Saturday, December 22, 2007

ela berrou bastante enquanto eu segurava o fone do orelhão olhando pra esquina da rua Vitória. ela disse que eu era um vacilão. eu não sabia o que estava fazendo ali e nem pretendia passar tanto tempo no telefone olhando pra esquina vacilando. caminhei pela madrugada, sem um puto ou cigarro no bolso, até minhas pernas doerem. tentei a sorte nos bares mal iluminados debaixo do Minhocão. ninguém me deu ouvidos. todos solitários e silenciosos como corujas. quando cheguei em casa, você tinha me trancado pra fora. tive que escalar o muro e entrar pela janela. botei metade do corpo pra dentro, você acendeu o abajur e reparou que eu havia perdido meu chapéu.

Friday, December 21, 2007

quero mijar do mirante

A idéia é pegar o carro e fugir lá pros cantos do Mato Grosso do Sul. Não imagino como são as rodovias por ali nem pra onde levam aquelas estradas secundárias, não faço a menor questão disso também. O que importa é apenas sair fora e ganhar a estrada e as paisagens do Estado, sem muita preocupação ou planos ou trajetos e roteiros, com uma boa música, os vidros abertos pro vento e o sol entrar e uma companhia agradável. Pode ser que eu passe pelo Pantanal, pela Chapada dos Guimarães e quem sabe faça uma visita à Bolívia. Tudo depende do tempo, mas sem pressa.

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Aqui as demos do ótimo “The Letting Go”, do Bonnie ‘Prince’ Billy. As versões ainda cruas de um dos melhores discos do Barba Ruiva.

Tuesday, December 18, 2007

se fosse por mim, me esconderia num lugar onde não houvesse vestígios de seres humanos. e no conforto da minha tristeza, escreveria uma canção sobre como te tratar melhor.

Friday, December 14, 2007

a madrugada em claro e o jornaleiro assoviando lá fora e a necessidade de algo forte para apaziguar a sede por objetos cortantes e uma voz na minha cabeça e pouco tempo tempo pouco tempo pra pensar em tudo que vem e vai e volta e passa e ricocheteia nas paredes brancas do quarto. já nem sei mais onde fui parar depois daquela curva.

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estou completamente podre após a noite de ontem. mesmo assim estarei no JukeJoint hoje para o lançamento do livro de fotografias do Cemitério dos Automóveis. a banda do Mário toca e o Marcelo Montenegro discoteca e acho que ele gosta de rockabilly mas eu não danço só escuto enquanto jogo sinuca silenciosamente e penso em como eliminar as vírgulas da minha vida.

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hoje é o último dia de “Delicadeza”. o último dia de uma das peças mais pauleras que já vi nessa minha vida de meu deus. e quando digo paulera é porque vira o estômago da rapaziada.

21hs, lá no Satyros 2 – praça Roosevelt.

Wednesday, December 12, 2007

hoje também


“Rusty Cage” – Soundgarden (clique dir. "salvar destino como..)

música para acalentar pensamentos positivos.

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Hoje, lá na Livraria HQMIX, na Praça Roosevelt, 142, às 19hs, rola o lançamento do livro “São Paulo”, que David Loyd ilustrou para a coleção Cidades Ilustradas, da Editora Casa 21. Acho que deve ser salgado o preço desse livro, mas vale a pena ter um autografado.

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E depois acontece “Natimorto”, a peça nova do Mário, baseado nos quadrinhos do Lourenço Mutarelli. Lá no teatro Sesc Anchieta - rua Dr. Vila Nova, 245, perto do Mackenzie, às 21hs.

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“You Belong to Me” – Rose McGowan.
Essa versão de uma música do Bob Dylan que Rose McGowan fez para “Grindhouse”, do Tarantino, é um country de cabaré vagabundo dos mais safados, gela até os ossos.


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E a 2001 Video já colocou "Down By Law" à venda.

Tuesday, December 11, 2007

sem dúvida, o melhor site de fotografias que eu conheço.

super king size

puliça sacana


magnólias brancas e tijolos descascados

Era uma fábrica abandonada cercada por mato e magnólias e uma cerca de tela nas proximidades da rodovia Dom Pedro I. Eu sempre visitava aquele mastodonte de concreto quando saia da escola. Pulava a cerca com extrema facilidade debaixo do sol escaldante de um meio-dia tedioso de cidade de interior e adentrava a escuridão das grandes salas cheias de máquinas, esquecidas por algum magnata. Subia uma velha escada de ferro que levava à parte mais alta da construção, uma espécie de varanda sem corrimões, e sentava na beirada, tirava o baseado do maço de cigarros, o colocava entre os dentes e acendia observando as nuvens de moscas que giravam num redemoinho caótico ao redor de latões industriais. Pensava na diferença entre ser mosca e pássaro. E no estrago que seria cair lá de cima e se estatelar como uma fruta podre no chão de cimento. Do outro lado, através do mato todo que atravessei, podia ver a rodovia. De lá só era possível notar as chaminés escurecidas da fábrica, como cruzes num cemitério muito antigo. Passava a tarde ali. Nenhum movimento. Nenhum incômodo. Levemente chapado e respirando o ar puro da efêmera liberdade vespertina eu rabiscava histórias sórdidas no caderno que deveria anotar as porcarias que a professora ensinava na aula. E o dia me engolia até virar noite. Às vezes me sentia triste ali por motivos que nem eu sabia. Mas na maioria das vezes eu ria mesmo. Conversava alto sozinho comigo. Corria por aqueles blocos enormes com uma barra de ferro na mão fazendo o maior estardalhaço. Um dia pisei num prego numa tábua. Aquela desgraça varou meu tênis e fincou na minha carne. Praguejei como um profano. Fiquei ali um tempo. Deitado de barriga pra cima. Assistindo as nuvens se moverem no céu azul. O farfalhar das árvores ao redor. Os carros deslizando na rodovia lá longe. Com a planta do pé brotando sangue fresco. Fantasiei minha própria morte. No esquecimento daquela cloaca. Magnólias brancas e tijolos descascados.

Friday, December 07, 2007

Havia 3 horas que eu estava na interestadual. Não tirei o pé do acelerador e cruzei no caminho com poucos caminhões Volkswagen capengas que se arrastavam pesadamente na outra mão da pista. O carro saltava por sobre todos aqueles buracos. Roy Orbison cantava no rádio baixinho. Reduzi pra segunda marcha, o que fez com que o motor berrasse como um trovão nas montanhas. Iluminei o acostamento e notei uma pequena estrada de brita, deslizei com carro sobre ela e apaguei os faróis. A escuridão era absoluta. Nuvens pesadas escondiam as estrelas e a lua como uma cortina de fumaça. Fiquei em silêncio no carro, apenas Roy Orbison baixinho no rádio. Only the lonely know the way i feel tonite. Cerrando os olhos pude notar uma única luz lá no fundo, numa montanha talvez. Fiquei pensando que talvez uma família comesse torradas com manteiga ao redor da lareira naquela noite fria, num momento leve e sem preocupações, como a vida deve ser. Mas não é. Abri o porta-luvas e peguei a garrafa, tomei uma dose e deitei o banco. A chuva enfim veio. Sem trégua. Tão intensa que a luzinha desapareceu, como meus sonhos. Only the lonely know the way i feel tonite.

Tuesday, December 04, 2007

Na febre rockabilly não consigo parar com o porra do Buddy Holly nem com Stray Cats.

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Jussara me leve embora. Estou tranqüilo aqui na civilização. São apenas meus pensamentos que sangram. Tiro o chapéu quando você chega em casa. Como um aleijado dançando na cadeira de rodas, perco a elegância de alegria. Sigo levando a vida. Distorcida num retrovisor quebrado. Jussara me leve pra casa. Enxugue minhas lágrimas e me empreste a enxada. Quero passar a noite na varanda lustrando a espingarda.

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quem diria, no top 10.

Monday, December 03, 2007


secando

A cidade mata. O final de semana me custou caro. Agora estou cansado e chateado. Não que esteja arrependido. Estou cansado e chateado. Só. Sábado toquei no Berlin. Estava completamente sem forças. Como uma menininha. Bebia segurando o copo com a ponta dos dedos e a música me incomodava extremamente. Atordoado. Agüentei até tarde ali. A moça disse que gostou e me deu o cachê em dobro. Eu sorri e disse que poderia ter sido melhor. Traguei. Agradeci e me arrastei até em casa. A cidade mata. Ontem entre miojos e copos d’água, grunhi de satisfação com a queda corintiana. Nunca tinha visto tanto marmanjo chorando junto. E a Globo apelando sempre pro pieguismo em seus closes e comentários. Estou me recuperando. Estarei melhor bem antes que o Corinthians. A cidade morre. O sol estala o concreto lá fora. E eu aqui dentro sonhando com a estrada novamente. Pra bem longe das pessoas. A 160 por hora. Com um isopor cheio no banco de trás. E um monte de idéia errada.

Friday, November 30, 2007


Thursday, November 29, 2007

No fim do ano passado eu estava submerso na merda, sofri uma seqüência de acidentes, me fodi todo numa briga e ainda peguei uma bactéria num simples arranhão que me derrubou, fora isso, minha namorada tinha me pénabundeado e minha avó estava internada no hospital, no mesmo que eu aliás. Encomendei então o livro de poesias da Bruna Beber “A fila sem fim dos demônios descontentes” e o bagulho terminou de me quebrar. Lembro que li o poema abaixo e fui pegar o metrô numa dificuldade filha da puta, já que meus dois pés estavam destroçados, não conseguia pensar em nada direito, só nos últimos versos que reverberavam na minha cabeça. Hoje a Bruna é minha camarada, mas eu evito pagar pau. Ela tá com um blog novo:


ap.

na minha casa você pode flagrar alguém
se escondendo da rotina num quarto escuro
e batendo a cinza do cigarro na janela
enquanto espia as roupas dançando em silêncio
no varal da área
às três da madrugada
você pode flagrar alguém preocupado
segurando uma caneca com vinho vagabundo
dormindo fora de hora
pensando demais na vida
e no tédio que é
essa falta de paixão.

Bruna Beber

Wednesday, November 28, 2007

Hoje vou passar ali no show do Eagles of Death Metal, lá na Clash. Estou um pouco desanimado para piadas, talvez quisesse mesmo era ficar em casa e nem me amarro muito no som deles. Mas veremos...

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Acabou de chegar meu “O Amor é um Cão dos Diabos”, livro de poesias do velho Bukowski que a LP&M acabou de lançar.

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Já estão disponíveis alguns desenhos meus para customizar os computadores da criançada. É, eu me vendi. Comprem lá que estou precisando de dinheiro para tomar drogas e pagar as multas do automóvel.

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E hoje tem uma festinha no Juke Joint após a estréia da peça “O Natimorto”, adaptação da HQ do Mutarelli que o Marião fez. Eu não vou na peça hoje porque não gosto de estréias, mas devo encarar na semana que vem. A festa vai depender do meu estágio.

"O Natimorto"
Sesc Consolação - teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, região central, tel. 3234-3000). 320 lugares. Ter. a qui.: 21h. Estréia 28/11. Até 20/12. 80 min. 14 anos. Ingr.: R$ 5 a R$ 20.

Tuesday, November 27, 2007

nada pra fazer


Gosta dos dias nublados de outono e nada pra fazer.
Daí coloca Nick Drake tocando “Saturday Sun”
e sente uma tristeza suave,
como o som da voz daquela enfermeira
que cuidou dela depois do acidente.
Fica assistindo a grama crescer através da janela da sala.
Sente que morre um pouco a cada dia,
e luta para morrer menos fazendo isso, nada.
Pensando em quando ainda podia andar
e encontrava Sandro no final da linha trem.
Mas o final da linha chegou de forma abrupta
e agora ela definha escutando Nick Drake
e olhando a grama crescer,
fazendo nada.
Dia e noite.
Morrendo um pouco de cada vez.
O anjo doente que não pode mais voar.
Ninguém sabe como ela se sente.
Chorou na noite passada,
mas foi porque sonhou que encontrava Sandro na estação.
Ela ainda andava e conseguiu abraçá-lo.
Era um dia frio de outono
e nas caixas de som tocava Nick Drake com “Saturday Sun”.
Quando acordou escutou o barulho as chuva na janela.
E sentiu vontade de estar lá fora,
olhando a grama crescer
sem nada pra fazer.

Monday, November 26, 2007

A noite estava refrescante. Daquelas que ninguém queria ficar em casa. As crianças da vizinhança faziam uma roda e conversavam sobre coisas legais. As risadas ecoavam pelas nuanças e sombras da rua. Um gato dormia na porta da casa da Dona Veva. Eu caminhei até o armazém e comprei um chocolate e fiquei pensando na porra da conta d’água que eu precisava pagar no dia seguinte. Sentei num banco na Praça dos Cata-Ventos e fiquei conversando sobre músicas de amor com Chica Mendiga. Cantei algumas das que lembrei pra ela, que ria banguela balançando as pernas. Dormiu ali mesmo. Depois caminhei até a porta da maternidade e fiquei sentado na mureta que tem lá. Douglas passou com seu Corcel bege e parou. Perguntou se eu queria ir atrás de encrenca. Sua idéia era pegar a estrada até Formosa, uma cidadezinha do interior onde a gente podia encher a cara longe dos olhares fofoqueiros da nossa própria cidade, arrumar uma boa briga e, além disso, umas bucetas. Eu disse que estava bem, preferia ficar ali sentado na mureta da maternidade até o sono bater. Alguns minutos depois, Sofia chegou apressada segurando a barriga como um tonel seguida pelo seu marido, o seu Jair, dono da Mercearia Rosas. Acho que eles nem me perceberam. Naquela noite, Douglas não conseguiu fazer a curva, acertou o guard rail e voou lá pra baixo do barranco. Esmerilhou o carro e a cabeça, ficou parecendo carne moída enrolada em pano de chão xadrez. Douglas era um sujeito malvado. Não sei por que ia com a minha cara. Talvez não merecesse morrer daquele jeito. Todo mundo comentou aquela fatalidade, porém, dois dias depois ninguém mais se lembrava. Eu fiquei com aquilo na cabeça por um bom tempo, até que um tio meu, algumas semanas mais tarde, deu um tiro na cabeça ouvindo Pink Floyd. O filho da Sofia virou jogador de futebol e saiu daquela cidade de merda. Chica Mendiga arrumou um carroceiro e os dois sumiram na estrada.

Bonnie ‘Prince’ Billy - Ask Forgiveness EP


1. I Came Here to Hear the Music (Mickey Newbury cover)

2. I’ve Seen It All (Björk cover)

3. Am I Demon (Danzig cover)

4. My Life (Phil Ochs cover)

5. I’m Loving the Street (Will Oldham original)

6. The Way I Am (Mekons / Merle Haggard / Sonny Throckmorton cover)

7. Cycles (Frank Sinatra cover, written by Gayle Caldwell)

8. The World’s Greatest (R. Kelly cover)

Download

MEUS PROBLEMAS COM A BEBIDA

Mário Bortolotto

ela me dizia que eu tinha problemas com bebida
me dizia isso enquanto andava atrás de mim no supermercado
eu escolhia um vinho pra beber no jantar
na verdade eu tava indeciso entre um vinho e um conhaque
na dúvida levei logo os dois
e uma caixa de cervejas pra depois do jantar
e ela continuava falando rispidamente comigo
eu me sentia dentro de uma música do Bruce Springsteen
ela falava algo sobre viver e morrer como um perdedor
eu disse: “Que merda cê tá falando?”
ela fazia ballet e andava daquele jeito empinado que me deixava ainda mais oprimido
havia muita raiva naquela mulher
e a raiva te deixa com dificuldade de se expressar
e eu só precisava de um drink
abri o conhaque na fila do caixa e dei um gole
“Era sobre isso que eu estava dizendo”.
“O que?”
“O seu problema com bebida”.
“Eu não diria que é um problema. A bebida me ajuda nos momentos difíceis”.
“E esse é um deles?”
“Eu não estou muito a vontade”.
entrei no carro e abri logo uma cerveja
“Vai continuar negando que tem problemas com a bebida?”
“Olha, eu não tenho problema nenhum com ela. Às vezes quando bebo, eu arrumo mais problemas, só isso”.
nós saímos do estacionamento do supermercado e ela continuava falando comigo daquele jeito intolerável e pensei em meter o carro num poste ou algo do tipo, mas eu ainda não havia bebido o suficiente.

Friday, November 23, 2007

não pertenço

debaixo da chuva eu pisei em algo podre na calçada. era meu coração que ficou pra fora ontem à noite, mesclado à lama fétida da cidade de São Paulo. eu chutei aquela porra pra bem longe de mim. raros são os amigos e ninguém vai dar falta se eu fugir de volta pra Palmas, no Tocantins. embarcar num pau-de-arara e nunca mais voltar. ou roubar uma máquina na esquina das Espraiadas. ao longo da minha estada aqui só merda cometi. agora tenho 5 policiais civis no meu encalço e um amor perdido para um frentista do Posto Shell da Consolação. porém, não sou de lamentar. em breve, antes de tomar o metrô rumo à rodoviária, vou assassinar brutalmente o desgraçado que me tornou corno. vou arrancar seus olhos e seu pau e fazê-lo engolir. depois disso, compro uma garrafa de vinho e escapo furtivamente, entre goles vigorosos, desse inferno de concreto e seres detestáveis.

Wednesday, November 21, 2007

digamos que minha cabeça esteja funcionando muito bem após um período de ócio com baixo teor etílico, mas, ainda assim, não consigo definir porra nenhuma da noite passada. de quem era aquela arma de cano duplo? ou seria uma valise? no duelo que duelei estive pensando no que eles podiam estar pensando sobre o que eu pensava deles. errei meu disparo. fui alvejado entre os olhos e minhas memórias espatifaram-se contra a parede logo atrás de mim. agora minha camisa esta suja de sangue. ou seria café? eu não consigo parar de ouvir o blues. alguma coisa está mudando dentro de mim. calos. calos. calo diante da minha tristeza. a vida é uma subida enlameada. combinamos de nos encontrar pela manhã. queria te mostrar umas coisas que descobri numa revista de turismo. ou seria uma enciclopédia? eu não consigo parar de ouvir o blues. você não sabe nada sobre mim. nas horas mais escuras da madrugada. fiquei agachado no mato esperando o momento ideal. meus executores vacilaram com suas lanternas vasculhando o local errado. acertei o primeiro na nuca e, antes que seu corpo caísse, alvejei o tórax do outro. soltei os cachorros e peguei um ônibus pra itália. Ou seria líbano? nem sei mais por onde ando. do lado errado. no hotel sem cortinas fiquei olhando as pessoas na rua na chuva. lá de cima pude ver, através da vidraça com gotas cintilantes, o painel da farmácia apagando. ali, naquele exato momento, tive certeza de que nunca mais nos veríamos.

firmes de finár

"O Chamado Selvagem" - 1972, adaptação do livro "O Chamado da Floresta" de Jack London. a história do cão Buk, que é roubado dos cafunés e pedigri champ de uma família rica e levado para puxar trenó no Alaska, onde encontra sua verdadeira essência, ui. o filme é fiel ao livro, triste, com ótima atuação do cachorro que nas as cenas de lutas se machuca de verdade sem ajuda de dublê. a trilha é de doer o peito. um filme daqueles sessão da tarde que não passam mais. é possível encontrar uma cópia perdida baratinha nessas bancas da Paulista.

"Iracema - uma transa amazônica"- filme/documentário censurado nos anos 70, com Peréio canastra fazendo um caminhoneiro que carrega madeira ilegal e rouba gado na tal rodovia, daí conhece Iracema, uma garota de programa fubanga com cara de índia que sonha mas nem tanto em sair fora da floresta pra ir pra cidade grande. a qualidade é bem ruim, até pelos recursos disponíveis, creio, às vezes é impossível entender que diabos estão falando, a luz estoura e os atores esquecem que estão sendo filmados, no entanto , não deixa de ser bom pra caralho. a cena final me deixou ali no sofá, sem nada ao redor, olhando meu reflexo na tela da tv epensando, que merda de mundo cretino.

Tuesday, November 13, 2007

agora eu tenho um Flickr:

http://www.flickr.com/photos/carloscarah/

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amanhã toco na Funhouse. nunca toquei lá. quero só ver o que vai dar. se alguém quiser um desconto, dá um toque.

Monday, November 12, 2007

cousas

Muita gente conheceu meu trabalho depois que fiz as capas dos livros do Marião e quando saíram na revista eletrônica Ideafixa e na galeria virtual Baixo Calão. Ando recebendo propostas interessantes e outras que nunca imaginei. Uma empresa de adesivos me escreveu interessada numa parceria. O ganho é uma pequena porcentagem nas vendas. Gostei também duma galeria de arte que vai abrir em Salvador e quer alguns trabalhos para expor e vender. Legal.

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Meio que timidamente, vou voltar a discotecar numas festinhas. Desde que comecei a namorar e trocar as noitadas em clubs fechados por bares, desisti dessa prática.Toquei numa festa de música eletrônica de um grande amigo no mês passado. Era o primeiro a entrar e toquei para alguns gatos pingados que não gostaram do som. Não era o que eles esperavam. Como estava fora de forma e sem preparo, achei bem mea-boca. Depois disso, discotequei na festa de formatura da minha Pequena. Fui mais preparado e levei até uma listinha com a numeração das músicas para não me perder como havia acontecido na outra oportunidade. Tudo corria bem até Sheylla Mello, a popozuda dançarina-modelo-atriz-cirurgiã me podar – sim, ela estava na festa. Ela queria algo mais poperô. Eu disse que não iria sair, contudo, ela convocou o dono do recinto para me expulsar. Agora, algumas ofertas estão surgindo. Devo tocar no Vegas e no Berlin logo logo. Aviso aqui quando isso acontecer. Vou rico, escreve ai.

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A história do Moleque-Aranha é realmente muito boa. Um sonhador nunca tem nada a perder.

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Queria muito ver o jogo da Seleção no Morumbi. Provavelmente 70% dos ingressos esgotados já estão nas mãos dos cambistas. Já era. Mesmo assim, vou tentar assistir Palmeiras x Fluminense na quarta, aqui o Parque Antártica.

E de consolo quanto à Seleção: tem show do Battles no mesmo dia.

Wednesday, November 07, 2007

Lovesick Blu-ues

"Lovesick Blues" - Hank Williams

I got a feelin' called the blu-ues, oh, Lawd
Since my baby said goodbye
And I don't know what I'll do-oo-oo
All I do is sit and sigh-igh, oh, Lawd
That last long day she said goodbye
Well Lawd I thought I would cry
She'll do me, she'll do you, she's got that kind of lovin'
Lawd, I love to hear her when she calls me
Sweet dad-ad-ad-dy, such a beautiful dream
I hate to think it all o-o-ver
I've lost my heart it seems
I've grown so used to you some how
Well, I'm nobody's sugar daddy now
And I'm lo-on-lonesomeI got the Lovesick Blu-ues.

Well, I'm in love, I'm in love, with a beautiful gal
That's what's the matter with me
Well, I'm in love, I'm in love, with a beautiful gal
But she don't care about me
Lawd, I tried and I tried, to keep her satisfied
But she just wouldn't stay
So now that she is lea-eav-in'
This is all I can say.

I got a feelin' called the blu-ues, oh, Lawd
Since my baby said goodbye
And I don't know what I'll do-oo-oo
All I do is sit and sigh-igh, oh, Lawd
That last long day she said goodbye
Well Lawd I thought I would cry
She'll do me, she'll do you, she's got that kind of lovin'
Lawd, I love to hear her when she calls me
Sweet dad-ad-ad-dy, such a beautiful dream
I hate to think it all o-o-ver
I've lost my heart it seems
I've grown so used to you some how
Well, I'm nobody's sugar daddy now
And I'm lo-on-lonesome
I got the Lovesick Blu-ues.

noites



No seu pedido não veio fritas. As vozes me cobram. Como é que eu ia saber? Cortei as unhas mais do que deveria. E minhas feridas doem com sal. Estou muito longe de casa e cada vez mais enterrado num buraco. Estou perdido da minha própria sombra. E também perdi meu relógio numa enxurrada. Será que vai demorar muito até eu morrer? Para fazer parte de algo, eu me neguei. Neguei minha própria vida. A tempestade dobra as árvores nos joelhos e encharca meus olhos. Eu queria entrar e subir para o quarto com você. Para me acalmar enquanto a casa de madeira range. Mas desaprendi a lidar com esse fim de linha e a tal zona de conforto. Você pode me encontrar no fim do mundo. Afinal, continuo aqui fora, encarando os relâmpagos e o desespero dos deuses, a escuridão e sua força, a doçura da morte e o amargor do deserto pessoal. É assim que vai ser. Pela primeira vez, na segunda chance. A casualidade é meu instinto. De fato, quando as estrelas aparecerem novamente, voltarei a caminhar descalço por ai, nesse rancho de concreto cheio de cobras.

Tuesday, November 06, 2007


peguei a vida amassei enrolei num celofane e coloquei no bolso de trás da calça. esqueci. transitei ausente por estradas entre Minas e Goiás onde o céu é mais alto para onde vão os animais. durante dias nada se aproximou de mim o silêncio assoviava com o vento e mustangs selvagens pastavam em longínquas sombras no horizonte.
"A gente caminha atrás da liberdade e da felicidade. E assim se vive. É só isso que se pode aspirar. Faz alguns anos, e durante muito tempo, minha vida andou presa a sistemas, a conceitos, a preconceitos, a idéias pre-concebidas, a decisões alheias. Aquilo era autoritário e vertical demais. Não conseguia amadurecer assim. Vivia numa jaula, como um bebê que protegem e isolam para que jamais amadureça seus músculos e desenvolva seu cérebro. Tudo desmoronou diante de mim. Dentro de mim. Com muito estrondo. E fiquei a beira do suicídio. Ou da loucura. Tinha de mudar alguma coisa no meu interior. Do contrário podia acabar louco ou cadáver. E eu queria viver. Simplesmente viver. Sem pressões. Talvez com algum dia feliz. E reduzir as angústias. Isso é imprescindível: reduzir as angústias. Quem sabe seja só uma questão de mudar de ponto de vista. É preciso estar plenamente presente onde a gente se encontra, e não escapar sempre."

"Animal Tropical", Pedro Juan Gutiérrez

Thursday, November 01, 2007

13ª Fest Comix

Separa uns trocados e pega a sacola da feira que amanhã começa a 13º Fest Comix. Títulos novos e usados a preço de banana, alguns saem por R$1. Aquelas Graphic Novels dos anos 80 rola pagar R$4. Agora, tem que ir na febre, porque é uma muvuca só, o que não deixa de ser divertido. Dói até o olho de tanta coisa. Fora que ainda vão rolar palestras e sessão de autógrafos com o Laerte, Fábio Moon e Gabriel Bá e outros doidos das HQs.

13ª FEST COMIX
Centro de Evento São Luis
Endereço: Rua Luis Coelho, 323 (próximo à estação Consolação do metrô) Dias 02/11 a 04/11Horário: das 10h00 às 20h00 (sexta e sábado) – das 10h00 às 18h00 (domingo)
Entrada: R$ 5,00 (meia entrada – R$ 10,00/inteira)

Wednesday, October 31, 2007

Josephine acordava todos os dias cansada. Suas costas estavam cada dia mais curvadas pelo peso da rotina. Ô vida chata, ela comentava com seu reflexo no espelho. Não morava longe do emprego, mas achava de extrema petulância enfrentar o trânsito até lá. Chegava sempre 10 minutos antes para abrir a loja com o funcionário Cosme. Levantavam as portas de ferro, ligavam os televisores virados para a vitrine, checavam a secretária eletrônica, recolhiam o lixo dos banheiros, ligavam os computadores do caixa e só depois abriam as grandes portas de vidro. Quando a faxineira aparecia, os dois saiam para fumar um cigarro no estacionamento nos fundos da loja. Cosme era do tipo asqueroso que se acha, daqueles que falam tudo errado e com o rosto colado. Sempre numas de colocar o braço em volta de Josephine que se desvencilhava na maior elegância. Josephine sabia que Cosme roubava na loja. Era a única coisa que ela admirava nele. A Pernambucanas ficava cheia no horário de almoço. Parecia que aquele monte de merda escorria dos escritórios até a loja para ficar olhando as mercadorias. Micro-ondas, tostadeiras, George Foreman Grill e DVDs horríveis que custavam 1/4 do preço nos camelôs. Quando o expediente terminava, Josephine juntava suas coisas, não tirava o uniforme e ia até um bar de azulejos amarelos nas proximidades. Tomava algumas garrafas de cerveja enquanto lia algum livro. Todos a conheciam de vista ali, percebiam que não deviam atrapalhar sua concentração. Foi nesse bar que vi Josephine pela primeira vez. Aquela bela mulher, calma como uma bomba esquecida na estante, com as pernas cruzadas por baixo da mesa e os calcanhares para fora do conga, esparramada na cadeira de ferro lendo Gutierréz. Não me aproximei naquela noite. Fiquei a observando acender um cigarro e esperar o ônibus. Depois partir guardando o bilhete único se equilibrando no corredor. Pude notar um leve sorriso em seu rosto. Voltei para casa a pé. Na vizinhança, crianças jogavam bola na rua. A pelota veio em minha direção e eu acertei uma bicuda que explodiu no portão do barba ruiva. Ele estava tirando as compras do porta-malas do carro e tomou um susto, estralando a sandália no piso e balançando sua barrigona cheia de veias. Virou-se xingando nossas mães, aquele porco. Todos caíram na gargalhada e eu fui jogar no gol.

Tuesday, October 30, 2007

josephine II

Três horas e meia até a abertura da estação num buraco de Osasco. Nenhum tostão no bolso e muito pouco a oferecer quando quase não é nada e é tudo tão difícil. Você mora tão longe mas cai sempre para a sordidez dessas bandas em busca de pessoas que não conversam, nem te percebam, apenas te forneçam aqueles frasquinhos. Sempre triste esperando o trem na estação, numa beleza dolorida. Embora sua diversão seja um pouco morta e lembre mais um alívio, nada mais importa, não dá pra continuar agora que até as moedas acabaram. Sequer espanta as moscas de suas roupas. Procura bitucas e insulinas na calçada enquanto conta todas as coisas que deixou de ser em trinta e três anos. Chorando sozinha em silêncio debaixo da luz fosforescente, embora não seja dor serve para disfarçar a angústia. Só mais um dia. Apenas um emprego a menos. Uma família que lavou as mãos. Eu sei que é difícil, garota. Tá tudo bem. O primeiro trem nunca atrasa. E o fosso do trilho nem é tão fundo assim.

i'm not there

a Pitchfork deu a letra e eu fui atrás. saiu a trilha de "I'm Not There", o filme do Bob Dylan.

baxaê: (via rapidshare)

parte 1

1. Eddie Vedder and the Million Dollar Bashers: "All Along the Watchtower"
2. Sonic Youth: "I'm Not There"
3. Jim James and Calexico: "Goin' to Acapulco"
4. Richie Havens: "Tombstone Blues"
5. Stephen Malkmus and the Million Dollar Bashers: "Ballad of a Thin Man"
6. Cat Power: "Stuck Inside of Mobile With the Memphis Blues Again"
7. John Doe: "Pressing On"
8. Yo La Tengo: "Fourth Time Around"
9. Iron and Wine and Calexico: "Dark Eyes"
10. Karen O and the Million Dollar Bashers: "Highway 61 Revisited"
11. Roger McGuinn and Calexico: "One More Cup of Coffee"
12. Mason Jennings: "The Lonesome Death of Hattie Carroll"
13. Los Lobos: "Billy"
14. Jeff Tweedy: "Simple Twist of Fate"
15. Mark Lanegan: "The Man in the Long Black Coat"
16. Willie Nelson and Calexico: "Señor (Tales of Yankee Power)"

parte2

1. Mira Billotte: "As I Went Out One Morning"
2. Stephen Malkmus and Lee Ranaldo: "Can't Leave Her Behind"
3. Sufjan Stevens: "Ring Them Bells"
4. Charlotte Gainsbourg and Calexico: "Just Like a Woman"
5. Jack Johnson: "Mama You've Been on My Mind"
6. Yo La Tengo: "I Wanna Be Your Lover"
7. Glen Hansard and Marketa Irglova: "You Ain't Goin' Nowhere"
8. The Hold Steady: "Can You Please Crawl Out Your Window"
9. Ramblin' Jack Elliott: "Just Like Tom Thumb's Blues"
10. The Black Keys: "Wicked Messenger"
11. Tom Verlaine and the Million Dollar Bashers: "Cold Irons Bound"
12. Mason Jennings: "The Times They Are a-Changin'"
13. Stephen Malkmus and the Million Dollar Bashers: "Maggie's Farm"
14. Marcus Carl Franklin: "When the Ship Comes In"
15. Bob Forrest: "Moonshiner"
16. John Doe: "I Dreamed I Saw St. Augustine"
17. Antony and the Johnsons: "Knockin' on Heaven's Door"
18. Bob Dylan: "I'm Not There"

Monday, October 29, 2007

não saio de São Paulo há bem uns 2 meses, e ontem, derretendo no concreto, decidi: eu preciso da estrada. vem uma caralhada de feriados por ai, quem me dera uma rodovia sem sinalizações.

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não encontrei condições físicas ou paciência para encarar o TIM Festival ontem no Anhembi. nem me arrependo. acho que passei. prefiro banda no Juke Joint.

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hoje encomendei:

“DRUGSTORE COWBOY” – James Fogle
sempre quis ler o livro que gerou um dos filme que mais assisti na minha adolescência. demora pra chegar, mas até lá, espero lendo:


“ONDE OS VELHOS NAO TEM VEZ” – Cormac McCarthy
depois de não passar ileso pel’A Estrada do mesmo autor, não pude deixar de adquirir este volume. dizem que o filme que vem por ai é duzbão.

Josephine

Um dia desses, uma amiga veio com um discurso de ex-viciada, salva pela família e o NA. Contou-me sobre as reuniões, os amigos que fez que passavam pelos mesmos problemas e de sua nova vida. Falou-me sobre redenção e arrependimento. Agora era caixa da Pernambucanas e levava a vida na moral, sem estresse. Queria viajar e conhecer o mundo, por isso, estava juntando dinheiro. Eu duvidei. Ontem, desci do ônibus e caminhando pela calçada irregular, encontrei com ela num orelhão. Parecia muito assustada. Estava imunda e com as pontas dos dedos enegrecidas. Perguntei como ela estava, sem esperar por uma resposta: “Estou melhor do que antes, mas não sei como estarei me sentindo daqui alguns minutos”, ela respondeu de imediato, “se você me deixar 10 reais na mão agora, ficarei feliz como nunca”. Entreguei uma nota a ela e segui meu rumo.

Friday, October 26, 2007

A verdade nunca foi boazinha com ninguém, por isso me alimento da mentira. Eu ainda roubo dinheiro na carteira da mãe e conto a mesma piada de goiano quando bebo e digo que é de minha autoria. Assisto sempre o último capitulo da novela na casa da vizinha. Estou com todas as prestações da moto atrasada. Todas. Ligo a cobrar de madrugada para minha ex-namorada pedindo um disco tosco de volta mas na verdade só quero ouvir sua voz lá longe. E meu sangue espirra das ventas. Eu preciso de algumas semanas para entender o que significa isso, com licença.

Monday, October 22, 2007

eu vi Jesus de moletom da Ferrari

Ontem fui até Interlagos assistir ao Grand Prêmio de Fórmula 1. Tava um calor do caralho. Depois que desci na estação de trem, subi uma ladeira desgraçada com os miolos fritando debaixo de 36ºC. Tinha uma pá de cara com óculos da Oakley, tênis de corrida, calças curtas beges e bonés da Ferrari. A corrida foi legal. Maior barulheira. Depois de bater um rango e algumas latas de cerveja, com o calor ainda castigando, o barulho dos motores se transformou em algo relaxante, aquilo foi me dando um sono imbatível, comecei a pescar nas últimas voltas. Acordei quando o bostinha do Barrichello quebrou. Fiquei muito contente com isso. O que me deixou decepcionado foi o Hamiltão, o nobre neguinho inglês, que deu bandeira e se fudeu logo no começo, mas depois passou. Mesmo assim, ele mandou bem lá atrás. Gostei que o Raikkonen venceu também, começo a acreditar nesses baratos de justiça Divina - só falta agora o Corinthians cair e seus jogos na Segundona serem transmitidos pela Record.

Dia 11 de Novembro rola Palmeiras e Fluminense no Parque Antártica. Eu quero ir. E no jogo da Seleção, no dia 21 de Novembro no Morumbi, também.

Friday, October 19, 2007

9° C, 5:13, informa o relógio no centro. Parece que nem mendigo tem na rua. Pego a Duque de Caxias na banguela. Não quero chamar muita atenção. A cidade está molhada e o céu está num esbranquiçado sinistro por causa da umidade e das luzes. Eu juro que só quero chegar em casa. Viro na Barão de Limeira e dois carros da polícia enquandram um Chevette com uma funça de 5 malucos. Eles estão todos de pé, um do lado do outro, com as cabeças baixas e os braços cruzados para trás. Abaixo o som e passo deslizando bem ao lado deles. Pelo vidro aberto do Opala os gambés olham para minha cara de pato. Um deles tem uma escopeta. Continuo na moral. Entro na Alameda Glete. Um cara passa correndo, bem assustado mesmo. Só tem vacilão nesse mundo. Eu juro que só quero chegar em casa.

Wednesday, October 17, 2007

Ontem ventou forte. Depois caiu uma chuva fina que lavou a rua. Todo mundo foi embora do bar. O ponto de ônibus esvaziou rapidamente. Daí eu fiquei ali sozinho, olhando pro asfalto molhado, pensando em nada. Talvez eu ainda tivesse chances. Estava tranqüilo. Só um pouco chateado. As coisas deixavam de acontecer ao meu redor. E eu ria sozinho com uma estranha dor no estômago, balançando meu corpo pra frente e pra trás, pra frente e pra trás, consciente de que algo estava faltando na minha vida. Então eu sai fora. Fui andando pela rua como se estivesse num túnel escuro que me levava para um lugar nenhum. A chuva parou. Um carro passou buzinando. Meu telefone não tocou. Já em casa, me tranquei no banheiro e fiquei contemplando meu abismo naqueles azulejos brancos. Quanta coisa, eu pensei, deixei passar. Eu tive um sonho mudo.



a Panini acaba de relançar "O Messias", uma das melhores histórias do Batman de todos os tempos. nunca fui muito ligado ao playboy e almofadinha Bruce Wayner, mas essa edição é casca, lembro quando li essa porra em 1988. vale o alto preço, R$ 25,90, pelo roteiro e a arte, que são fodaços.

voltei da banca com essa edição, Potestade do Homem-Aranha - uma versão requenguela de Cavaleiro das Trevas - e a nova de Conan, o Cimério. hoje vou ficar lendo de bolacha maizena e Nescau no sofá até a hora do jogo da seleção.

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ahhhhhhhhve maria!



o novo filme do Hulk provavelmente será bem melhor que o primeiro. dizem que Edward Norton, que é o mamute verde, fez questão de dar um tapa no roteiro, fora que ainda tem Liv Tyler e Tim Roth no elenco. dizem também que algumas cenas serão filmadas numa favela no Rio de Janeiro. logo imaginei Bruce Banner tomando breja de chinelo, mandando uns pra depois quebrar tudo quando uzômi aparecer. ai sim vai ser loco, tá ligado, tru?

Tuesday, October 16, 2007

sem mensagens de amor

correria forte essa semana. apareceram alguns trabalhos que podem render alguma coisa, ou não. sigo na levada. queria encontrar meus amigos. queria ficar na minha também. queria sumir e escutar alguns discos. como se fossem os melhores. como se fossem os últimos.

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escutando muito o novo do radiohead. que eu paguei 1 paund. ainda não consegui passar da terceira música de in rainbows. até passei mas não me retive muito. “15 step”, a que abre, é de lascar, soturna como a chegada de uma tempestade de verão, daquelas que escurece a cidade cinza. numa mescla de batidas eletrônicas e bateria e algo que me lembra duas metades de cocos reverberando no espaço, com o vocal de Thom Yorke cada dia mais doente dando uma liga, até entrar as cordas e mudar tudo, “um por um”, etcetera, etcetera. A segunda não desceu. agora, “nude”, que eu conhecia como big ideas don’t get any, dá uma relaxada legal, paro até de pensar em merda. sexo, bebidas e violência ficam ali no canto enquanto escuto enquanto canto. aqui a voz de Yorke é usada de forma sutil, como a brisa que fica quando a tempestade vai embora. o que eu acho foda nesses caras é a quantidade de elementos usados nas músicas. sem frescura. colocam efeitos eletrônicos, cordas acústicas ou sem distorções no volume certo e o baixo sobressaindo de maneira ideal. fico extremamente emocionado, sem frescura, em certos momentos. lembro-me de coisas que nunca conheci. arrependo-me de erros que não cometi.

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escuto o novo da PJ Harvey.

e

magnolia electric co.

que é o que vira.

"cross the road" - magnolia electric co. (salva o destino ai)

Thursday, October 11, 2007

esqueça o fuzuê de Tropa de Elite, o melhor filme do ano é esse:



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e logo mais começa o Satyrianas.

Tuesday, October 09, 2007

Ontem voltei cedo para casa. Sentia-me como se não dormisse há semanas. Deitei no sofá e fiquei encarando o teto. Daí decidi apagar a luz e contemplar a escuridão e o silêncio, mesmo que muitos ônibus castigassem suas pastilhas de freio na ladeira da Cardeal. Dava para escutar uma mulher berrando no albergue ao lado também. Sentia-me feliz e na moral como um cachorro de sítio. Depois de um bom tempo os freios diminuíram, a mulher acalmou e eu me levantei e acendi a luz. Peguei meu livro e recomecei a leitura. Fiquei pego. As páginas passavam como folhas secas ao vento e alguma coisa me atormentava suavemente. Sentia como se meu pulso falhasse. E as imagens da história se abriam na minha frente. O pai e a criança ali, num mundo descascado pela hecatombe. O pai tosse e cospe sangue. A criança chora. A lua azul escondida atrás das nuvens de poeira. A estrada. A jornada. No final, sei que é estranho admitir isso aqui, mas não consegui segurar as lágrimas. Grande livro.

ps.: agora um filho da puta vai pegar o livro e transformá-lo numa grande piada.

Friday, October 05, 2007

Amanhã rola o lançamento do livro de Nick Farewell, com direito à festa espreme-miolos que deve varar a madrugada cambaleante.

Se liga no desenho que o Kitagawa fez.


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E a banda The Battles toca em São Paulo no dia 21 de novembro. Sem local definido. Podia ser na rua.

Thursday, October 04, 2007

Nunca tive medo do que é perigoso para outras pessoas. Talvez porque eu seja apenas um proletariado da vida e viva dando voltas nela tentando escapar. Quando falo que meia colher não é suficiente você fingi não entender e dorme. Eu não durmo nunca. Nem sonho. No quarto escuro meus pensamentos ricocheteiam nas paredes. Penso no que meu irmão pode estar fazendo àquela hora da madrugada. Provavelmente descanse tranqüilo. Eu não durmo nunca. Nem sonho. Somente dirijo pela noite num mundo que já não existe mais. Encontro meus amigos e bebo em silêncio até o céu avisar que já é hora de acordar. Eu não durmo nunca. Nem sonho. Só não tente me impedir de ser anti. Já que nunca serei pró. Eu acredito nas segundas chances que me dão apenas para estraçalhá-las outra vez contra os muros de concreto grafitado. Escute, eu vou embora dessa vez. Mas não é para sempre.

Tuesday, October 02, 2007

No IMPOSTOR você encontra uma entrevista com JG Ballard, o gênio por trás de “CRASH” e “Os Terroristas do Milênio”.

Se você não nunca leu Ballard, isso é um grande problema seu.

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A Swatch lança relógios com estampas do Corto Maltese, comemorando os 40 anos do personagem.

Via Universo HQ

escorrendo no vidro

ando sem tempo para pensar
em tudo isso
o alarme toca. e você ainda discute
os vacilos do passado
com estupidez
debaixo da chuva na esquina
de um bairro
comercial
vejo tudo ir embora
num caldo sujo
só o céu está chorando
esta tarde
e aquela pedra no gramado.
e eu não tenho nada
para dizer
quanto ao seu lamento interiorano
vamos apenas roubar o carro
do seu pai
e sair dessa cidade
em silêncio
com as gotas
tamborilando
no teto

Friday, September 28, 2007

ontem eu fiquei por ai. cheguei em casa me sentindo estranho. já era bem tarde mas eu estava sem sono. às vezes não gosto de dormir. como os materiais estavam sobre a mesa, decidi pintar. quando olhei pela janela o sol já começava a dar as caras. subi as escadas e passei uma água no rosto. depois deitei agarrado na minha Pequena. fiquei olhando pro teto que mudava de cor de acordo com o dia amanhecendo. eu não queria ter hora pra acordar. tô bem cansado hoje. pelo menos cheguei na hora no trabalho. agora vou aguentar até o fim da tarde. preciso me manter aceso. sinto uma tristeza genuína quando estou nesse estado. tento fingir que não é comigo. que não é para sempre. que não é real. mas é impossível. lógico. e sempre volta.

eu fiz isso ontem pro meu amigo Sérgio Mello. é a primeira peça que ele escreve. deve estrear no começo do ano que vem.



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eu gosto do que esses caras escrevem:





"A gente se mete a escrever porque não sabe lutar boxe nem tem colhões para isso, porque tem os dentes tortos e não pode sorrir como gostaria, porque para os impotentes de todo tipo não há outro caminho, porque todos os feios escrevem ou assassinam e a gente não é capaz de matar nem uma mosca, porque escrever dá importância, porque para chamarem alguém de escritor não é preciso escrever bem, mas para chamarem de filho-da-puta não importa se sua mãe é uma santa, porque tem medo de ficar à deriva sem fazer nada, porque não pode beber toda noite, porque ama a Deus mas odeia as sociedades sem fins lucrativos, porque não tem namorada, porque não há emoções mas insultos, porque na sua casa não tem televisão e o rádio quebrou, porque a mulher do vizinho é gostosa, porque tem medo de ficar careca e por isso evita os espelhos. A gente se mete a escrever porque não se atreve a assaltar um supermercado, porque ama a mulher e ela é namorada do garoto esperto da rua, porque não há revistas pornográficas suficientes, porque quer fazer alguma coisa além de cagar e se masturbar, porque não é o garoto esperto da rua nem o garoto forte nem o engraçado, porque é o garoto nada, porque não vale um tostão furado, porque apanha lá fora, porque sua mãe grita o tempo todo, porque não há ilusões nem luz no fim do túnel, porque sua mãe grita o tempo todo, porque sua mente voa baixo e nunca será outro Cioran, porque não tem coragem para saltar, porque não quer a esposa feia que merece, porque tem medo de morrer sem ter comido um belo cuzinho, porque não tem pai, amigos, nem fortuna, porque não tem o jeito de cuspir do Clint Eastwood, porque se paralisa entre uma e outra intenção, porque era uma vez o amor mas eu tive que matá-lo."

Efraim Medina Reyes





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AMOR É COISA DE BOTECO

O amor encontra sua dignidade na vergonha. Envergonhar-se de um amor é ter orgulho dele. Choro por um amor. Despedaço-me por um amor. Fragmento-me por um amor. Faço chantagem por um amor. Digo o que não devo por amor. Estrago uma festa por amor. Amor desesperado é ainda o jeito mais tranqüilo de amar. Não conheço outra paz senão a de guerrear no fundo de um copo. Não sou homem de tranqüilizantes, de remédios na cômoda, de sono induzido. Meu quarto é o bar, público e derradeiro. Meu travesseiro é uma toalha de mesa plastificada. Amor só sabe gemer falando alto. O amor é aguardar uma resposta. A fossa é o período de uma resposta a outra. Não há como amar sem prejuízo. Sem acreditar que não deu certo. É inacreditável como apaixonados contam as mais absurdas confidências a estranhos e escondem os detalhes dos mais próximos. Todo garçom já foi nosso padre um dia. Nosso confessor. A gravata-borboleta é nossa batina. Amor é esse estágio necessário de loucura para suportar a normalidade. Quando amo, não preciso de psiquiatra, preciso de um táxi para voltar. Amor mesmo é coisa de boteco, com potes de ovinhos de codorna e cachaça nas prateleiras. Amor não tem nojo, repulsa, pudor de sofrer. Sofremos de amor para abrir espaço por dentro e desalojar antigos moradores. Amor não é próprio de restaurante ou de guardanapo nos joelhos. Não haverá um porteiro saudando com "boa-noite", não haverá recepção ou um senhor para abrir a porta. Aliás, não terá porta, é uma garagem para o corpo balançar à vontade e não quebrar nada. Não espere cardápio no amor, espere cartazes nas paredes. As lâmpadas estarão com as braguilhas abertas no teto. Amor mesmo é devasso, cafona, cadeira de metal amarela, dobrável e enferrujada. Deve-se tomar cuidado para não sentar na ponta. O amor não vem da elegância de um lugar, vem da nobreza da dor. O amor é o solitário do balcão, a retirar vagaroso o rótulo úmido da garrafa porque não pode despir sua mulher. Fica delirando em braile. Aprende inglês com as moscas. Joga dama com os cascos. Reza dez ave-marias para cada pai-nosso. Descobre que o terço é feminista. A cada vez que pensa em si, pensa dez vezes no corpo dela. Não se limpa um amor no banheiro. Limpa-se com as mangas da camisa na frente de todos. O amor é a boca assoando. O amor não pede a conta na mesa, é a conta. Não há amor se você não for o último cliente. O último a sair é que está realmente amando. Quem ama não guarda o dinheiro na carteira, deixa avulso e amassado no bolso. É sintomático. Estará cantando Amado Batista sem querer. E se espantará que conhece a letra, egressa de alguma estação da infância. Só pode ser do radinho materno, ao lado do fogão. Sua mãe colocou aquelas canções em sua comida.

Fabrício Carpinejar


Tuesday, September 25, 2007

Açougue

minha revanche é verdadeira quando caio de cara no chão e meus ossos de vidro se espatifam numa calçada do centro. meu amor não me esquece quando telefono de madrugada dizendo que fui espancado por um fantasma que mora dentro de um buraco no meu peito. minha retaliação é decidida quando não sei o caminho de casa mesmo sob a claridade truculenta de um novo dia, morto na noite anterior. outro pedaço de mim escapole e some quando acordo do transe na escuridão devassa para me libertar da dor de algo que já me esqueci. minha desforra é crime contra mim mesmo, numa forma de matar aquilo que me incomoda, que não tem aspas nem pernas nem braços para me açoitar, que apenas me gira numa espiral mundana e depois ri da minha cara. minha covardia é a fuga para um lugar onde o vento não sopra e as pessoas brilham sob lâmpadas elétricas, onde procuro algo afiado como metal para rasgar tudo isso que corta dentro de mim.

a rádia do povo

Ando viciado em last.fm, uma das coisas mais interessantes para se descobrir músicas e artistas similares aos que eu gosto. Sem aquela porra seria mais difícil descobrir Songs: Ohia, um som meio chera-cola-no-quintal-da-fazenda feito por um baixista headbanger. O estranho é que o projeto do cara, o Jason Molina, é colocado no mesmo saco que a bosta do Devendra Banhart – que é horrível, aliás, ele até comeu o cu do Caê numa rede no Rio de Janeiro, só pra sentir o drama do barbinha -, assim, na seleção sempre toca alguma músguinha de veado hippie de merda.

“Lioness” - Songs: Ohia

“Two Blue Lights” – Songs: Ohia

Monday, September 24, 2007

kamashuga

Ontem, na Revista da Folha, li um pequeno artigo onde um gringo - que passeia de bicicleta por várias cidades do Mundo - conta que São Paulo é o pior lugar para esta prática. Hoje vim de bicicleta para o trabalho. Em certas ruas e avenidas rola um cagaço filha da puta quando um ônibus passa raspando no punho esquerdo do guidão. Eu já nem uso fone de ouvidos mais depois do meu último tombo, que me custou uma clavícula.

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A trilha sonora de “Into the Wild” é toda do Eddie Vedder, sem Pearl Jam na bagagem. O filme, dirigido por Sean Penn e baseado no ótimo livro “Na Natureza Selvagem”, de Jon Krakauer, conta a história real do jovem Chris McCandless, que abandona tudo para trilhar estradas e desertos americanos e depois morrer no Alasca. O livro fez minha cabeça, até porque eu estava em plena viagem pelas paisagens selvagens da Argentina e do Chile. O filme estreou na sexta passada nos EUA e deve chegar ao Brasil no dia 31 de dezembro.

"Into The Wild" - Eddie Vedder

Parte 1
&
Parte 2 (via Rapidshare)

se o dia nunca amanhecesse eu poderia caminhar para sempre

Caminhando sozinho numa noite quente de domingo, com a cabeça tomada por devaneios e lembranças de muito tempo atrás, cruzei a Aclimação que naquela hora estava às moscas. Parecia que só eu existia ali naquelas pequenas ruas com nomes de pessoas esquecidas. As folhas das árvores cobriam as postes limitando a iluminação e dando um aspecto mais lúgubre a minha caminhada. Gatos namoravam sobre uma caixa de concreto com uma bandeja de isopor vazia ao lado. O frentista passava um pano com álcool nas prateleiras da loja de conveniência esperando a hora de ir embora. Descendo a rua eu me sentia envolvido por uma solidão cultivada há muito tempo, e isso me produzia uma grande satisfação a cada quilometro percorrido. Em algumas casas, placas com avisos de vende-se e aluga-se penduradas na parede me traziam imagens do vazio etéreo que pairava em seus interiores apagados. Num silêncio agradável, onde nem os cachorros latiam quando eu passava pela frente dos portão, eu podia notar os carros estacionados nas apertadas garagens das casas térreas e geminadas. Das janelas da sala, luzes tremeluziam indicando que as famílias estavam com seus televisores ligados no refúgio do lar, aguardando uma nova semana, onde a esperança de um novo domingo tranqüilo como aquele funciona como uma meta. Descendo uma rua em curva, senti um aperto no peito e apressei o passo para chegar em casa antes que todos os televisores estivesses desligados.

Tuesday, September 18, 2007

Seus olhos cheios de rimel e tristeza chorando borrado o fracasso do amigo publicitário que tem a língua solta. Tantas linhas que se partem sem retorno e a pouca luz na sala acabando com meu processo de criação. Cai fora. Sangue frio eu nunca tive. Não gosto de rascunhos para chapiscar no betume. A melhor idéia que eu já tive foi ter fingido não ver, cuspido na mão e esfregado tudo no papel como se fosse realmente algo brilhante. Na manhã ressaquenta eu acordo pensando demais até ler a primeira página do jornal enquanto espero o ônibus.

patrulha


Espantalho Descarado

ando assim
tipo um erro flácido ambulante
sem êxito, hesitante
disco riscado
fora de catálogo
no pó do instante
ando assim oco, uma crosta
vodu cansado que com a sorte
nem mais dialoga - diamante
ando assim sem linguagem
sem faro, espantalho fora de foco
ando assim
mais opaco que olímpico
esquivo, íntimo, insípido
um mastodonte pensando
desamparado
aspirando a paralelepípedo
ando assim meio buster keaton
um tanto de lágrima hasteando o riso
ando assim raso
indiferente
me divertindo um bocado
eu ando mijando no poste
porque o banheiro
está sempre lotado

Marcelo Montenegro

Monday, September 17, 2007

Sábado de sol, saí para comprar drogas de Opala. Fiz o avião e, voltando pra casa com o som no talo e os vidros escancarados, parei num sinal, fiz a velha pose de durão, traguei o cigarro e olhei pro lado. Tinha ali, a menos de 1 metro e mei da minha fuça, um bigode de policial montado numa moto com as cores da bandeira de São Paulo. Não pude deixar de escapar um sorriso da minha cara, rindo da dele. Eram três encapacetados motociclistas militares armados de pistolas e gás pimenta cercando meu carro. Eles não gostaram de mim. Seguiram-me até a frente do Estádio do Pacaembu, onde me mandaram encostar. Encostei. Pelo retrovisor, vi o bigodudo me chamar com o indicador, ainda sentado na moto, parecia o Magnum. Desci e encostei as mãos no teto do carro. O puliça perguntou se eu tinha algo em cima. Neguei e perguntei se eu tinha feito algo suspeito. “Sua cara é suspeita”, ele interviu educadamente. “Você tá chêrado?”, quis saber depois de me revistar. “Lógico que não! Acabei de acordar”, repliquei às 5 horas da tarde. “Vamos revistar seu carro, se tiver alguma coisa ai é melhor falar logo, porque a gente acha”, disse o outro PM, esse um pouco estrábico. “Não se preocupe, senhor. O carro é todo seu”, falei rindo, pois a primeira frase lá em cima é mentira. Para quebrar o gelo, comentei que meu carro era como um filho rebelde para mim, falei também que meu time entraria em campo em pouco tempo, por isso precisava chegar logo em casa. Enquanto isso, a avenida do outro lado da rua estava congestionada e eu era a atração dos motoristas, comentei isso com o policial que me vigiava. “Não liga não, eles não têm o que fazer”, ele concluiu assim, de forma genial, a curiosidade assustada das pessoas que assistiam três motos da polícia paulistana, com aquelas luzes rotativas acesas, enquadrando um paspalho descalço de bermudas num Opala preto às 5 horas da tarde na Praça Charles Muller. É, tive que concordar. “Abre aqui o porta-malas pra gente”, disse o vesgo, o maldoso da turma, “só gira a chave e sai fora. Quero ver se tem aquele quilo de cocaína aqui”, disse ele com o berro em punhos. “Cocaína?! Magina, só tem um cadáver, só não tenho certeza se ele tá morto mesmo”, falei enquanto pensava se existia alguma coisa que pudesse me complicar ali. Nada. A tensão diminuiu. Minha boca voltava a salivar e eu cumprimentei os senhores policiais, entrei no carro e vazei. Na noite anterior estava conversando com um amigo meu, o papo, em certo momento etílico, caiu em enquadros. Cada um lembrava dos enquadros da vida. Lembro de ter tesourado o assunto na metade, alertei que falar sobre isso atraia. Outra coisa, nunca tire onda quando a policia te parar, o certo é descontração e tranqüilidade para lidar com os agentes da lei. Se você tiver um tijolo no bolso da jaqueta ou encaixado na virilha será mais difícil disfarçar calma e as chances de tomar no rego são grandes, mas não se entregue e nem reaja, entre no jogo, eu disse, uma das piores coisas na vida de um homem é cair no sistema como culpado.

Thursday, September 13, 2007

NÃO!!!!

E agora?

notas

Hoje acontece o show do Faraquet no Grazie a Dio. Não será mais no StudioSP, como divulgado anteriormente, sabe-se lá o motivo. A banda entra 1h da manhã e o ingresso custa R$25, mandando um email para studiosp@studiosp.org rola um desconto de 10 reais.
Ah, eu também nunca fui ao Grazie a Dio, mas fica ali na Rua Girassol, 67, na Vila Magdalena. Talvez eu vá, minha idéia principal e encarar a banda no Rio de Janeiro, sábado que vem num bate-e-volta medo e delírio.

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Falando nisso, consegui hoje “Uma Espécie em Extinção”, filme dos anos 80 com Bill Murray fazendo o papel de Hunter S. “Gonzo” Thompson. No mesmo pacote, adquiri também a 10ª temporada dos Simpson. Lógico que é pirataria, como já disse porraqui antes, sou fiel ao meu pirateiro.

Tuesday, September 11, 2007

Oi, meu nome eu esqueci. E hoje é só mais um dia dourado. Estou respirando fumaça e ainda calibro tudo com um cigarrinho, que desce como uma colherada de poeira, pra ver se não fode de uma vez. Envelheço tomando sol no concreto. O clima tá muito seco aqui na cidade. Finjo que tudo segue na moral quando acordo e chego no serviço, abro a cortina e vejo as pessoas se arrastando lá em baixo na calçada, sem a menor elegância. Faz tempo que não chove, daqueles torós com trovoadas retumbantes que ecoam até Valhalla e fazem esses répteis de asfalto escorregarem pra debaixo das marquises. Às vezes as marquises caem e esmagam os infelizes como uma imensa pedra arremessada pela mão pesada de deus. A chuva molha os cartazes de crianças desaparecidas e meus cigarros, mas não me importo, entendo que isso é vida. Se tivesse asas eu voaria para cima das marquises e pensaria num lugar mais arejado para visitar. Como só posso caminhar, vou me arrastando até uma sombra, sento e acendo um cigarro e rezo por uma chuva que não vai cair nos próximos meses.

Monday, September 10, 2007

às moscas

Gigantes adormecidos nas ruas, como a igreja abandonada, a creche e uma habitação completamente descascada. Na última eu entro, na poeira, entre cães famintos e tigelas de cereais esquecidas. Nesses lugares inóspitos, onde poucas pessoas têm coragem de mostrar a fuça, eu caminho descalço após dirigir 230 quilômetros pelas interestaduais sem a menor intenção de chegar em algum destino propriamente. Na verdade, andei sem rumo e cheguei aqui numa cidade morta. Talvez seja destino, ou sossego fortuito. Sento numa praça tomada pelo capim que empurra as calçadas para crescer num silêncio sepulcral onde apenas escuto o farfalhar das árvores secas de inverno ou alguma lata vazia rolando pelo chão. Tenho medo de assobiar. Agüento duas horas sentado num banco de concreto, noto que tem um mendigo dormindo sobre um monte de feno, talvez seja o único habitante dessa cidade, mas nem chego perto. Hoje não quero conversar com ninguém.

Monday, September 03, 2007

BAIXO CALÃO

Quer comprar um desenho meu, com dedicatória de amor de coraçãozinho atrás e marca de baton? Vem aqui, ó.

Wednesday, August 29, 2007

A Lume Filmes, uma nova distribuidora de DVDs lá do Maranhão, promete para breve o lançamento de Down By Lawn, do Jarmusch, fora outros filmes interessantes.



Se liga como ficou a Cate Blanchett fazendo um jovem Bob Dylan para um filme que vem ai sobre a vida do cantor.

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No ótimo Blog dos Quadrinhos, é possível conferir os principais ganhadores do Salão de Humor de Piracicaba 2007. E rola até uma suspeita de plágio entre os vencedores. O trabalho do John Lennon e a Yoko é um arregaço.

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“Você gosta desse submundo?”, ela perguntou, me arrancando da bolha absorta que eu estava.

“Hã?”, eu disse. “É. Venho sempre aqui.”

Fui parar no Amistosas, 4 e meia da manhã na segunda passada. Ali realmente não é um lugar cheiroso, parece mais uma curva de rio, entretanto, não deixo de me sentir à vontade lá. Bebi sozinho até que apareceram 3 garotas de programa e sentaram na mesa. Foi daí que saiu o diálogo acima. Me pegaram pra contar a história da vida delas. Confesso que não fiquei nem um pouco interessado.

“Já vai?”, perguntou a mais velha, que momentos antes disse ter apenas 24 anos, no entanto, aparentava ter muito mais.

“É. Tenho que trabalhar cedo”

“Leva a gente prum hotel.” Ela propôs. “Vamos fazer uma brincadeira gostosa. 100 reais cada uma”

“Cuméquié?”, eu disse entorpecido de sono. “Vocês me convidam e eu ainda tenho que pagar. Ah má vá!”

Fui embora, rezando pra polícia não encrespar comigo na Consolação.

Tuesday, August 28, 2007

Sabe aquele papo de seguir o caminho errado porque é mais fácil? Esse negócio das escolhas que fazemos e acreditamos, sem pensar direito, achando que assim o futuro pode estar garantido, ou morto. A tal da complacência. Talvez por medo ou acomodação. Talvez por dúvida de que você realmente pode fazer alguma coisa, mas não tem certeza. Sabe aquele papo? Que ninguém comenta? E os dias vão passando, e as rugas cada vez mais profundas, e na vala delas você começa a perceber que alguma coisa incomoda enquanto o tempo passa e a vontade adormece, como algo esquecido na areia que o vento cobre, causando uma coceira danada que arranha a alma, uma tristeza que você tenta disfarçar reclamando do gosto amargo que só você sente enquanto os outros degustam. Sabe aquela conversa de bar que você fala, mas ninguém escuta? Pode ser apenas uma viagem particular. Picuinha enlatada. Sabe, né?

Thursday, August 23, 2007

sono é o estado natural de quem tem emprego fixo

Essa semana eu tentei segurar as rédeas da mula e fazer tudo direitinho no pântano de carpete, com os dentes guardados e as mãos nos bolsos, que nem Willian Bonner. Pude notar que minha cabeça até funciona melhor, consigo somar sem ajuda de calculadoras e não esqueço de regar meu manjericão dia nenhum. Fico um pouco de saco cheio das coisas, entretanto isso acontece quando estou confuso também. Sinto-me entorpecido pelo sono e pelo tédio, como uma folha planando na brisa. Hoje é quinta-feira, primeiro dia da semana que começo a beber pesado e correr descarrilado num pesadelo noturno pelas ruas de São Paulo. No rádio, a trilha do caos me trinca os molares com MC5 mandando “The American Ruse”, daí desce um Stones e Dead Kennedys manda “Viva Las Vegas”, já que tudo é uma merda mesmo, só que eu me divirto.

Tuesday, August 21, 2007

num fode o caraio

Sexo e morte são os principais elementos na evolução do homem, segundo Milo Manara.

Achei isso no Pedro Dória.
"Numa sociedade fechada, na qual todos são culpados, o único crime é ser pego. Num mundo de ladrões, o único pecado capital é a burrice."

Hunter S. Thompson, em "Medo e Delírio em Las Vegas"

Monday, August 20, 2007

Sábado foi um dia/noite que eu fiquei impressionado com a durabilidade do meu corpo. Durante um churrasco com o pessoal do trabalho e uma noitada no CB, bebi o equivalente a 2 piscinas de cerveja, caipirinha e pinga de qualidade. Isso que ainda rolou um intervalo quando minha Pequena quis assistir uma peça de teatro de 2 horas de duração. Eu, que estava completamente embriagado e mijando a cada 15 minutos, evitei complicações drásticas para minha pessoa e os atores preferindo ficar do lado de fora, andando a esmo pelo centro da cidade, procurando algo para matar o tempo nos bares decadentes da região. Não encontrei ninguém jogando dominó e descobri que esse negócio de medo de assalto é muito relativo quando se está pior que os mendigos. A cidade estava sem água por ali. Como minha cabeça girava num furacão, sentei num degrau duma loja fechada e tentei meditar, repetindo um mantra de que eu estava bem, eu estava bem. Não deu outra, vomitei ali mesmo. No CB, minha memória recorda apenas de flashes imundos, lembro do Xico Sá me usando de pêndulo e de algumas canções em rotação errada do Wander Wildner, lembro também que se em algum momento anterior faltou água, no banheiro do recinto o mijo transbordava dos vasos sanitários. Pânicos para os All Stares furados. Fomos embora antes do fim do show. Definitivamente, eu preciso descansar essa semana.

Thursday, August 16, 2007

O novo disco da PJ Harvey sai dia 25 de setembro, nos EUA.

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A banda sueca Love is All está vindo para o Brasil logo logo, segundo o blog deles no MySpace e o site da Pitchfork. A rapaziada vai participar do festival No Ar Coquetel Molotov, no dia 14 de setembro. É bem provável que eles pisem em São Paulo também.

"Busy Doing Nothing" - Love is All

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Hoje tem Fla x Flu no Maraca. E tem também a monólogo do Nelsinho Peres, “Querência”, no Teatro Fábrica, às 21hs. Entre o jogo na TV e a peça, fico com a segunda opção. Se alguém quiser me acompanhar, dê um toque. Vale a pena.

Tuesday, August 14, 2007

Sem grandes pretensões, estou nos primeiros esboços de uma história em quadrinhos. A primeira que vou tentar desde 1997, quando iniciei uma aventura infanto-juvenil junky que - por motivos que não sei explicar - acabou no lixo. Como não quero palpites ou intervenções nenhuma, pretendo fazer tudo sozinho. A idéia inicial do roteiro está no papel. Dá um trabalho do caralho definir os personagens, suas características e idéias, seus papéis na estória que sequer um desfecho tem ainda. Sigo escrevendo tudo que vem à mente para depois cortar aqui e colar acolá. Caminho na rua e fico imaginando diálogos e cenas. A idéia é ter pelo menos um início interessante e deixa-lo aberto para a continuação, assim, posso começar a colocar tudo no papel logo: desenhos, balões e nanquim. Pode ser que eu não faça porra nenhuma também. Pode ser que eu continue frustrado lendo os quadrinhos dos outros e achando o mundo uma merda. Entretanto ando pensando nisso grande parte do dia, rabisco sempre que encontro um tempo livre e agora vou começar a tirar fotos para determinar pelo menos os primeiros quadros, não posso estacionar. Preciso ordenar meu tempo e começar essa porra. Esse é o momento. Preciso largar um pouco da rotina emprego-bar-cama enquanto a vida escorre pelo ralo sendo que não faço nada de interessante a não reclamar, encontrar os amigos e jogar sinuca. Não que tudo isso seja ruim, muito pelo contrário, só que não está pegando nada e às vezes fico um pouco encucado e me perguntando se não sou um boçal de dia e um bêbado entediado à noite.

Monday, August 13, 2007

se van todos a la mierda

Hoje fico meio assombrado quando volto da estrada e deságuo na Marginal, em São Paulo. Ao contrário de pouco tempo atrás, quando o cenário de filme noir me instigava a abrir o vidro do carro para inspirar fundo todo aquele gás carbônico misturado com o fedor doce do Tiête e do peido que eu acabara de soltar, sossegado no volante com um cigarrinho na canhota, em calafrios, sabendo que logo mais iria encontrar os capangas em algum boteco imundo perto do centro da cidade e depois sair pra apavorar cocotas berronas pelos becos pixados. Meio constrangedor tudo isso, mas ando meio apático com essa porra toda de concreto e lâmpadas laranja, esse grande pedaço de merda incrustada no Sudeste do país. Talvez o problema nem seja a cidade, talvez seja apenas essa rotina sacal nesse ambiente empestado de imbecis. O trânsito me esgota. A noite, onde tem música, é um playground de seres decadentes com argolas douradas e baton rubro borrado na cara tentando requentar alguma idéia ultrapassada. Os playboys dominaram shows e restaurantes e avenidas. Os malacos estão cada dia mais malacos, só que um pouco mais amedrontados com todo arsenal bélico paranóico dos ratos. Meus antigos capangas se perderam pelo mundo, e os que sobraram, garantiram um cobertor de orelhas e agora tentam sobreviver como elos perdidos que apertam os botões dos semáforos para atravessar a roleta russa da vida. Hoje bebo em silêncio. Ando apático. Talvez seja só uma fase. Ou a mais pura retórica. Só sei que senti isso ontem. Estou ficando velho.

Let's Stay Friends

dia 18 de setembro será lançado, lá fora, o quarto álbum do Les Savy Fav. Com participações de uma pá de camaradas da banda, "Let's Stay Friends" trará 12 músicas inéditas. A banda não têm datas nem turnê agendada após o lançamento.

abaixo a segunda música do futuro disco:

"The Equestrian" - Les Savy Fav

+ cousas no myspace deles.

Friday, August 10, 2007

1973

Eu fiz todas as lições de casa. Agora posso tirar meus sapatos cheios de areia e descansar até o fim do dia. Olhando as paredes da sala mudar de cor enquanto o dia se esconde suave pela janela. O jeito que você chega em casa e me aperta. Com o céu azul e negro e cinza chumbo lá fora atrás da porta ainda aberta. O cheiro de cigarro doce e antigo no seu cabelo quando me pega no colo. Embora eu saiba me virar sozinho, algo me faz precisar de você. Mas os senhores te sugam a energia e matam nossas memórias. E a cada dia que passa você está cada vez mais murcha. E já não posso mais te alimentar. Fico triste constantemente e penso que um dia você vai sumir e nunca mais voltar. E todas essas músicas tristes ficarão ainda mais tristes. E as lições de casa serão ainda mais eternas.

sensação de morte sem gelo

Acordei hoje bêbado depois de uma jornada noite adentro na praça Roosevelt. Foi difícil chegar no banheiro, foi escroto apontar o pau pro vaso sem evitar molhar tudo ao redor. Lembro de uma vez, numa situação muito parecida, que quebrei dois dedos do pé direito numa topada tentando chegar ao banheiro. Hoje tomei um banho, mandei uma salsinha crua pra forrar o estômago que estava efervescendo, numa mistura de nicotina com espuma de cerveja, e corri pro trampo. A primeira parte do dia até que correu bem, mas eu fiquei faminto, numa fome nojenta da ressaca, seria capaz de comer até tampas de panela sem sal e, ao invés de dormir uma miserinha, fiz a merda, caguei no mato por tentar a sorte no Andrade, um restaurante nordestino em Pinheiros que eu nunca tinha ido. Sou fanático por carne de sol e feijão verde e podia visualizar o prato. Já no recinto, enquanto esperávamos o rango, minha cabeça começou a dar tilts e eu cuspia nas mãos, que lembravam o leito de um rio seco, para dar uma hidratada. Arrêgo. A comida demorou pra caralho e, quando chegou, a carne de sol com farofa que pedi parecia um monte de areia numa travessa de ferro. Não entendi, mas não estava em condições de questionar porra nenhuma, apenas meti o garfo ali e senti algo mais sólido no fundo. Cavei e encontrei um pedaço de carne enterrado como uma havaianas esquecida há anos numa praia carioca. Mesmo sentindo muita falta do maldito feijão verde, um dos pratos mais tradicionais desses restaurantes típicos nordestinos, comi feito um porco, ofegando e deixando grãos de arroz escapulir pelas arestas da boca. O sono veio como um soco no queixo. Sentia um desespero desgraçado dentro do corpo morto. Quando pagamos a conta, já não entendia onde estávamos olhando através das pálpebras. Quando chegamos ao escritório, me esforcei e fui dar uma volta na rua para animar um pouco a carcaça. Ainda estou acordado, tentando agir naturalmente ao som de Bad Brains para ficar alerto, com uma vontade desgraçada de mandar tudo pra casa do caralho.

Thursday, August 09, 2007

Marcelo Montenegro, Ronaldo Bressane, Carpinejar e afins, n'As Escolhas Afectivas.

buquê de presságios

De tudo, talvez, permaneça
o que significa. O que
não interessa. De tudo,
quem sabe, fique aquilo
que passa. Um gerânio
de aflição. Um gosto
de obturação na boca.
Você de cabelo molhado
saindo do banho.
Uma piada. Um provérbio.
Um buquê de presságios.
Sons de gotas na torneira da pia.
Tranqueiras líricas
na velha caixa de sapatos.
De tudo, talvez, restem
bêbadas anotações
no guardanapo.
E aquela música linda
que nunca toca no rádio.

Marcelo Montenegro.

Lá tem mais.


* achei lá na Fernanda.

Wednesday, August 08, 2007

Faraquet



Depois de Joe Lally, The Evens e Medications, agora é a vez do Faraquet, mais uma banda da Dischord Records a baixar aqui no Brasil para uma mini-turnê em menos de um ano. Dia 13 de setembro eles tocam na cloaquinha Studio SP, depois seguem direto pro Pelourinho, em Salvador, daí Rio de Janeiro e fecham em Sampa novamente.

meus dias aqui estão acabando comigo

Ouço a história com o vento entrando pela janela aberta, que serve apenas para expulsar a fumaça do cigarro que cerca minha fronte, e lá fora, numa noite prateada, faz muito frio. Ontem, abri um espaço na mesa e espalhei as cartas em busca de algo revelador. Fazia quase 1 mês que não praticava sozinho, ao som dos vinis de Bebop e Oscar Peterson, algumas pescoçudas geladas e muitos cigarros que queimavam como incensos esquecidos na mesa de vidro. É difícil lidar com a situação, mesmo que seja apenas um adestramento para matar o tempo e sonhar. Coço tanto minha cabeça que o cérebro sangra, penso em desistir na aflição pelo resultado almejado que não surge logo na minha frente. A saudade das coisas que não conheci corre em minhas veias. Eu preciso fazer algo. Meus dias aqui estão acabando comigo. Nos dias solitários só consigo pensar na minha verdadeira vontade que nasce entre as embalagens e garrafas vazias. Já nem estou mais comigo. O pincel rola pela mesa e explode no assoalho, eu fico olhando aquela linda mancha respingada e pensando no branco que deve ser subvertido.

scanner lisérgico



bem melhor que o original.

Tuesday, August 07, 2007

égua


o site da Conrad já disponibilizou a pré-venda do novo volume das tirinhas de Calvin & Haroldo.

e, pelo que sei, a Pixel solta outro clássico em breve, “Corto Maltese e as Célticas” , porém, nada consta no site da editora ainda.
Ando por ai numa manhã qualquer, chutando pedras na calçada, na balada de um idiota. Fazendo coisas que sempre faço pela cidade quando estou sangrando. Minha esposa está em casa, provavelmente ao telefone, tentando descobrir por onde ando, na balada de um idiota. Na verdade ela não está nem um pouco preocupada, apenas não consegue lidar com suas escolhas e limitações, a sua solidão por opção. O ar é mais seco e a grama mais cinza aqui fora. Extraio a bala enterrada em minha cabeça com as unhas sujas e jogo fora meu único amor verdadeiro. Agora faço do tempo um caminho, na balada de um idiota, faço do passado um crime.
Tava mais que na hora de alguém fazer alguma coisa com esses metroviários vagabundos. Vá tomar no cu. Todo mês esses desgraçados arrumam alguma greve, e quase sempre nada tem a ver com o metrô em questão. O sindicato dos pilantras é o mentor de toda essa putaria. Uma das greves foi contra a Emenda 3, ou seja, contra o trabalhador pessoa jurídica que não abastece o sindicato, a porra da CUT. Daí, eu me pergunto: o quê os metroviários têm com isso? Essa última greve da semana passada exigia participação nos lucros do Metrô, e isso agora, em pleno agosto, sendo que o fim do ano ainda está um pouco distante. Creio que quando aceitaram o emprego, nada disso constava em contrato, e novamente cito o sindicato agindo. Mesmo assim, tô cagando se os funcionários são reféns da máquina, se isso fosse legitimo, o mais sensato seria liberar as catracas para os passageiros e não transformar a cidade num caos e foder com a vida de quem não está envolvido com essas falcatruas.

Monday, August 06, 2007

Dentro de um sonho eu acordei para um pesadelo. Nascido para morrer numa rua escura de agosto que fede a mijo. Dentro de um sonho escutei melodias de faroeste. Enquanto caminhava tentando esquecer o diabo eu acordei num filme de Leone. Em algum lugar, aquele dia, cães ecoaram num lugar onde tudo é escuro. Em um sonho acordei afogado em lágrimas em pó.

Wednesday, August 01, 2007

na estrada, entre o gelo e a poeira


São Miguel das Missões - RS

Cordilheira dos Andes, numa tarde amena de inverno: - 10ºC
curvinhas arrojadas na desdida da bagaça, onde tudo congelava, desde o dedão à ponta da orelha.
Um vulcão nas proximidades de San Pedro do Atacama


Deserto do Atacama

algum vilarejo faroeste na Argentina
amigo dazantigas e de várias histórias podres em Landantáu, Realgem, agora está batendo pernas no empoeirado Afeganistão. O blog do maluco, que é uma mistura de Hunther Thompson com Burroughs sem gelo, está fervilhando de relatos fodaços.

Monday, July 30, 2007

Meu grande amigo Cabeça formou uma banda nova com outro truta, o Gui. Eles estão ensaiando todos os dias e acabaram de colocar 2 músicas no MySpace recém-aberto.

Escutaí:

CICRANO
A viagem terminou e eu já voltei ao trabalho, à rotina e às velhas regras. Estou plenamente satisfeito aqui na escrivaninha, inclusive por não ter enfrentado grandes problemas na expedição e pelas paisagens e pelos pardieiros baratos de água morna e sabonetes com cheiro de cogumelos e pela falta do que pensar enquanto segurava firme a direção numa rota secundária sem caminhões lentos onde podia me ver lá de cima escutando Desmond Dekker no volume médio e você dormia ao meu lado. Gostei de assistir a quilometragem mudando mais que os ponteiros do relógio em seu giro preciso, não que a distância importasse, e sim porque o tempo havia perdido todo o significado. Sedativo, esse foi o efeito dessa viagem, onde idéias e pensamentos invadiam minha cabeça e não faziam sentido algum, escorrendo rumo ao esquecimento logo em seguida. A estrada acalma, ao contrário das cidades aglomeradas e cheias de semáforos e sinais e buzinas, limitando e alertando os sentidos. Evitamos as grandes cidades como crianças evitam o escuro. Consultando mapas, fugíamos de qualquer lugar com mais de 2000 habitantes, pulando de ponto em ponto. O povo argentino, ao contrário do que a imprensa esportiva e os comerciais de cerveja mostram, é atencioso e prestativo, sempre querendo ajudar e se oferecendo para mostrar o melhor caminho, a saída ideal. Creio que em Buenos Aires, assim como São Paulo, as pessoas sejam um pouco mais frescas e babaquinhas.
As Cordilherias são um cenário absurdo. Não posso acreditar que pessoas morram sem nunca terem passado por lá. Neguinho gasta uma fortuna para lamber o cu do Primeiro Mundo e esquece que aqui do lado têm muita coisa interessante e virgem para ser vista sem tanto desgaste. Não que o Chile seja hospitaleiro. Na fronteira com a Argentina cheguei a ponto de dizer ao fiscal que não precisava mais se preocupar que eu daria meia-volta, após ele dizer que faltava um documento dentre a penca de papéis solicitados. Notando nosso descaso, o babacão nos liberou. Mas isso não é nada comparado à imigração da fétida Londres – sem nunca desmerecer a cidade. Entretanto, o Chile tem a geografia muito diversificada em tão pouco espaço. É impressionante cruzar a enorme cadeia montanhosa e sair em pequenas estradas sem acostamentos, com suas cidades minúsculas cheias de carros antigos, tratores, cachorros em bando cheirando o próprio cu pelas ruas e mercadinhos com frutas em decomposição. Poucos quilômetros à frente, nos deparamos com o Pacífico espumando entre as pedras. Em um giro de pescoço e possível ver montanhas, o mar e um cenário campestre com gado pastando e casinhas de madeira em meio aos cactus.
Decidimos pelo Atacama chapados pela paisagem. Sem pestanejar dirigimos até o deserto. Uma viagem cansativa de 2 mil quilômetros, sendo que no final muita areia torna tudo um pouco cansativo e monótono. Só que tudo muda quando se chega à San Pedro do Atacama. Lá é possível descansar e conhecer muita coisa: O Vale da Lua, o Vale da Morte, Os Gêisers do Tatio, vulcões e muitas outras paisagens naturais.
Na volta seguimos pela parte norte das Cordilheiras, passando por lagos congelados e montanhas de areias e, assim, chegamos à Argentinas ao meio-dia do dia 23. Depois seguimos por estradas desertas, passando por uma salinas imensa e chegando à novas montanhas nas proximidades de Purmamarca, onde comemos. Seguimos para Jujuy e depois Salta, quando já era noite e, exaustos, não conseguimos encontrar um mísero quarto de hotel. Envolvidos num trânsito caótico, enquanto o cansaço moia os ombros e as costas e o sol se punha, desistimos de qualquer possibilidade de ficarmos lá e seguimos madrugada adentro pelas rodovias, parando num lugar que sequer lembro o nome, num hotel com o ar tão espesso que era possível enxerga-lo, com pulgas que roíam meus calcanhares e uma tv tão minúscula quanto meu polegar. No dia seguinte, dirigimos por 1300 quilometros tamanha era a vontade de encarar um fejãocarroz no Brasil. Chegamos em Foz do Iguaçu numa madrugada gelada, conseguimos um hotel podre, lotado de hermanos, onde a água era fria e nos fez amaldiçoar a pátria amada. No dia seguinte estávamos em São Paulo. Foram 9000 quilometros rodados e quase R$4000,00 reais gastos, incluindo tudo.

Durante a viagem, li o surpreendente “RUM”, de Hunther S. Thompson, que vai virar filme. É sempre bom ler esse maluco.

Li também “Matadouro 5”, de Kurt Vonnegut. Uma das coisas mais estranhas que já li em toda minha vida pela forma peculiar de contar a história de um soldado que esteve no Massacre de Dresden – um bombardeio das forças britânicas e americanas à uma cidade alemã que matou quase 200 mil pessoas - durante a Segunda Guerra Mundial. Tudo parece tão bobo e irritante e incômodo, numa intenção clara de atingir o leitor para temas sérios como a morte e a guerra. Não imagino como o autor conseguiu construir um livro como esse, com histórias dentro de histórias, personagens diversos e complexos e uma prosa fácil que flui pelos curtos capítulos.

Trilha perfeita da viagem:
- “Do You Want To Know A Secret” – The Beatles
- “C’mon Everybody” – Eddie Cochran
- “King of The Road” – Roger Miller
- “Up On The Roof” – The Drifters
- “Horses” - Bonnie ‘Prince’ Billie
- “Time Has Told Me” – Nick Drake
- “She Belongs To Me” – Bob Dylan
- “Get Rhythm” – Johnny Cash
- “Two Of Us” – The Beatles
- “High & Dry” – Radiohead
- “Don’t Be Shy” – Will Oldham

Saturday, July 28, 2007

e aqui estou eu de volta
à cidade grande dos gabirus
que tropeçam em meio-fios
atravessam alamedas
olhando para ambos os lados
e esquecendo da bagaça
que tem ali na frente

nos grupos,

que insistem em invocar
e provocar
sendo que não furei o sinal
nem esqueci da torre
ou comi a água

você
racha conta comigo
e duvida do meu instinto
e acredita em controle
e nunca enxerga no escuro
e sempre diz a verdade sob o ataque

já percebeu por onde ando?

Monday, July 23, 2007

ontem cheguei a Sao Pedro do Atacama. eu e minha parceira dirigimos muito até aqui. cruzar a fronteira da Argentina para o Chile foi engracado. tomamos 3 enquadros assustadores, com caes farejadores e baculejo geral, no entanto, as Cordilherias é um visual fantástico, com paredoes de gelo e neve imensos de entortar o pescoço e esquecer da estrada. na imigraçao fazia -10 graus e a polícia nao deu trégua, um embasso gigantesco que quase me fez dar meia volta e continuar na Argentina. paramos em Los Andes para pernoitar e depois seguimos numa viagem lisérgica pelas estradas do interior do Chile. As paisagens sao impressionantes. De um lado se ve o oceano Pacífico, do outro montanhas com vegetaçao semelhante à caatinga, porém com cactus e rochas. às vezes entràvamos nas nuvens. subindo ao norte, paramos em Tal Tal, depois de dirigir uns 700kms. conseguimos um hotel vagabundo bem barato. no dia seguinte, mais estrada sem descanso. viemos por uma estrada de terra no meio do deserto que nos trouxe ao Atacama. a cidade aqui é bem pequena e turisca. cara e cheia de gringos europeus. ontem bebemos até cair num bar que estava lotada. conhecemos umas chilenas interessantes que querem ir conosco até o Vale da Lua hoje. veremos.

amanha devo sair daqui. confesso que estou exausto. talvez seja a ressaca, mas até Sampa falta muito. devemos passar por Salta na Argentina e depois seguir por Corrientes, daì entramos nos Brasil por Foz. veremos.