Monday, July 30, 2007

Meu grande amigo Cabeça formou uma banda nova com outro truta, o Gui. Eles estão ensaiando todos os dias e acabaram de colocar 2 músicas no MySpace recém-aberto.

Escutaí:

CICRANO
A viagem terminou e eu já voltei ao trabalho, à rotina e às velhas regras. Estou plenamente satisfeito aqui na escrivaninha, inclusive por não ter enfrentado grandes problemas na expedição e pelas paisagens e pelos pardieiros baratos de água morna e sabonetes com cheiro de cogumelos e pela falta do que pensar enquanto segurava firme a direção numa rota secundária sem caminhões lentos onde podia me ver lá de cima escutando Desmond Dekker no volume médio e você dormia ao meu lado. Gostei de assistir a quilometragem mudando mais que os ponteiros do relógio em seu giro preciso, não que a distância importasse, e sim porque o tempo havia perdido todo o significado. Sedativo, esse foi o efeito dessa viagem, onde idéias e pensamentos invadiam minha cabeça e não faziam sentido algum, escorrendo rumo ao esquecimento logo em seguida. A estrada acalma, ao contrário das cidades aglomeradas e cheias de semáforos e sinais e buzinas, limitando e alertando os sentidos. Evitamos as grandes cidades como crianças evitam o escuro. Consultando mapas, fugíamos de qualquer lugar com mais de 2000 habitantes, pulando de ponto em ponto. O povo argentino, ao contrário do que a imprensa esportiva e os comerciais de cerveja mostram, é atencioso e prestativo, sempre querendo ajudar e se oferecendo para mostrar o melhor caminho, a saída ideal. Creio que em Buenos Aires, assim como São Paulo, as pessoas sejam um pouco mais frescas e babaquinhas.
As Cordilherias são um cenário absurdo. Não posso acreditar que pessoas morram sem nunca terem passado por lá. Neguinho gasta uma fortuna para lamber o cu do Primeiro Mundo e esquece que aqui do lado têm muita coisa interessante e virgem para ser vista sem tanto desgaste. Não que o Chile seja hospitaleiro. Na fronteira com a Argentina cheguei a ponto de dizer ao fiscal que não precisava mais se preocupar que eu daria meia-volta, após ele dizer que faltava um documento dentre a penca de papéis solicitados. Notando nosso descaso, o babacão nos liberou. Mas isso não é nada comparado à imigração da fétida Londres – sem nunca desmerecer a cidade. Entretanto, o Chile tem a geografia muito diversificada em tão pouco espaço. É impressionante cruzar a enorme cadeia montanhosa e sair em pequenas estradas sem acostamentos, com suas cidades minúsculas cheias de carros antigos, tratores, cachorros em bando cheirando o próprio cu pelas ruas e mercadinhos com frutas em decomposição. Poucos quilômetros à frente, nos deparamos com o Pacífico espumando entre as pedras. Em um giro de pescoço e possível ver montanhas, o mar e um cenário campestre com gado pastando e casinhas de madeira em meio aos cactus.
Decidimos pelo Atacama chapados pela paisagem. Sem pestanejar dirigimos até o deserto. Uma viagem cansativa de 2 mil quilômetros, sendo que no final muita areia torna tudo um pouco cansativo e monótono. Só que tudo muda quando se chega à San Pedro do Atacama. Lá é possível descansar e conhecer muita coisa: O Vale da Lua, o Vale da Morte, Os Gêisers do Tatio, vulcões e muitas outras paisagens naturais.
Na volta seguimos pela parte norte das Cordilheiras, passando por lagos congelados e montanhas de areias e, assim, chegamos à Argentinas ao meio-dia do dia 23. Depois seguimos por estradas desertas, passando por uma salinas imensa e chegando à novas montanhas nas proximidades de Purmamarca, onde comemos. Seguimos para Jujuy e depois Salta, quando já era noite e, exaustos, não conseguimos encontrar um mísero quarto de hotel. Envolvidos num trânsito caótico, enquanto o cansaço moia os ombros e as costas e o sol se punha, desistimos de qualquer possibilidade de ficarmos lá e seguimos madrugada adentro pelas rodovias, parando num lugar que sequer lembro o nome, num hotel com o ar tão espesso que era possível enxerga-lo, com pulgas que roíam meus calcanhares e uma tv tão minúscula quanto meu polegar. No dia seguinte, dirigimos por 1300 quilometros tamanha era a vontade de encarar um fejãocarroz no Brasil. Chegamos em Foz do Iguaçu numa madrugada gelada, conseguimos um hotel podre, lotado de hermanos, onde a água era fria e nos fez amaldiçoar a pátria amada. No dia seguinte estávamos em São Paulo. Foram 9000 quilometros rodados e quase R$4000,00 reais gastos, incluindo tudo.

Durante a viagem, li o surpreendente “RUM”, de Hunther S. Thompson, que vai virar filme. É sempre bom ler esse maluco.

Li também “Matadouro 5”, de Kurt Vonnegut. Uma das coisas mais estranhas que já li em toda minha vida pela forma peculiar de contar a história de um soldado que esteve no Massacre de Dresden – um bombardeio das forças britânicas e americanas à uma cidade alemã que matou quase 200 mil pessoas - durante a Segunda Guerra Mundial. Tudo parece tão bobo e irritante e incômodo, numa intenção clara de atingir o leitor para temas sérios como a morte e a guerra. Não imagino como o autor conseguiu construir um livro como esse, com histórias dentro de histórias, personagens diversos e complexos e uma prosa fácil que flui pelos curtos capítulos.

Trilha perfeita da viagem:
- “Do You Want To Know A Secret” – The Beatles
- “C’mon Everybody” – Eddie Cochran
- “King of The Road” – Roger Miller
- “Up On The Roof” – The Drifters
- “Horses” - Bonnie ‘Prince’ Billie
- “Time Has Told Me” – Nick Drake
- “She Belongs To Me” – Bob Dylan
- “Get Rhythm” – Johnny Cash
- “Two Of Us” – The Beatles
- “High & Dry” – Radiohead
- “Don’t Be Shy” – Will Oldham

Saturday, July 28, 2007

e aqui estou eu de volta
à cidade grande dos gabirus
que tropeçam em meio-fios
atravessam alamedas
olhando para ambos os lados
e esquecendo da bagaça
que tem ali na frente

nos grupos,

que insistem em invocar
e provocar
sendo que não furei o sinal
nem esqueci da torre
ou comi a água

você
racha conta comigo
e duvida do meu instinto
e acredita em controle
e nunca enxerga no escuro
e sempre diz a verdade sob o ataque

já percebeu por onde ando?

Monday, July 23, 2007

ontem cheguei a Sao Pedro do Atacama. eu e minha parceira dirigimos muito até aqui. cruzar a fronteira da Argentina para o Chile foi engracado. tomamos 3 enquadros assustadores, com caes farejadores e baculejo geral, no entanto, as Cordilherias é um visual fantástico, com paredoes de gelo e neve imensos de entortar o pescoço e esquecer da estrada. na imigraçao fazia -10 graus e a polícia nao deu trégua, um embasso gigantesco que quase me fez dar meia volta e continuar na Argentina. paramos em Los Andes para pernoitar e depois seguimos numa viagem lisérgica pelas estradas do interior do Chile. As paisagens sao impressionantes. De um lado se ve o oceano Pacífico, do outro montanhas com vegetaçao semelhante à caatinga, porém com cactus e rochas. às vezes entràvamos nas nuvens. subindo ao norte, paramos em Tal Tal, depois de dirigir uns 700kms. conseguimos um hotel vagabundo bem barato. no dia seguinte, mais estrada sem descanso. viemos por uma estrada de terra no meio do deserto que nos trouxe ao Atacama. a cidade aqui é bem pequena e turisca. cara e cheia de gringos europeus. ontem bebemos até cair num bar que estava lotada. conhecemos umas chilenas interessantes que querem ir conosco até o Vale da Lua hoje. veremos.

amanha devo sair daqui. confesso que estou exausto. talvez seja a ressaca, mas até Sampa falta muito. devemos passar por Salta na Argentina e depois seguir por Corrientes, daì entramos nos Brasil por Foz. veremos.

Wednesday, July 18, 2007

àpos rodar mais de 3800km, estou em Mendoza, na Argentina. na beirada da Cordilheira dos Andes, que devo encarar amanha bem cedo depois que conseguir as correntes para as rodas do carro. dormi em diversas cidades, Cascavel, Panambi - RS - onde fui obrigado a parar pois a chuva e a neblina na estrada me impediam de enxergar -, Santa Fé - AR, Cordobá e num vilarejo minúsculo chamado Balde, onde havia um termas decadente e esquecido. a estrada atè foi bem tranquila, qualquer calhambeque furreca pode encarar, chegando a entediar em alguns momentos nas infinitas planícies argentinas. Nos arredores de San Luiz, cruzei uma enorme cordilheira de pedras onde pude ver alguns resquícios de neve. o frio é suportável e as pessoas sao solicitas e educadas, até os policiais. o Brasil é notícia desde que entrei aqui, primeiro a vitória humilhante na Copa América, quando tive que sair do bar por sentir vergonha alheia pelos hermanos; depois com o Pan do Rio; e agora com esse desastre do aviao da TAM - estava passando ao vivo ontem na TV com imagens da Bandeirantes. silencio.
ainda pretendo visitar Santiago e Catamarca. e como o caminho nao tem volta, nao sei exatamente quando estarei de volta.
deixo um abraço aos amigos.

Tuesday, July 10, 2007


Dirigir. Vou dirigir por um bom tempo. Por estradas secundárias desconhecidas cortando o horizonte e postos de gasolinas descascados no meio do nada. Onde eu possa fumar um cigarro tomando uma cerveja com poeira assistindo um caminhão manobrando ali na beira da rodovia. Sem conforto. Sem pressa. Talvez durante umas 3 semanas.
Ainda não sei quando começo a jornada, mas pretendo abandonar alguns vestígios por aqui sempre que possível. Este endereço nasceu numa viagem. Essa era sua função. Então, até, mutchachos.

Thursday, July 05, 2007

Elliott Smith sabia das coisas.

http://www.youtube.com/watch?v=p4cJv6s_Yjw&eurl=
Preso a todas essas lágrimas de ferro e metal. Eu desço. Como uma bala na madrugada. O terror sobre borracha. Sinais que existem para serem furados. Quem me dera estivesse morto. No dia mais frio do ano. Num sopro. Na aurora. No asfalto da cidade. Eu sei que você nunca iria me encontrar.

Wednesday, July 04, 2007

O tédio mata desde que você foi embora. A rotina também, já que agora apenas escuto algum Bob cantando no rádio. Fumo mais cigarros que deveria e não me sinto um herói por isso. Estou apenas estudando minha dor que seca junto com a poeira desta casa. Você soube me acertar. Matou-me pelas costas cobrando lealdade. Mas está tudo bem comigo. Agora eu apenas espero o final da tarde para uma longa caminhada pelos arredores do bairro. Não peço mais nada, só preciso sair dessa cidade. Eu preciso fugir antes que seja tarde. Permanecer sozinho sem tentar entender as políticas da vida. Me concentrar apenas no que é importante. Na estrada. Onde o céu se funde com a paisagem. Onde as nuvens abstraem minha mente problemática e trazem a chuva. Onde os cavalos desaparecem dentro da noite.


“Love Comes To Me” - Bonnie ‘Prince’ Billy