Friday, November 21, 2008

eu relaxei e estava pensando
afinal
se fugir 
era uma boa idéia.

a primeira coisa que me lembro 
depois disso, 
foi que um bando de filhos da puta me seguravam. 

opa!

eles gritavam: 

calma calma

mas não calmei 

nem fudendo. 
escorreguei pelos braços. aquele monte de carne. 
escapei. escorri pra caralho. 
depois, relaxei. pensei e decidi, 
afinal, 
fugir é uma grande idéia. 

escutava apenas meus passos, 
e de fundo - antes das curvas -
alguns palavrões curtos ecoavam 
pelas paredes dos galpões. 

baixei a cabeça e continuei a correr. 
olhava meus sapatos 
no vice versa
minha respiração a falhar
foi me subindo um pânico pela culatra
eu suava como se estivesse derretendo
me dizia: te controla, parceiro, 
corre mais um pouco

vai 

então, encontrei uma garagem
lá não havia carro, 
nada guardado
apenas um grande vaso 

encostado na parede 
me acocorei
escutava risadinhas 
risadas de mulheres 
aquilo lixava meus nervos 

gelei

Tuesday, November 18, 2008

Severino aparece tarde. fedendo como de costume, inchado, com os olhos lacrimejantes e os ombros encolhidos, chega devagar depois que eu abro a porta e com sua voz pastosa pergunta: 

- tem um cigarro?
- claro. entra.

ele me conta que o pai do Alexandre morrera de AVC e que depois do enterro todos foram beber à sua memória. disso eu já sabia. seu Jeferson, o pai do Alexandre, era um grande cara. passavámos muitas madrugadas em sua casa jogando cartas e tomando conhaque Presidente. a molecada toda. ele era sempre o mais animado. creio que fazia isso numa forma de nos manter longe das ruas. mas ele sempre perdia. perto das 5 da manhã, seu Jeferson se levantava e começava a lavar a louça da pia. era o sinal para que cada um arrumasse seu canto e dormisse. eu sempre capotava sobre um tapete felpudo que ficava no espaço entre a mesinha de centro e o móvel da televisão.

- porra, um monte de gente continua morrendo - Severino diz, parece muito triste.
- é. a morte está sempre presente.
- mas o Tex Willer continua firme e forte - ele diz isso enquanto aponta o indicador para a janela aberta.
- é. 
- ele nunca envelhece...
- como está o Alexandre?
- ele queria saber de você. porra, creio que agora as coisas vão realmente fuder pro maluco. ele estava silencioso hoje, o tempo todo, talvez tentando pesar suas chances. tentei conversar, mas ele continuou quieto, dolorosamente sensível.

Alexandre é meu amigo desde à infância. crescemos juntos. seu pai tinha um Fiat 147. a gente conseguia abrir e ligar o carro com uma chave de fenda. aprendemos a dirigir nele, isso em 1986. de madrugada íamos pra Colina. lá havia um grande estacionamento ermo com árvores magricelas, onde casais trepavam em seus carros com os vidros embaçados. fazia sempre um frio danado, um vento que soprava pro leste. a gente ficava bebendo Presidente e fumando cigarros baratos, falavámos de bandas, das garotas, encostados no capô do carro e encolhidos dentro das jaquetas. cantavámos "fotografia 3 x 4" do Belchior com lágrimas nos olhos. naquele mesmo ano, sua mãe passaria cinco vezes pelo hospital, até morrer de ataque cardíaco de tanto fumar e beber. 

- você devia ter ido ao enterro.
- eu sei. perdi a hora.

pela janela, vejo a vizinha estendendo um lençol para servir de cortina. privacidade após o banho. pela jeito ela se deu bem hoje e voltou cedo. na noite passada, bêbado, fiz uma serenata. eu cantava que por ela eu poderia mudar, juro, tudo para ficar ao seu lado pelo resto minha da vida. nem me lembro quando fui dormir. acabei perdendo a hora.

queria socar uma bronha

tô quase bom hein. 
quase... naquelas 

cansa fazer nada. daí desenho um pouco, leio bastante - mas abandonei os jornais - e fumo bastante também, e durmo às vezes. sinto falta das ruas e dos amigos. não vejo a hora de ficar bom e conseguir dar uma bica na bunda de todos. fico com o computador um pouco e dou uma trabalhadinha de leve, encaminhando os passos para quando melhorar mesmo; depois descobro músicas estranhas, coisas do Tampa Red e do Ry Cooder, Merle Travis, pesquiso as primeiras gravações do Elvis pela Sun Records e descubro que "Put your Cats Clothes On", do Carl Perkins, pode estourar meus pontos.  descubro também que o álbum "Histoire de Melody Nelson", do Gainsbourg, pode me ajudar. minha cabeça está tranquila até. sinto-me tão saudável e tenho raiva disso, comi até bolo hoje. quero um garrafão de vinho e uma mesa de sinuca cercada de vagabundos. e que todos os comentaristas de futebol vão à merda, puxa vida. 

malvados

Monday, November 17, 2008

ar minina


HOJE

Sunday, November 16, 2008


porra, eu deveria ter assistido "Marcado pelo Sarjeta" há muito tempo atrás, quando eu ainda era moleque e vasculhava os VHSs das locadoras atrás de filmes dessa linha, pelo fato de ser, exatamente, o tipo de filme que eu gosto, que trata desses desajustados sem esperança, putos, que vagam na merda até encontrarem uma borda para se agarrarem ou permanecem nela até afundar o queixo. esse filme conta a história do lutador de boxe Rocky Graziano, desde sua infância tranquêra matusquela, sua juventude de roubos e encarceramentos, até seu primeiro título mundial dos médios-ligeiros - numa revanche arranca-toco contra Tony Zale. o roteiro destrói, num ritmo ágil, inteligente, às vezes pesado noutras engraçado, de uma maneira que nem sonham em fazer mais hoje em dia; e têm as cenas em p&b da NY dos anos 40, que lembram uma graphic novel do Will Eisner e fazem a boca abrir e os dedos dos pés se encolherem. Paul Newman manda muito bem fazendo a persona de Graziano, um cara que carrega uma culpa autodestrutiva atrás da orelha, uma vontade de foder com tudo, de riscar a faca na cara dos otários, mesmo não sendo um sujeito mau, que no entanto, caminha pro lado errado com convicção. mas, eis que o destino não deixa que ele se foda assim, tão fácil, e coloca uma bela mulher(Pier Angeli) em seu caminho, que com muita astúcia, dá um jeito no campeão. A cena, antes da grande luta, em que ele confronta o pai brabo, é de lascar o mármore da alma. grande filme. bom pra assistir sozinho. 

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desde já, recomendo essa entrevista com Miécio Caffé.

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Mitch Mitchell está morto. que bosta. o último remanescente do Jimi Hendrix Experience. um baterista que tinha problema de cabeça e muito estilo. um dos meus favoritos. aos 15 anos, eu fumava uma catronca e ficava de olhos fechados, estapeando minha coxas e batendo os dedos no ar, escutando o som desse cara, fingindo que era ele e que tinha uma multidão seminua me assistindo. estou fazendo isso agora mesmo.

"Bold as Love" - The Jimi Hendrix Experience


Friday, November 14, 2008

minha namorada, apesar dos ressentimentos, cuidou muito bem de mim nesses dias dolorosos. uma grande mulher que chamo de Pequena. quando cheguei na maca com rodas da sala de cirurgia, ela já me esperava no quarto, com um sorriso triste no rosto e as duas mão unidas em sinal de solidariedade. querida, ganhei uma xoxota pra gente, eu lhe disse. 
muitas dias de insônia e noites em claro se passaram. é difícil dormir com um rasgo do tamanho de um lápis bem ao lado dos bagos. além disso, não consigo dormir olhando pro teto. não que eu durma de olhos abertos, mas a posição de defunto realmente detona as costas e me impede o desligamento. tento, em vão, girar levemente meu corpo pro lado esquerdo, até aguento alguns segundos, entretanto, a ferida late e eu volto pro tutankamon. mesmo assim, desde ontem, já consigo caminhar, aliás, é o que eu mais faço agora, apesar dos alertas. sentar é burrice. nos 3 dias que passei deitado, senti uma sensação semelhante a uma garrafa tampada de coca-cola chacoalhada. assim, caminho lentamente, pisando de leve e gemendo baixinho, como um zumbi, a diferença é que não levanto os braços pra frente nem tombo a cabeça pro lado. sou uma pessoa aflita, descobri. 
li "A Arte de Produzir Efeito sem Causa", o novo livro do Mutarelli, ontem mesmo. gostei pra caralho. fiquei um tanto perturbado com o Júnior. e ainda tento descobrir quem enviava a porra daqueles pacotes. já à noite, assisti "O Cozinheiro, o ladrão, sua esposa e o amante", de Peter Greenaway. creio que essa combinação, mais as doses cavalares de antibióticos, analgésicos & antinflamatórios sejam os motivos do pesadelo mais horripilante que já tive em toda minha vida. dormi 1 hora e meia nessa última madrugada, e sonhei que era atacado, em diversas situações, por baratas voadoras no cio, policiais fardados cariocas e ex-mulheres que colocavam fogo nos meus cabelos e tentavam arrancar meus dedos no dente. acordei empapado de suor, com os olhos saltados e uma dor borbulhante na xoxota, como se vermes refestelassem na carne ainda fresca. fui à cozinha, enchi um copo de Tang laranja preparado na manhã anterior, acendi um cigarro e fiquei pensando: que merda. que merda, caralho. eu realmente levei a parada à sério, e quase rezei.
hoje fui ao médico. troquei meu curativo e na volta passei no Mercearia. tava um calor miserável. fiz uma coleta nas prateleiras e comprei mais uma cota de livros. 
agora vou ler.

Tuesday, November 11, 2008

muita coisa:

saiu a XOK #2. 
precisa baixar aqui.

mais informações no blog.

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e a COYOTE #18 já está à espreita nas melhores livrarias.



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a fantástica Fábrica de Animais se apresenta durante o mês inteiro no Teatro X. 
não percam. 

olha o cartaz do Kitagawa.


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e a peça "Uma Pilha de Pratos na Cozinha" reestréia, no Satyrus I. francamente, uma martelada na nuca num quarto escuro. um frasco de calmantes vencido no estômago. não percam.




bem, ando pregado. passei o último mês com uma dor escrota na região dos bagos, algo semelhante à um alicate de unhas beliscando meus nervos. mas não alardeei. isso não é algo a se dizer para qualquer um: meus bagos doem! acho que estou sendo castigado pelos céus! mesmo assim, fui ao médico e esse me disse que tinha uma inflamação numa tal glândula do testículo direito. me passou uma porrada de remédios que comiam meu estômago e meu fígado, no entanto, as dores não passaram, pelo contrário, aumentaram e, enquanto corria pro hospital, com os colhões nas mãos e os pêlos arrepiados de dor, tive uma certeza: estou com um tumor. o doutor que me atendeu, um cara austero de bigode grisalho e belas sobrancelhas, me mandou baixar as calças e me examinou. uma apalpadinha aqui, outra ali. você tem hérnia inguinal, ele disse, e precisa ser operado logo, ele continuou, não é nada grave, frisou ao perceber meu semblante de desespero. assim, fiz uma porrada de exames que me picaram as veias e me fotografaram as entranhas, e é bem provável que eu entre na faca hoje. meu cacete vai continuar intacto e continuarei com colhões fortes e sadios e cheios de porra. peço aos amigos que relaxem, logo estarei de volta, apenas não me chutem o saco pelos próximos 2 meses, afinal isso é sacanagem.

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alguém me falou assim: isso pra você aprender a sossegar. refleti como Groo e cheguei à conclusão: pode ser. acho que não. mas me agradar saber que poderei ficar dias deitado, lendo minhas edições de Ken Parker e assistindo minha pilha de dvds piratas, sem me preocupar com o que estou perdendo lá fora ou com aquele trampo que preciso entregar logo. 

ou não. 
peraí. 

devo estar errado.