Li “Sangue de Bairro” na Animal no começo dos anos 90. Lembro que fui na casa de um grande amigo que tinha um pai colecionador de HQs. Ele arremessou o exemplar no meu colo e me disse para ler. Passei a tarde no quintal dele, sentado numa cadeira enferrujada, acarinhando o cão com a sola do tênis, entre um baseado e outro, devorando uma das histórias em quadrinhos que mais me marcaram a vida. Fiquei impressionado com o traço econômico e cheio de estilo do espanhol Jaime Martin. Ontem fui ao Mercearia e o Marquinhos me mostrou a edição que a Conrad lançou esses dias. Nem imaginava que se tratava de “Sangre de Barrio” - eles colocaram o péssimo nome de “Vida Louca” - mas folheando ele ali no bar delirei, foi como escutar de novo aquela música esquecida favorita da adolescência. Garanti o meu. Essa edição é completa, eu nunca tinha lido a história inteira que tem 3 partes. Passei a tarde fazendo isso hoje. O quadrinho de Jaime Martin conta a história de um moleque novo num bairro na periferia de Barcelona. A primeira parte mostra sua chegada, seu envolvimento com a gangue, pequenos furtos, drogas e bebedeiras, noitadas e roubadas, o "Rumble Fish" dos quadrinhos. Tudo no embalo das bandas undergrounds espanholas da época. A cena de Vince bolando um beque e fumando na janela do quarto enquanto rola um som e ele se prepara pra cair no rolê é muito foda, aquilo ali é poesia, truta. As duas últimas partes que eu não conhecia seguem um pouco monótonas perto da primeira que é uma pedrada, mesmo assim, não deixam de ser empolgantes. O que bateu mesmo, como na primeira vez que li há quase 20 anos atrás, é a tristeza que essa história carrega. É como aqueles finais de tarde de domingo, que você fica andando pelo bairro sozinho, sentindo saudades de uma namorada que nunca teve e a sensação de derrota por não fazer noção do que vai cair na prova de matemática no dia seguinte.
Wednesday, April 16, 2008
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1 comment:
cara, eu achei essa Animal num sebo, tempos atrás. é muito foda, realmente. a primeira trepada do cara com a puta do colégio, cafungadas na praça pública e tudo mais, não imaginei que fosse encontrar justamente essas coisas numa hq.
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