Monday, January 14, 2008
nascido para perder
Passei 3 dias nas ruas com meus amigos. Não entendo essa minha necessidade, mas não posso chamá-la de vício, já que dificilmente me arrependo no dia seguinte. Isso só acontece quando tenho que trabalhar sem dormir ou tomar uma ducha. Dessa vez eu tinha atestado - ou seria um alvará? – para acordar na hora que desse na telha. Gosto de sentir a cidade de madrugada, “sozinho, andando por ai, sem estar apaixonado por ninguém”, como já dizia Iggy Pop. Visitar o amigo que não vejo há anos e encontrá-lo de cueca sentado na colchão encardido com os mesmos tênis do último rolê, em 2002. A poeira é tanta que não tenho coragem de andar em casa descalço e como não tenho chinelo, segundo o próprio. Trocar poucas palavras fumando um cigarro apoiado na janela que dá vista para a parede descascada de um prédio enquanto as embreagens controlam os motores lá embaixo. Depois subir a Augusta que pisca e todos aqueles malucos arregalados entrando e saindo de pequenas portas de ferro. Meu camarada francês oscila entre o valentão e o cara que abraça desconhecidos. Darci está calado, apenas grunhi entre baforada espessas de fumaça. Na 13, uma guria de lentes de contato azul se oferece de avião. Conta que tem 3 filhos e que pouco se fode pra eles. O ex-marido que cuida, aquele bosta, segundo a própria. O Opala cruza uma viatura em baixa velocidade. O gambé no banco do carona da S10 com o cotovelo pra fora me encara, eu o evito, faço cara de quem saiu da missa. Na sinuca, no rateio, juntamos 4 e 95. Ainda resta uma última garrafa. O dia começa do lado de fora. Ninguém parece se importar. Uma bicha me oferece tique-taque. Eu aceito pra aplacar o bafão curtido em cerveja e nicotina. Ela jura me conhecer. Dáonde mesmo hein?, pergunta. Talvez da casa do caralho, eu respondo. Respondo errado aliás, já que o pequeno perobo se acende. Casa do caralho, ai, onde fica isso mesmo? Ela segura meu braço esquerdo. Nenhuma resposta me sai. Apenas um tapa na orelha, de leve, pra não machucar a bichinha. Ela gira e sua carteira dá sopa. Eu puxo e abro. Setenta e cinco dinheiros. Tomo cinqüenta e devolvo a carteira. A coitada se esperneia e grita estridente. Devolve meu dinheiro! Devolve meu dinheiro! Os bicos dos pés se encontram, como uma seta. Devolve meu dinheiro! Esse dinheiro é meu, eu digo, tá querendo me roubar? Chama a polícia, irmão. Darci consegue falar. Algo se inverte. O francês interfere. Devolve o dinheiro da bichinha. Eu devolvo, penso em dar um conselho sobre não aporrinhar as pessoas. Desisto. Caminhamos. O lixo acumula na calçada e, àquela hora da manhã, é possível perceber como as pessoas são tristes na Aurora.
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