Monday, September 17, 2007
Sábado de sol, saí para comprar drogas de Opala. Fiz o avião e, voltando pra casa com o som no talo e os vidros escancarados, parei num sinal, fiz a velha pose de durão, traguei o cigarro e olhei pro lado. Tinha ali, a menos de 1 metro e mei da minha fuça, um bigode de policial montado numa moto com as cores da bandeira de São Paulo. Não pude deixar de escapar um sorriso da minha cara, rindo da dele. Eram três encapacetados motociclistas militares armados de pistolas e gás pimenta cercando meu carro. Eles não gostaram de mim. Seguiram-me até a frente do Estádio do Pacaembu, onde me mandaram encostar. Encostei. Pelo retrovisor, vi o bigodudo me chamar com o indicador, ainda sentado na moto, parecia o Magnum. Desci e encostei as mãos no teto do carro. O puliça perguntou se eu tinha algo em cima. Neguei e perguntei se eu tinha feito algo suspeito. “Sua cara é suspeita”, ele interviu educadamente. “Você tá chêrado?”, quis saber depois de me revistar. “Lógico que não! Acabei de acordar”, repliquei às 5 horas da tarde. “Vamos revistar seu carro, se tiver alguma coisa ai é melhor falar logo, porque a gente acha”, disse o outro PM, esse um pouco estrábico. “Não se preocupe, senhor. O carro é todo seu”, falei rindo, pois a primeira frase lá em cima é mentira. Para quebrar o gelo, comentei que meu carro era como um filho rebelde para mim, falei também que meu time entraria em campo em pouco tempo, por isso precisava chegar logo em casa. Enquanto isso, a avenida do outro lado da rua estava congestionada e eu era a atração dos motoristas, comentei isso com o policial que me vigiava. “Não liga não, eles não têm o que fazer”, ele concluiu assim, de forma genial, a curiosidade assustada das pessoas que assistiam três motos da polícia paulistana, com aquelas luzes rotativas acesas, enquadrando um paspalho descalço de bermudas num Opala preto às 5 horas da tarde na Praça Charles Muller. É, tive que concordar. “Abre aqui o porta-malas pra gente”, disse o vesgo, o maldoso da turma, “só gira a chave e sai fora. Quero ver se tem aquele quilo de cocaína aqui”, disse ele com o berro em punhos. “Cocaína?! Magina, só tem um cadáver, só não tenho certeza se ele tá morto mesmo”, falei enquanto pensava se existia alguma coisa que pudesse me complicar ali. Nada. A tensão diminuiu. Minha boca voltava a salivar e eu cumprimentei os senhores policiais, entrei no carro e vazei. Na noite anterior estava conversando com um amigo meu, o papo, em certo momento etílico, caiu em enquadros. Cada um lembrava dos enquadros da vida. Lembro de ter tesourado o assunto na metade, alertei que falar sobre isso atraia. Outra coisa, nunca tire onda quando a policia te parar, o certo é descontração e tranqüilidade para lidar com os agentes da lei. Se você tiver um tijolo no bolso da jaqueta ou encaixado na virilha será mais difícil disfarçar calma e as chances de tomar no rego são grandes, mas não se entregue e nem reaja, entre no jogo, eu disse, uma das piores coisas na vida de um homem é cair no sistema como culpado.
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