Choveu durante 27 horas sem parar. Um dia cinza e entediante que me transportou direto para minha infância. Agora minhas lembranças estão mais nítidas e alimentadas. Assisti as nuvens se liquefazerem no horizonte. Não existe nada tão melancólico quanto uma metrópole, esvaziada por um feriado prolongado, num fim de tarde chuvoso.
Ao amanhecer empacoto minhas coisas e sigo o caminho de Palmas. Serão 800km de estrada mal sinalizada, e suponho que em boa parte do trajeto enfrentarei uma rodovia sem faixas de segurança, olhos de gato ou guard rails e com muitos caminhões - segundo informações recentes, o asfalto é liso como pele de serpente.
Vizualizo um quarto de motel vagabundo de letreiro neon azul piscante, uma televisão com um buraco de bala. O sinal falho. Borboleta-bruxa acerta repetidamente o vidro da janela, por onde o vento assovia. Lá fora, na rodovia, um trovador caipira caminha tocando as cordas tristes de seu alaúde enquanto canta baixinho em alguma língua esquecida.
Seguramente precisarei de mãos firmes e olhos atentos para poder voltar e enfrentar os bastardos, com o corpo coberto de óleo diesel e muita poeira de Tocantins.
Saturday, January 01, 2011
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3 comments:
Massa!!!
Seus textos são foda!!
Du caralho essas suas viagens, Carcarah! Um grande 2011 pra você! Abração.
firmeza, porra.
grande abraço pra vocês.
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