Na minha infância e adolescência, o mundo das HQs girava em torno da Editora Abril. Lia muitas revistinhas de super-heróis, como Marvel, DC e a Espada Selvagem de Conan. Nunca fui muito fã dos quadrinhos semanais da Disney, mesmo assim comprava alguns na falta de novidades, até esses eram publicados pela Abril, e a numeração já beirava pelos 2000 (Pato Donald, Zé Carioca e Mickey), hoje nem imagino se zeraram ou não. Apenas a porcaria da Turma da Mônica era vendida pela Editora Globo, que eu nunca comprava. Gastava até os tickets refeição que ganhava vezenquando do meu pai, e sempre que tinha chance, furtava algumas moedas para inteirar num gibi na banca perto de casa. Os furtos em bancas de jornais também eram constantes e sempre tive problemas com isso, já que nunca estava satisfeito.
Eram quadrinhos com páginas de papel jornal, com cores primatas e formatinho janota, apenas a ESC era no formato Veja, com capas muito fodas pintadas pelos fudidões americanos como Noren, Jusko e Boris Valejo. Quadrinhos adultos eram raros, alguns álbuns do Manara e Crepax já existiam, entretanto apenas em livrarias e por preços exorbitantes. Minha grande sorte era o pai setentão de um amigo meu, que possuía uma pilha desses jóias amontoadas na garagem de sua casa. No final dos anos 80 - eu estava então com 11 anos e cheio de berebas -, começaram a surgir alguns títulos mais elaborados na praça, como a Animal, a Chiclete com Banana e Love & Rockets, eu preferia a primeira e comprei todos os números. Era de uma putaria desgramada, personagens drogados e violentos, como Ranxerox e Squeak, the Mouse, e muitos sexo sujo, fora os desenhistas que destruíam na pena.
Na copa da casa dos meus pais tinha uma estante podre, onde eu guardava as revistas no topo. Lá era meu sofá ou sotão, me deitava ali em cima, tomando Nescau e chupando balas Sete Belo, e passava as tardes lendo e rabiscando nos cadernos da escola. Nunca fiz dever de casa. Cheguei a ter mais de 700 quadrinhos amassados entre a estante e embaixo da minha cama. Como mudava muito de cidades, no percurso era obrigado a fazer uma triagem e eliminar aquilo que fosse pesar demais. Quando saí da casa dos meus pais, aos 18 anos, deixei tudo em algumas caixas de papelão. Numa faxina que ocorreu para transformar meu antigo quarto num depósito ou escritório, sem que eu soubesse, largaram as revistas encostada num poste na esquina para algum catador de papel cair matando.
Hoje em dia minha coleção é muito mais modesta. De revistas mensais coleciono apenas Conan, o Cimério (que está capenga segundo a Mithos) e algumas edições do Lobo Solitário. A Conrad melou a cueca com Vagabond, que era meu título preferido, mas prometeu voltar em Março (se não me engano ou fui enganado) com livros que comprimem 3 edições. Os títulos da Marvel agora são divididos por duas editoras menores e mais competentes e atenciosas com os leitores.
Atualmente, tropeço por bancas e fico impressionado com a quantidade de títulos, graphic novels e álbuns e a variedade de capas para um mesmo personagem que posso encontrar. Pixel, Mithos, Devir, Conrad, Panini, a gama é tão diversa que fica difícil citar todas. A nona arte está em alta. Com as várias adaptações para o cinema e o aumento do número de quadrinistas e leitores, eu acredito que nunca se teve tantos quadrinhos acessíveis à vista, apesar dos preços salgados, já que gráfica nunca foi fácil. Claro que muitos são de qualidade duvidosa e o dito underground já não sangra como antigamente. Mesmo assim, é gratificante chegar numa banca e encontrar coisas que antigamente só seriam encontradas em lojas especializadas como Pratt, Crumb e Eisner.
Thursday, February 08, 2007
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1 comment:
nossa! usaram.
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