Wednesday, April 08, 2009

Naquela noite cheguei em casa com alguma coisa queimando minhas entranhas, como se tivesse jantado uma pantera sem mastigar e, com uma violência dilacerante, ela tentasse escapar rasgando as paredes do meu estômago. Esvaziei meus bolsos, abri meu cinto e arriei minhas calças, sentei o rabo na privada, descansei os cotovelos nos joelhos e mandei um baita cagalhão. Senti a merda escorrer do meu reto e afogar na água transparente. Eu encarava a profundidade dos azulejos quando senti um alívio profundo. Uma calma indígena. Respirei fundo. Minha merda só fede para os outros. O ar dos livres é bem mais puro, mãe. A cidade estava quieta lá fora. Já não escutava nada, quase, até porque o vento não sopra mais nessa capital.  Dei descarga com vigor. Fui até o som e coloquei um vinil do Charlie Parker. Slim`s Slam. Bem baixinho. O pássaro cantava anunciando um novo amanhecer. Pessoas carregavam fardos e iam aos seus pontos de ônibus.  Era cedo para alguns, eu sabia. E pensava naquele carro abandonado no meio de uma ponte, com a porta aberta e o rádio ligado. Pensava naquele rosto pálido olhando o escuro da cidade através da única janela acesa daquele prédio. Eu pensava em Josefina gritando, enquanto era amarrada e sugada por uma ambulância, que as pessoas, elas são idiotas, sabe, baby. 

2 comments:

Adriana Godoy said...

o buraco é mais embaixo, gostei desse texto escatológico, uma catarse pelo outro lado do mundo. Bj

ninguem said...

Como disse um romano para o tal do jesus: "Maluco do céu!"

Caraia carcaraia, tá cada vez mais foda.

As pessoas por aí esquecem a diferença entre mas e mais e você domina essas porras dessas palavras meu fi.

E que se foda o mundo humano.

Amanhã tô lá, na única festa que assume...........