Ontem, no pé-sujo aqui do lado do meu emprego, um velho camarada virou pra mim e disse: “Carlinhos, ainda bem que você voltou ao normal”. Normal como?, perguntei ressabiado. “Assim, podre, esse lixo que você realmente é”, ele respondeu com a boca cheia de amendoins. Dei um sorriso de lado, cocei o queixo e um cachorro apareceu do nada e cheirou a poça de cuspes que eu tinha formado ao lado da cadeira. Entendi o quê ele estava falando. Meus pais sempre diziam isso quando eram chamados no colégio. O motoboy gordo ao meu lado desferiu um tapa na minha nuca. Eu estava tão absorto que sequer reclamei. Eu sou um lixo. De marca maior. Mas não sou um pipoca murcha. Eu sei me dar bem. Sempre serei assim. Nunca levarei uma vida convencional, disso já basta meu emprego, que me garante nessa corrida. Às vezes dou uma relaxada, arrumo uma vulva suculenta que me faz ficar um pouco mais em casa, contudo, subitamente eu volto para as ruas. Eu gosto disso, de pegar o carro, com uma garrafa de vinho barato encaixado no meio das pernas, Sonny Boy Williamson cantando que pode fazer tudo por conta própria no som e eu dirigindo bêbado, sozinho e feliz. Daí paro em algum lugar, ou encontro meus amigos na Roosevelt e a gente fica falando merda até de manhã. É disso que eu gosto. E eu não vou mudar. Eu não quero casar, nem ter filhos. Nem ninguém me dizendo o que devo fazer. Não quero ser chefe de ninguém, muito menos proletariado. Quero apenas ser livre para ficar por ai, viver da forma que me apeteça, conhecer novas mulheres, músicas estranhas, livros eternos, com o cotovelo no balcão, olhando a grama crescer, como Walt Whitman, para depois morrer e virar adubo. Voltei cedo pra casa ontem, pensando em nada. Estacionei o Opala da madrugada todo torto. Estava realmente bem. Sentei na mesa da cozinha e horas depois saiu alguma coisa. Dessas que me fazem encostar na pia fumando um cigarro e refletir.
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Hoje o Fluminense estréia na Libertadores. Vou assistir de cueca no sofá. Sem corneta. Se meu time fizer um gol, talvez eu dê um assobio pela janela. Vai rolar um eclipse também. Que maravilha. É engraçado, sempre dizem que o próximo eclipse só acontecerá daqui 432435 anos, mas sempre rola um ou outro no ano seguinte. Acho que nunca presenciei um. Vou jogar pedras na Lua.
Wednesday, February 20, 2008
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2 comments:
"sou um lixo. De marca maior. Mas não sou um pipoca murcha"...I think that you need more distraction..rsrsr...
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