Friday, September 28, 2007

ontem eu fiquei por ai. cheguei em casa me sentindo estranho. já era bem tarde mas eu estava sem sono. às vezes não gosto de dormir. como os materiais estavam sobre a mesa, decidi pintar. quando olhei pela janela o sol já começava a dar as caras. subi as escadas e passei uma água no rosto. depois deitei agarrado na minha Pequena. fiquei olhando pro teto que mudava de cor de acordo com o dia amanhecendo. eu não queria ter hora pra acordar. tô bem cansado hoje. pelo menos cheguei na hora no trabalho. agora vou aguentar até o fim da tarde. preciso me manter aceso. sinto uma tristeza genuína quando estou nesse estado. tento fingir que não é comigo. que não é para sempre. que não é real. mas é impossível. lógico. e sempre volta.

eu fiz isso ontem pro meu amigo Sérgio Mello. é a primeira peça que ele escreve. deve estrear no começo do ano que vem.



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eu gosto do que esses caras escrevem:





"A gente se mete a escrever porque não sabe lutar boxe nem tem colhões para isso, porque tem os dentes tortos e não pode sorrir como gostaria, porque para os impotentes de todo tipo não há outro caminho, porque todos os feios escrevem ou assassinam e a gente não é capaz de matar nem uma mosca, porque escrever dá importância, porque para chamarem alguém de escritor não é preciso escrever bem, mas para chamarem de filho-da-puta não importa se sua mãe é uma santa, porque tem medo de ficar à deriva sem fazer nada, porque não pode beber toda noite, porque ama a Deus mas odeia as sociedades sem fins lucrativos, porque não tem namorada, porque não há emoções mas insultos, porque na sua casa não tem televisão e o rádio quebrou, porque a mulher do vizinho é gostosa, porque tem medo de ficar careca e por isso evita os espelhos. A gente se mete a escrever porque não se atreve a assaltar um supermercado, porque ama a mulher e ela é namorada do garoto esperto da rua, porque não há revistas pornográficas suficientes, porque quer fazer alguma coisa além de cagar e se masturbar, porque não é o garoto esperto da rua nem o garoto forte nem o engraçado, porque é o garoto nada, porque não vale um tostão furado, porque apanha lá fora, porque sua mãe grita o tempo todo, porque não há ilusões nem luz no fim do túnel, porque sua mãe grita o tempo todo, porque sua mente voa baixo e nunca será outro Cioran, porque não tem coragem para saltar, porque não quer a esposa feia que merece, porque tem medo de morrer sem ter comido um belo cuzinho, porque não tem pai, amigos, nem fortuna, porque não tem o jeito de cuspir do Clint Eastwood, porque se paralisa entre uma e outra intenção, porque era uma vez o amor mas eu tive que matá-lo."

Efraim Medina Reyes





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AMOR É COISA DE BOTECO

O amor encontra sua dignidade na vergonha. Envergonhar-se de um amor é ter orgulho dele. Choro por um amor. Despedaço-me por um amor. Fragmento-me por um amor. Faço chantagem por um amor. Digo o que não devo por amor. Estrago uma festa por amor. Amor desesperado é ainda o jeito mais tranqüilo de amar. Não conheço outra paz senão a de guerrear no fundo de um copo. Não sou homem de tranqüilizantes, de remédios na cômoda, de sono induzido. Meu quarto é o bar, público e derradeiro. Meu travesseiro é uma toalha de mesa plastificada. Amor só sabe gemer falando alto. O amor é aguardar uma resposta. A fossa é o período de uma resposta a outra. Não há como amar sem prejuízo. Sem acreditar que não deu certo. É inacreditável como apaixonados contam as mais absurdas confidências a estranhos e escondem os detalhes dos mais próximos. Todo garçom já foi nosso padre um dia. Nosso confessor. A gravata-borboleta é nossa batina. Amor é esse estágio necessário de loucura para suportar a normalidade. Quando amo, não preciso de psiquiatra, preciso de um táxi para voltar. Amor mesmo é coisa de boteco, com potes de ovinhos de codorna e cachaça nas prateleiras. Amor não tem nojo, repulsa, pudor de sofrer. Sofremos de amor para abrir espaço por dentro e desalojar antigos moradores. Amor não é próprio de restaurante ou de guardanapo nos joelhos. Não haverá um porteiro saudando com "boa-noite", não haverá recepção ou um senhor para abrir a porta. Aliás, não terá porta, é uma garagem para o corpo balançar à vontade e não quebrar nada. Não espere cardápio no amor, espere cartazes nas paredes. As lâmpadas estarão com as braguilhas abertas no teto. Amor mesmo é devasso, cafona, cadeira de metal amarela, dobrável e enferrujada. Deve-se tomar cuidado para não sentar na ponta. O amor não vem da elegância de um lugar, vem da nobreza da dor. O amor é o solitário do balcão, a retirar vagaroso o rótulo úmido da garrafa porque não pode despir sua mulher. Fica delirando em braile. Aprende inglês com as moscas. Joga dama com os cascos. Reza dez ave-marias para cada pai-nosso. Descobre que o terço é feminista. A cada vez que pensa em si, pensa dez vezes no corpo dela. Não se limpa um amor no banheiro. Limpa-se com as mangas da camisa na frente de todos. O amor é a boca assoando. O amor não pede a conta na mesa, é a conta. Não há amor se você não for o último cliente. O último a sair é que está realmente amando. Quem ama não guarda o dinheiro na carteira, deixa avulso e amassado no bolso. É sintomático. Estará cantando Amado Batista sem querer. E se espantará que conhece a letra, egressa de alguma estação da infância. Só pode ser do radinho materno, ao lado do fogão. Sua mãe colocou aquelas canções em sua comida.

Fabrício Carpinejar


Tuesday, September 25, 2007

Açougue

minha revanche é verdadeira quando caio de cara no chão e meus ossos de vidro se espatifam numa calçada do centro. meu amor não me esquece quando telefono de madrugada dizendo que fui espancado por um fantasma que mora dentro de um buraco no meu peito. minha retaliação é decidida quando não sei o caminho de casa mesmo sob a claridade truculenta de um novo dia, morto na noite anterior. outro pedaço de mim escapole e some quando acordo do transe na escuridão devassa para me libertar da dor de algo que já me esqueci. minha desforra é crime contra mim mesmo, numa forma de matar aquilo que me incomoda, que não tem aspas nem pernas nem braços para me açoitar, que apenas me gira numa espiral mundana e depois ri da minha cara. minha covardia é a fuga para um lugar onde o vento não sopra e as pessoas brilham sob lâmpadas elétricas, onde procuro algo afiado como metal para rasgar tudo isso que corta dentro de mim.

a rádia do povo

Ando viciado em last.fm, uma das coisas mais interessantes para se descobrir músicas e artistas similares aos que eu gosto. Sem aquela porra seria mais difícil descobrir Songs: Ohia, um som meio chera-cola-no-quintal-da-fazenda feito por um baixista headbanger. O estranho é que o projeto do cara, o Jason Molina, é colocado no mesmo saco que a bosta do Devendra Banhart – que é horrível, aliás, ele até comeu o cu do Caê numa rede no Rio de Janeiro, só pra sentir o drama do barbinha -, assim, na seleção sempre toca alguma músguinha de veado hippie de merda.

“Lioness” - Songs: Ohia

“Two Blue Lights” – Songs: Ohia

Monday, September 24, 2007

kamashuga

Ontem, na Revista da Folha, li um pequeno artigo onde um gringo - que passeia de bicicleta por várias cidades do Mundo - conta que São Paulo é o pior lugar para esta prática. Hoje vim de bicicleta para o trabalho. Em certas ruas e avenidas rola um cagaço filha da puta quando um ônibus passa raspando no punho esquerdo do guidão. Eu já nem uso fone de ouvidos mais depois do meu último tombo, que me custou uma clavícula.

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A trilha sonora de “Into the Wild” é toda do Eddie Vedder, sem Pearl Jam na bagagem. O filme, dirigido por Sean Penn e baseado no ótimo livro “Na Natureza Selvagem”, de Jon Krakauer, conta a história real do jovem Chris McCandless, que abandona tudo para trilhar estradas e desertos americanos e depois morrer no Alasca. O livro fez minha cabeça, até porque eu estava em plena viagem pelas paisagens selvagens da Argentina e do Chile. O filme estreou na sexta passada nos EUA e deve chegar ao Brasil no dia 31 de dezembro.

"Into The Wild" - Eddie Vedder

Parte 1
&
Parte 2 (via Rapidshare)

se o dia nunca amanhecesse eu poderia caminhar para sempre

Caminhando sozinho numa noite quente de domingo, com a cabeça tomada por devaneios e lembranças de muito tempo atrás, cruzei a Aclimação que naquela hora estava às moscas. Parecia que só eu existia ali naquelas pequenas ruas com nomes de pessoas esquecidas. As folhas das árvores cobriam as postes limitando a iluminação e dando um aspecto mais lúgubre a minha caminhada. Gatos namoravam sobre uma caixa de concreto com uma bandeja de isopor vazia ao lado. O frentista passava um pano com álcool nas prateleiras da loja de conveniência esperando a hora de ir embora. Descendo a rua eu me sentia envolvido por uma solidão cultivada há muito tempo, e isso me produzia uma grande satisfação a cada quilometro percorrido. Em algumas casas, placas com avisos de vende-se e aluga-se penduradas na parede me traziam imagens do vazio etéreo que pairava em seus interiores apagados. Num silêncio agradável, onde nem os cachorros latiam quando eu passava pela frente dos portão, eu podia notar os carros estacionados nas apertadas garagens das casas térreas e geminadas. Das janelas da sala, luzes tremeluziam indicando que as famílias estavam com seus televisores ligados no refúgio do lar, aguardando uma nova semana, onde a esperança de um novo domingo tranqüilo como aquele funciona como uma meta. Descendo uma rua em curva, senti um aperto no peito e apressei o passo para chegar em casa antes que todos os televisores estivesses desligados.

Tuesday, September 18, 2007

Seus olhos cheios de rimel e tristeza chorando borrado o fracasso do amigo publicitário que tem a língua solta. Tantas linhas que se partem sem retorno e a pouca luz na sala acabando com meu processo de criação. Cai fora. Sangue frio eu nunca tive. Não gosto de rascunhos para chapiscar no betume. A melhor idéia que eu já tive foi ter fingido não ver, cuspido na mão e esfregado tudo no papel como se fosse realmente algo brilhante. Na manhã ressaquenta eu acordo pensando demais até ler a primeira página do jornal enquanto espero o ônibus.

patrulha


Espantalho Descarado

ando assim
tipo um erro flácido ambulante
sem êxito, hesitante
disco riscado
fora de catálogo
no pó do instante
ando assim oco, uma crosta
vodu cansado que com a sorte
nem mais dialoga - diamante
ando assim sem linguagem
sem faro, espantalho fora de foco
ando assim
mais opaco que olímpico
esquivo, íntimo, insípido
um mastodonte pensando
desamparado
aspirando a paralelepípedo
ando assim meio buster keaton
um tanto de lágrima hasteando o riso
ando assim raso
indiferente
me divertindo um bocado
eu ando mijando no poste
porque o banheiro
está sempre lotado

Marcelo Montenegro

Monday, September 17, 2007

Sábado de sol, saí para comprar drogas de Opala. Fiz o avião e, voltando pra casa com o som no talo e os vidros escancarados, parei num sinal, fiz a velha pose de durão, traguei o cigarro e olhei pro lado. Tinha ali, a menos de 1 metro e mei da minha fuça, um bigode de policial montado numa moto com as cores da bandeira de São Paulo. Não pude deixar de escapar um sorriso da minha cara, rindo da dele. Eram três encapacetados motociclistas militares armados de pistolas e gás pimenta cercando meu carro. Eles não gostaram de mim. Seguiram-me até a frente do Estádio do Pacaembu, onde me mandaram encostar. Encostei. Pelo retrovisor, vi o bigodudo me chamar com o indicador, ainda sentado na moto, parecia o Magnum. Desci e encostei as mãos no teto do carro. O puliça perguntou se eu tinha algo em cima. Neguei e perguntei se eu tinha feito algo suspeito. “Sua cara é suspeita”, ele interviu educadamente. “Você tá chêrado?”, quis saber depois de me revistar. “Lógico que não! Acabei de acordar”, repliquei às 5 horas da tarde. “Vamos revistar seu carro, se tiver alguma coisa ai é melhor falar logo, porque a gente acha”, disse o outro PM, esse um pouco estrábico. “Não se preocupe, senhor. O carro é todo seu”, falei rindo, pois a primeira frase lá em cima é mentira. Para quebrar o gelo, comentei que meu carro era como um filho rebelde para mim, falei também que meu time entraria em campo em pouco tempo, por isso precisava chegar logo em casa. Enquanto isso, a avenida do outro lado da rua estava congestionada e eu era a atração dos motoristas, comentei isso com o policial que me vigiava. “Não liga não, eles não têm o que fazer”, ele concluiu assim, de forma genial, a curiosidade assustada das pessoas que assistiam três motos da polícia paulistana, com aquelas luzes rotativas acesas, enquadrando um paspalho descalço de bermudas num Opala preto às 5 horas da tarde na Praça Charles Muller. É, tive que concordar. “Abre aqui o porta-malas pra gente”, disse o vesgo, o maldoso da turma, “só gira a chave e sai fora. Quero ver se tem aquele quilo de cocaína aqui”, disse ele com o berro em punhos. “Cocaína?! Magina, só tem um cadáver, só não tenho certeza se ele tá morto mesmo”, falei enquanto pensava se existia alguma coisa que pudesse me complicar ali. Nada. A tensão diminuiu. Minha boca voltava a salivar e eu cumprimentei os senhores policiais, entrei no carro e vazei. Na noite anterior estava conversando com um amigo meu, o papo, em certo momento etílico, caiu em enquadros. Cada um lembrava dos enquadros da vida. Lembro de ter tesourado o assunto na metade, alertei que falar sobre isso atraia. Outra coisa, nunca tire onda quando a policia te parar, o certo é descontração e tranqüilidade para lidar com os agentes da lei. Se você tiver um tijolo no bolso da jaqueta ou encaixado na virilha será mais difícil disfarçar calma e as chances de tomar no rego são grandes, mas não se entregue e nem reaja, entre no jogo, eu disse, uma das piores coisas na vida de um homem é cair no sistema como culpado.

Thursday, September 13, 2007

NÃO!!!!

E agora?

notas

Hoje acontece o show do Faraquet no Grazie a Dio. Não será mais no StudioSP, como divulgado anteriormente, sabe-se lá o motivo. A banda entra 1h da manhã e o ingresso custa R$25, mandando um email para studiosp@studiosp.org rola um desconto de 10 reais.
Ah, eu também nunca fui ao Grazie a Dio, mas fica ali na Rua Girassol, 67, na Vila Magdalena. Talvez eu vá, minha idéia principal e encarar a banda no Rio de Janeiro, sábado que vem num bate-e-volta medo e delírio.

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Falando nisso, consegui hoje “Uma Espécie em Extinção”, filme dos anos 80 com Bill Murray fazendo o papel de Hunter S. “Gonzo” Thompson. No mesmo pacote, adquiri também a 10ª temporada dos Simpson. Lógico que é pirataria, como já disse porraqui antes, sou fiel ao meu pirateiro.

Tuesday, September 11, 2007

Oi, meu nome eu esqueci. E hoje é só mais um dia dourado. Estou respirando fumaça e ainda calibro tudo com um cigarrinho, que desce como uma colherada de poeira, pra ver se não fode de uma vez. Envelheço tomando sol no concreto. O clima tá muito seco aqui na cidade. Finjo que tudo segue na moral quando acordo e chego no serviço, abro a cortina e vejo as pessoas se arrastando lá em baixo na calçada, sem a menor elegância. Faz tempo que não chove, daqueles torós com trovoadas retumbantes que ecoam até Valhalla e fazem esses répteis de asfalto escorregarem pra debaixo das marquises. Às vezes as marquises caem e esmagam os infelizes como uma imensa pedra arremessada pela mão pesada de deus. A chuva molha os cartazes de crianças desaparecidas e meus cigarros, mas não me importo, entendo que isso é vida. Se tivesse asas eu voaria para cima das marquises e pensaria num lugar mais arejado para visitar. Como só posso caminhar, vou me arrastando até uma sombra, sento e acendo um cigarro e rezo por uma chuva que não vai cair nos próximos meses.

Monday, September 10, 2007

às moscas

Gigantes adormecidos nas ruas, como a igreja abandonada, a creche e uma habitação completamente descascada. Na última eu entro, na poeira, entre cães famintos e tigelas de cereais esquecidas. Nesses lugares inóspitos, onde poucas pessoas têm coragem de mostrar a fuça, eu caminho descalço após dirigir 230 quilômetros pelas interestaduais sem a menor intenção de chegar em algum destino propriamente. Na verdade, andei sem rumo e cheguei aqui numa cidade morta. Talvez seja destino, ou sossego fortuito. Sento numa praça tomada pelo capim que empurra as calçadas para crescer num silêncio sepulcral onde apenas escuto o farfalhar das árvores secas de inverno ou alguma lata vazia rolando pelo chão. Tenho medo de assobiar. Agüento duas horas sentado num banco de concreto, noto que tem um mendigo dormindo sobre um monte de feno, talvez seja o único habitante dessa cidade, mas nem chego perto. Hoje não quero conversar com ninguém.

Monday, September 03, 2007

BAIXO CALÃO

Quer comprar um desenho meu, com dedicatória de amor de coraçãozinho atrás e marca de baton? Vem aqui, ó.