dos olhares conservadores. A vantagem é que ninguém é obrigado a nada.
Entre o lirismo e a ironia, os poemas de Ademir Assunção e Vicente Pietroforte tão bem ilustrados pelas “lentes manuais” de Carlos Carah são verdadeiros clipes de uma sociedade onde puritanismo é (quase) sinônimo de hipocrisia e, num circo de vaidades, (quase) todos se preocupam somente em consumir (drogas, inclusive) e produzir (por obrigação), sem olhar para o lado (leia-se, para os problemas que as/nos rodeiam), obtendo um pseudoprazer que, infelizmente, por vezes as satisfaz. A musa chapada é um tapa seguro e sonoro nesse bom-mocismo, nesse conformismo. Vai encarar?
*ZEMA RIBEIRO escreve no blogue http://zemaribeiro.blogspot.com
[No Alternativo, O Estado do Maranhão, de ontem]
Monday, June 15, 2009
quero ser seu amigo no facebook
terça estranha.
não sei se alguém já sabe, mas estou numa peça do Mário.
amanhã tem.
no mesmo dia e horário, rola a peça do Marcelo Paiva.
daí, depois, todo mundo vai pro show do Saco de Ratos.
é divertido
até a terça virar quarta de manhã.
divertido para caralho, aliás.
não sei, mas as quartas andam me detonando.
não sei se alguém já sabe, mas estou numa peça do Mário.
amanhã tem.
no mesmo dia e horário, rola a peça do Marcelo Paiva.
daí, depois, todo mundo vai pro show do Saco de Ratos.
é divertido
até a terça virar quarta de manhã.
divertido para caralho, aliás.
não sei, mas as quartas andam me detonando.
Sunday, June 07, 2009
me amarro quando encontro uma molecada fazendo um som de qualidade. é difícil encontrar novas bandas interessantes. The Rosewood Thieves é uma banda recente e anacrônica, daquelas anti fashion que se vestem mal e fazem poses erradas em fotografias. o que importa mesmo é a bagagem que carregam nas mochilas pegando carona em trens e metrôs das metrópoles urgentes, coisas como livros do Jack London e todos os albúns de Bob Dylan no iPod, folk podre caipira e soul music. o lixo que eles consomem é muito importante para você saber quem eles são. The Rosewood Thieves lançaram seu primeiro albúm no mês passado. porém, antes disso, esses nova-iorquinos lançaram 3 ótimos EPs, incluindo um com apenas covers de Solomon Burke, desgraçadamente foda. boas letras, melodias & arranjos sutis, pouca preocupação com pose e uma boa dose conhecimento e veneno musical e literário. não é preciso muito para se formar uma banda interessante.
The Rosewood Thieves - "When my plane lands"
The Rosewood Thieves - "Home in your Heart"
The Rosewood Thieves - "Los Angeles"
Monday, June 01, 2009
Subscribe to:
Posts (Atom)