Gláucia era uma criança grande que não gostava de ser amolada. Nem de trabalhar. Gláucia não era chegada em banhos. Nem um pouco. Nem em meias. O tipo de garota negligente que sempre arrebentava a pulseira do relógio. E enquanto andava por ai com sua bocarra aberta para o pavimento irregular, Gláucia sentia como se pudesse engolir o mundo, de uma só vez, apenas para depois defecar uma massa cinzenta na mesma calçada cheia de gente. Positivamente negativa, por opção, claro. Nesta cidade. Gláucia era assim, tinha uma visão bem aguçada e não se deixava levar pelo papo furado. Alguns diziam que ela era louca. Não creio. Nem duvido que me apaixonei por ela. Quando ficava nervosa, Gláucia quebrava coisas e se sentia bem melhor em seguida, dançando com a noite escura e silenciosa uma música que tocava alto em seu jukebox mental. Sem remorsos. Eu ainda penso muito em Gláucia antes de dormir, só que um dos meus irmãos bem que me alertou, “Gláucia se casou com ela mesma, não pense mais nisso, volte ao trabalho”. Soube esses dias que Gláucia foi vista semanas atrás comprando mantimentos enlatados no armazém do seu Pedro. Dizem que ela desapareceu pela interestadual que desce para o Sul. Já não mantinha mais contato com ninguém e sempre fugia quando me via na rua, ou você. Não acredito que Gláucia esteja morta. Gláucia é uma criança grande e aborrecida de olhos vermelhos. Não há nada de errado com isso. Tá tudo certo. Como deixar a porta de casa aberta a noite inteira. Razoável. Para que as lembranças escafedam-se.
Wednesday, September 02, 2009
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