Ontem assisti “Coração Selvagem” pela segunda vez. A primeira foi em 1998, quando tinha acabado de mudar pra São Paulo e ainda morava com meus pais, daí toda noite alugava um filme, comprava 6 latas de cerveja e um pacote de amendoim e assistia com o volume baixo no sofá da sala. Nesse curto período, assisti tudo de Coppola, Gus Van Sant, Scorcese, De Palma, Oliver Stone, Cronenberg, Jarmusch, Lynch, entre outros. “Coração Selvagem” foi um dos filmes que mais me marcaram naquela época, já que têm todos elementos que gosto: é um rodie movie de estilo, com cuidado absoluto na composição das cenas e atuações que beiram o hilário sem perder a classe, e, até porque, é interessante compará-lo com outros dois títulos – “Terra de Ninguém” e “Assassinos por Natureza” – que seguem a mesma temática: um casal extremamente apaixonado com pais féladaputas, polícia no encalço, berros, sangue coagulando no deserto americano, Bonnie & Clyde, carros antigos e cheiro de gasolina.
Acredito que “Terra de Ninguém” foi a grande influência para os outros dois títulos, já que esse filme, de 1973, do cultuado diretor Terrence Malick, estrelado por Martin Sheen e Sissy Spacek (a Carrie, a Estranha), do mesmo modo, conta a história de um casal numa tediosa cidade americana que fica com sangue nozóios depois de tanta lenga-lenga. Como o pai da mutchatcha não aprova o romance, Kit (Sheen) descarrega uma pistola no arrombado, taca fogo na casa e foge com a guria pelas belas estradas empoeiradas dos EUA com a polícia na cola. O roteiro é baseado numa história real de assassinato que aconteceu em 1958 ali nos arredores. Sem moralismo ou julgamentos de merda, você acaba ficando do lado dos bandidinhos.
“Assassinos por Natureza”, que já pode ser considerado um clássico cult, na minha humilde opinião, hoje em dia me parece datado. Com visual de vídeo clipe do Guns n´Roses, Oliver Stone cria uma história com as mesmas características do filme de Malick, o que muda é o visual da época em que foi filmado, 1994, o ano mais estranho daquela década. Enquadramentos peculiares em diagonal, PB, animações, uma trilha sonora chapada e grandes atores junkies, como Woody Harrelson, Juliette Lewis e Robert Downey Jr., estão na história de Mickey e Malory Knox – dois canalhas apaixonados assassinos que fogem pelas estradas americanas e acabam famosos pelas traquinagens que aprontam pelo caminho. O problema é a velocidade do filme, que em certas horas parece uma viagem de ácido anfetaminado com a overdose de imagens que acertam a vista, no entanto, Juliette Lewis é uma xavasquinha e tanto, com aquela boquinha sacana e a bunda seca balançando na tela.
Já a película que citei no primeiro parágrafo é a minha favorita. É a mais completa por tratar o tema com mais apuro, classe e uma dose cavalar de cinismo e diversão. Nicholas Cage e Laura Dern são os personagens principais dessa história com pinta de fábula, com uma bruxa velha, feia e má e bandidos arrepiantes e salivantes que correm atrás deles. Lynch abusa das referências, mas faz isso com a elegância duma putinha lambendo o sangue dos lábios depois de tomar uma muqueta do gigolo. Sailor (Nicholas Cage) é um clone de Elvis Presley sem vergonha que foge com Lula, sua garota porra-louca e berrona pelas estradas americanas. Todos os elementos usados no filme parecem ter sido bem estudados, desde a jaqueta de couro de pele de cobra de Sailor até os sapatinhos de bico fino da mãe da garota. As cenas em quartos de hotéis baratos e postos de gasolinas na beira da estrada também são de extremo bom gosto, carregadas de sentimentos e poesias de guardanapo. A cena no deserto em que Lula intrigada não encontra a porra duma música no rádio do carro é clássica: Sailor acorda no banco de trás, gira o tunning e coloca um heavy metal zuado para os dois mostrarem que kung fu também é dança.
Para terminar logo essa merda, são 3 filmes que funcionam para assistir com a mesa de centro cheio de restos de cigarro e cerveja e batata Pringles, enquanto sua pequena chapada com as unhas descascadas roça o pé sujo no seu.
Chega.
P.S.: Obrigado, Maldito Carazón. Confundi feio. Os dois são do Malick.
Wednesday, February 14, 2007
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3 comments:
Carlos, você está confundindo "cinzas no paraíso" com "terra de ninguém". "cinzas no paraíso" é um filme com o eterno gigolô richard gere (que por sinal tem um road movie bem bom "breathless", um dos primeiros dele, de 83). "terra de ninguém" é mesmo muito bom e a sissy spacek era lindinha em 73. na 2001 está em promoção, quase o preço de uma locação. vale a pena.
vixi.
confundi feio. dois do Malick.
ok henrique.
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