por
aí com pinta de fugitivo de hospício. tava apenas pensando no disco novo
daquela banda de frisco e nos nomes dos remédios que a gente era apaixonado. juro que
não percebi que era mesmo você parada ali na calçada. a cidade toda molhada e brilhando
como uma viagem atormentada de ácido. você e os pingos flutuando
através da luz elétrica. seu vestido balaçando como uma bandeira branca na borda de uma trincheira. É solitário por esses lados, você me disse. vamos dar uma volta. vamos até
aquele bar. onde sempre tem alguém chorando no balcão. aquela paródia de
purgatório. onde os cachorros do inferno estraçalham o lixo dos banheiros. eu
sei que eu nunca vou conseguir superar a perda da frágil segurança da minha
solidão. seus drinques de veneno. seus dentes de leite. seus tênis rabiscados.
ri quando você me falou que aquele senhor balança as pernas como uma galinha
antes de cagar. caminhamos madrugada adentro num silêncio flamejante. pessoas
gritavam das janelas dos edifícios invadidos. foi só quando passamos por baixo
do viaduto, sob um intenso brilho vermelho, que eu percebi as lágrimas. um
banho de lágrimas encharcando seu rosto com toda a tristeza que existe. as ruas
não pareciam nada bem. elas nunca parecem. por isso voltamos sempre para aquele
lugar.
Saturday, September 27, 2014
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