Tuesday, December 26, 2006

road movie

hoje caio na estrada e, espero, devo rodar uns 6000km pelas rodavias da sulamérica. caso encontre algum computador no caminho, prometo enviar notícias.

Wednesday, December 20, 2006

O Pitchfork colocou lá o Top 100 deles das músicas de 2006. O foda é que têm bastante coisa pra baxar.
Há dias não durmo direito. Meu cérebro está atrofiado. O edredom está esquecido nesses dias quentes, ali enrolado no canto do quarto, como um cadáver, com suas marcas de cigarro e manchas de vinho de noites anteriores. Vejo assassinos na televisão muda.Tomo vários banhos por dia e aquele fio de cabelo não sai do sabonete. Ando pensando na infância e nas minhas diversões solitárias, no meu vício pelo jogo de botão, quando fazia tabelas do Campeonato Brasileiro em folhas de caderno pautadas e passava as tardes jogando sozinho. Eu contra eu. O Fluminense sempre ganhava as disputadíssimas partidas com direito a narração e tudo, suado, mas ganhava, e deixava sempre o Super Ézio de artilheiro. E os moleques da vizinhança estavam no clube com suas mães e chuteiras. Me pergunto onde estarão meus vinis de heavy metal e minhas latas de Colorgin pela metade e minha espada de madeira que usava para lutar contra os ninjas da seita negra no telhado da construção. Meu cachorro Fanjio eu enterrei no terreno baldio que dava acesso ao lago. Certo dia, fui até à Ferroviária só para ver um trem pela primeira vez, era difícil enxergar lá do outro lado. Espere um momento, a luz desse quarto está muita fraca, vou abrir a janela para entrar alguma luz do final de tarde.

Wednesday, December 13, 2006

É a morte do gato, na verdade uma bela gatinha cheia de pulgas, que nasceu rápida para morrer e doente demais para ser tomada como minha. Eu a chamava de Gato, simples, não sabia seu sexo até uma vizinha entendida a virar de barriga pra cima e olhar por entre suas patas traseiras. Apesar disso, não mudei minha maneira de tratá-la. Às vezes eu chegava de madrugada e lá estava Gato dormindo no sofá indiferente a minha presença. Eu preparava um miojo e dividíamos a última fatia de presunto que secava na terceira prateleira da geladeira sobre uma bandeja de isopor. Ela miava triste como uma rosa murcha nos finais de tarde quando eu não queria que o sol laranja desaparece atrás daquele novo miserável prédio de apartamentos. Gostava de observar seus grandes olhos verdes que não me diziam Nada e passar meus dedos por entre seus labirintos de pêlos. Ontem acordei apressado e nem notei a falta de Gato, ela não apareceu para cobrar miando sua metade de salsicha nem estava na janela escutando os periquitos piando insistentemente, provocando roncos secos no seu estômago. Cheguei tarde e deitei exausto no sofá, seus pêlos invadiram minhas narinas e minha boca, fiquei aguardando o ronronar suplicante por carícias na nuca, mas Nada. Quando fui colocar o lixo para fora encontrei Gato dormindo na sarjeta, pude ver a pele de sua barriga pela primeira vez, tostada pela correia do motor de algum carro, provavelmente o meu, dilacerada pela metade, com seus olhos verdes tristes e cheios de remela esbugalhados pelo pavor da ignição. Não me dei o trabalho de recolher seus restos, uma tempestade veio para sepultá-la em algum bueiro.

Tuesday, December 12, 2006

O mundo está perdido. Vejo isso quando me aventuro pela madrugada e algum magnetismo, ou falta de opção, me leva para algum lugar abarrotado de jovens. É difícil lidar com os jovens de hoje. Ontem dei uma passada no D-Edge, casa noturna de merda que existe aqui na cidade grande e tóxica. Já era tarde, umas 2 horas da matina e eu estava bem bêbado para uma segunda-feira. Logo na entrada, uma fila imensa me assustou, mas a porteira foi com a minha cara esburacada e me deixou furar. João Gordo estava nos toca-discos mostrando que o Dando Dolabela e ele formam um casal lindo de morrer, cada musiquinha podre aquele maluco tocava. Ele se acha um cara mau, eu acho que ele é um fofo. Na pista, que parecia mais uma matinê de festa de igreja, a pirralhada se esbaldava vergonhosamente, uns carinhas dançavam rock como se existisse uma garrafa ali no chão, entre as pernas, e as pálidas gurias, a maioria, de pirulito na boca, procuravam lobos, que não existiam ali dentro. Só idiotas. Bebi um whiskinho encostado na parede, a dona da noite, amiga antiga apareceu e foi muito atenciosa comigo, mas estranhou meu olhar vago. Depois encontrei garotas solitárias que se entorpeciam de montão, mas preferi voltar ao carro e escutar Jon Spencer no caminho de volta para casa.

Monday, December 11, 2006

Este final de ano segue sinistro e faz frio ali fora, já nos últimos espasmos da primavera. Muitos amigos e conhecidos estão dando baixa e fechando o balanço de 2006. Coisas estranhas acontecem ao meu redor, com pessoas próximas de mim ou nem tanto. Aqui no escritório alguns camaradas estão com familiares doentes, outros conhecidos chegaram a perder uns chegados e outros ainda estão passando por uma fase cabeluda. É treta. Nesses momentos a vida vira um jogo de pega-varetas, qualquer movimento abestado e tudo vai pelos ares. Nestas últimas 3 semanas, me vi esfregando os olhos dezenas de vezes e pensando: caralho, quanta merda tá acontecendo. Contudo, fui EU quem vacilei. Eu fui um trem seguindo pelas Cordilheiras dos Andes e perdi o rumo. Eu fui um Dodge sem freio descendo a Avenida Brigadeiro 3 horas da manhã na contramão. Eu não segurei na tua mão.

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“Não levo jeito com o amor. De todos que tive não saí ileso de nenhum, mesmo quando fugi rápido e tropeçando pelas calçadas esburacadas dos bairros das gurias“.

Frase que escutei no fundo da classe quando tinha 42 anos de idade.

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Eu estou salvo do apuro, e devo isso ao Jon Spencer e ao Haruki Murakami. Eu estou em débito com o Crumb e o desgraçado do Jarmusch, com a Alexa May e Vanessa Lane num quarto vagabundo de hotel em Olhos D'Água. E, claro, você ai, deitada no taco do quarto, com suas meias furadas e os olhos trincados de tanto vinho e beque.

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Mamãe, eu voltei pra casa sábado, só que a senhora nem percebeu. Tem alguma coisa errada com a descarga. Volto aos reparos. Vou colocar tudo em ordem, mamãe. Por que as tijelas dos cachorros estão vazias? Mãe? Eu sei porquê a senhora está assim tão dispersa e absorta, eu sei a razão desse seu olhar vazio, mas apenas me abrace e deixe nossas lágrimas se misturarem, deixe nossos soluços entrarem na mesma sintonia. Eu também sinto falta dela, no entanto, agora ela está morta.

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Bill Sienkiewicz coloca à venda originais de suas ilustrações de HQ

do Omelete