Monday, November 26, 2007
A noite estava refrescante. Daquelas que ninguém queria ficar em casa. As crianças da vizinhança faziam uma roda e conversavam sobre coisas legais. As risadas ecoavam pelas nuanças e sombras da rua. Um gato dormia na porta da casa da Dona Veva. Eu caminhei até o armazém e comprei um chocolate e fiquei pensando na porra da conta d’água que eu precisava pagar no dia seguinte. Sentei num banco na Praça dos Cata-Ventos e fiquei conversando sobre músicas de amor com Chica Mendiga. Cantei algumas das que lembrei pra ela, que ria banguela balançando as pernas. Dormiu ali mesmo. Depois caminhei até a porta da maternidade e fiquei sentado na mureta que tem lá. Douglas passou com seu Corcel bege e parou. Perguntou se eu queria ir atrás de encrenca. Sua idéia era pegar a estrada até Formosa, uma cidadezinha do interior onde a gente podia encher a cara longe dos olhares fofoqueiros da nossa própria cidade, arrumar uma boa briga e, além disso, umas bucetas. Eu disse que estava bem, preferia ficar ali sentado na mureta da maternidade até o sono bater. Alguns minutos depois, Sofia chegou apressada segurando a barriga como um tonel seguida pelo seu marido, o seu Jair, dono da Mercearia Rosas. Acho que eles nem me perceberam. Naquela noite, Douglas não conseguiu fazer a curva, acertou o guard rail e voou lá pra baixo do barranco. Esmerilhou o carro e a cabeça, ficou parecendo carne moída enrolada em pano de chão xadrez. Douglas era um sujeito malvado. Não sei por que ia com a minha cara. Talvez não merecesse morrer daquele jeito. Todo mundo comentou aquela fatalidade, porém, dois dias depois ninguém mais se lembrava. Eu fiquei com aquilo na cabeça por um bom tempo, até que um tio meu, algumas semanas mais tarde, deu um tiro na cabeça ouvindo Pink Floyd. O filho da Sofia virou jogador de futebol e saiu daquela cidade de merda. Chica Mendiga arrumou um carroceiro e os dois sumiram na estrada.
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