Wednesday, December 24, 2008

Merda. É natal. Porcaria. Pegar rabeira no trem errado sem ter certeza. Correr de policial com as calças arriadas após um belo cagalhão numa avenida. Acreditar em chances. E desejar a paz e a luz. Sabe qual é que é? Têm uma pá de filho da puta que trabalha e recebe para tomar conta dos outros. Outros. A vida pode ser tão simples sem os outros. Outros. Todos querem presentes. Lembro da primeira série. Bem moleque. novo no colégio. Tínhamos que desenhar alguma porcaria em crayon. Papai e mamãe. Te amo vocês. Mesmo. Feliz natal. Amo vocês. Os outros, odeio. Se existe algo que odeio, é gente. Sempre apanhei bastante. Nas ruas e em casa. Sempre bati bastante. Na crocodilagem. O estado ensina. Ser mau é necessário. Lembro da primeira escola. Algo semelhante à Funabem. Escola do Estado. Uniforme azul claro. O gordinho tentou me intimidar ali, no meio da aula de encaixe. Tava entrando numas. Vê se pode. Tapa na cara e tal. À tarde. Chovia. Acenderam as luzes da classe. Ele me ameaçava. Apontei o lápis na cara dele. Eles me amarraram. Me levaram pra uma sala e me cercaram. Queriam entender. Entender. O quê? Selvagem nasce. NASCE E MORRE. Desde bem moleque sempre tive certeza: serei mau. Lembro da Maria Eugênia. Putinha. Ela gostava do Denis. Bostinha. Boyzinho da calça jeans cortada. No futebol me fez falta e sorriu. Depois, no bebedouro, eu enfiei sua cara na quina. Sangue. Muito sangue. E pontos na promoção. Ri com todos os dentes da boca. Me levaram prum canto. Me cercaram. Intimaram. Eles diziam: esse não tem jeito. É mau. Deu errado. Elimina. Evita. e eu olhava no olho. Ainda olho. Olho. 

Tuesday, December 23, 2008

satisfier

As enchentes assolam Sampa. O tempo que muda. A coisa tá feia. do céu aos rios, dos rios ao oceano. Se nada grave acontecer, daqui 48 horas eu espero já estar na estrada para algum lugar. vou rumo ao Sul, para longe dos espectros de Santa Claus - como mosca vermelha, como Jesse Custer -, ainda sem planos ou trajetos. Somente enfiar as coisas no porta-malas e raspar o gato, sob o sol estalante e as chuvas de frente. penso nas praias de Santa Catarina e na cidade de Porto Alegre, penso nas estradas secundárias que rasgam o interior. Penso em cruzar as estradas desertas do Uruguai e circular sem voltar, apenas indo - mucha muchacha – you ain't so such a much - para bem longe daqui, para bem perto de se sentir velho. distante das festas & confraternizações. não vou para Jersey City, mas quem sabe não dou um pulo em Montevidéu. depois eu volto. estragado porém suave. Cavalgar é preciso.

::

Ando um tanto podre este final de ano, talvez por causa da cirurgia que minou minha resistência, tão podre que fiz até um check up para conferir o que se passa dentro dessa carcaça de grilo. Fiquei num cagaço, naturalmente, em pegar meus resultados, mas tudo está nos trinques. Não tenho Hepatite C, nem colesterol alto, muito menos o temível HIV corre em meu sangue. estou apenas com alguma coisa inflamada na minha caixa torácica e piolhos.

::

Aqui tem o primeiro disco do Bill Fay inteiro pra baixar, assim, de mão beijada.

&

Aqui, na moral, esse tal de Eli “Paperboy” Reed e sua banda The True Lovers fazem soul music com pegada de nêgo doido, tipo um Al Green cheirado numas de roqueiro. Um dos melhores discos desse ano.
Eli "Paperboy" Reed and The True Lovers - "Roll With You" (via rapidshare)

Wednesday, December 17, 2008

capricho ou macumba

dia desses a gente tava falando do Alborghetti. dai fui assistir isso aqui. e sem querer, logo lembrei da coceira inglesa do Cabeça.
  

::

E Blues na Galeria.

Monday, December 15, 2008

suma

Dezembro chuvoso em São Paulo. As ruas do centro ficam bem mais acolhedoras, as cores intensas e definidas como se alguém regulasse o contraste de um monitor, transformando toda a atmosfera num sonho atrás da janela. Durante o dia as pessoas caminham por ai sem preocupações graves, sem o pânico. As árvores balançam e escuto o farfalhar das folhas. E o céu volumoso e escuro dançando em explosões lá em cima do topo dos prédios como num prenúncio de que alguma merda vai acontecer. E geralmente acontece. Como vudu. Quando a noite cai. Quando ando por ai e me sinto cansado de tudo, chateado. Quando os loucos mostram os dentes e as laminas sangram. Os semáforos piscam numa mesma cor. Talvez eu apenas precise dar uma volta e respirar novos ares por um breve período de tempo. Tempo. Faz tempo que ando pelas ruas molhadas do centro da cidade de São Paulo. Estou cansado e repetitivo. Só preciso dar uma volta. Sentir tanto sua falta me deixa doente. Eu tenho quase certeza de que você fez vudu, macumba, ou algum tipo de trabalho para me atrapalhar. Você costumava me acarinhar como um cão. Sinto-me doente agora. E não é nada demais. Apenas mãos suadas e um zumbido agudo na cabeça. Vejo uma senhora carregando uma grande sacola de feira do outro lado da rua. Sinto muito por tudo que aconteceu entre nós. Ontem sonhei com uma estrada que circundava a serra beira mar. O carro minúsculo deslizando numa faixa negra de asfalto sob grandes montanhas com os topos cobertos por nuvens carregadas, como os prédios, mas as montanhas são mais imponentes. Acordei com as mãos suadas e uma melodia estranha na cabeça. O som do mar, a risada de um louco. Tenho certeza sobre esses trabalhos. Quase. Tem alguma coisa errada comigo. Como se estivesse sendo feito de idiota. É o vudu funcionando. Tarde demais.

Saturday, December 13, 2008

escuto música a madrugada inteira. passei a me levar mais a sério, mas evito fazer isso. fico ouvindo música a madrugada inteira. daí pesquiso coisas. minha curiosidade é gigantesca, sem pretensões, apenas coceira. coisa de babaca dependente. daí encontro um country boogie no El Diablo Tun Tun e fico quieto e curvado como um fanático, solitário e devoto. apenas escuto. madrugada. porra, e descubro que western swing e rhythm & blues podem me transformar numa pessoa melhor. e que todos esses idiotas que acreditam em cadernos culturais de grandes jornais que vão à puta que pariu. escuto um Joe Tex e acho que todos os problemas já não existem mais. e fico matutando sobre o fato do amor não ter nada a ver com felicidade. nunca. penso. penso em coisas que não me dizem respeito. fico na minha. tento. ao menos. nunca tive dúvidas quanto ao fato dos crioulos fazerem músicas bem melhor que os brancos. nem hesito, palhaço. não mexe comigo senão te meto a faca. sou raso, mas não sou comédia. sad days, lonely nights. dá uma olhada nisto antes de comer teu sucrilhos. esqueça. ando com uma vontade desgraçada de morrer num acidente. deus, tenha piedade. nunca te escutei. eu acredito. escuta aqui. não mexe comigo. certo?
isso é uma das coisas mais ridículas que eu já vi em toda minha vida inteira. quase morri de vergonha alheia. 

Thursday, December 11, 2008



O lançamento da Musa e a abertura da exposição me deixaram um trapo velho. Maior putaria do caralho: mulheres lindas e seminuas, palavrões comendo solto, gente bêbada e petulante, amigos feios e malvados, garrafas voando e explodindo e sorrisos para fotos. Não posso esquecer de deixar registrado aqui meus sinceros agradecimentos ao Marquinhos, do Mercearia São Pedro, à Márcia, do Espaço Parlapatões, ao Linguinha, ao Cabeça, ao Trovão e a Lu e ao Márião & Saco de Ratos Blues, ao Vanderley e seu Demônio Negro, ao Ademir Assunção e Antonio Vicente - sem vocês, creio que a festa teria sido uma vernissagem insossa com gente fazendo biquinho. E obrigado aos amigos presentes - nada como encher a cara bem acompanhado. Precisei de 2 dias de repouso e reclusão para conseguir voltar a falar. Ontem, enquanto o telefone se esgoelava atado ao carregador e longe do meu alcance, eu sentia a velha sensação de que algo bem escroto acontecia na madrugada embolorada, eu olhava pro carro ali, sendo lavado pela chuva e pensava numa pá de merda, mas alcancei um Colto Maltese que estava esquecido debaixo da mesa e li até apagar. Hoje estou me sentindo novo, pronto pra uma briga de gangue no fundo de uma rua escura, mesmo assim, acho melhor, ultimamente, beber um vinho tinto morno na companhia de ninguém.

Hoje também achei uma resenha da expo no Homem Nerd.

já o Guia da Folha disse que o Carlos Carah aborda a relação entre arte & drogas. Bom, acho que eles confundiram a exposição com o lançamento d’A Musa Chapada. Até ai normal, mas eu tenho nojinho das temíveis drogas.

Aqui uma musiquinha pro chicote estralar.
e vamos pra rua piranhar.

Thursday, December 04, 2008

BAIXOCALÃO @ QUEBRAMAR
[]
Nos próximos dias 5 e 6 de dezembro, a baixocalão junta-se à enorme lista de atrações do Festival Quebramar de Música Independente, peripécia em vias de ACONTECÊNCIA na Universidade Federal do Amapá (Unifap), em Macapá.

No intervalo entre os shows de Macaco Bong (MT), Mopho (AL), Jorge Mautner (RJ) e outras 27 bandas florestais, uma VENENOSA SELETA de trabalhos dos artistas da galeria ABRILHANTA a festa piscando em um telão instalado nas redondezas do palco. Exposições, workshops e palestras complementam o evento, organizado numa JOINT-VENTURE entre o Coletivo Palafita e o Espaço Cubo.

A entrada é FRANCESA.

Participam da empreitada Glauber Shimabukuro (SP), Sandré Sarreta (RS), Victor eLgUY (SP), Diogo Rustoff (GO), Alex Senna (SP), Jotapepax (RS), Celso Gitahy (SP), Vânia Medeiros (BA), Fabiano Gummo (RS), Kael Kasabian (SP), Herbert Loureiro (AL), Paulo Ponte Souza (PA), BT Nóbrega (SP), Leonardo Malaquias (SP), Carlos Carah (SP), Dado Motta (SP), Rômolo D´Hipólito (SP), Mulheres Barbadas (SP), Lu Lapan (RJ), Andrea May (BA), Guilherme Caldas (PR) e Maurício Pierro (SP).

Só lembrando: dias 5 e 6 de dezembro de 2008, Unifap, Macapá, Amapá.
Entrada = zero rauls.
Estando por lá, prestigie.

via Cardoso.

Tuesday, December 02, 2008

ixi

Monday, December 01, 2008

sob encomenda

alguns dizem que são os faróis das carretas que vêm na direção contrária. outros, que são os animais que fogem das sombras. alguns temem a polícia ou a falta de sinalização. eu já discordo. fico apavorado mesmo é com o brilho da lua. nada é comparável àquele círculo prateado dependurado no firmamento, no escuro de uma estrada deserta, daquelas que todos evitam trafegar nas altas horas da madrugada. onde não há socorro. onde os andarilhos vagam. onde os cães, entre centenas de gerações, ainda não aprenderam a evitar. onde a lua impera sem parceria. e um carro ricocheteia nas crateras de uma dessas estradas secundárias federais e ali, dentro de um recipiente de aço, na cautela de não trincar nenhum dos molares, ou de um pedregulho largado de propósito no meio das faixas com o intuito de estraçalhar algumas rodas, alguém tenta escapar. a lua insiste. em silêncio. sempre. como uma senhora cansada na varanda. onde do pânico, que é algo que nunca se controla e sempre toma as rédeas, eu tento escapar. para não levantar suspeitas, arranco um dos fusíveis responsáveis pelos faróis, assim, meu maior temor se torna meu grande aliado, eu posso me guiar pelo breu noturno sob sua luz prateada. completamente apagado. nunca irão me encontrar. em terceira marcha, com o giro no talo, mantenho um olho na pista e outro no retrovisor. algo no porta-malas ainda respira com dificuldades, como um asmático trancado no porão. sob encomenda. pode-se dizer assim. até que acerto algo bem pesado com a lateral direita do Dodge Charger `74. o estrondo é tão forte que voam faíscas. o pneu estoura, tenho certeza pelo barulho. talvez a suspensão também tenha arriado, não garanto, pois não confiro. o veículo desliza para o lado contrário com violência, a borracha berra como se esfregasse o rosto de uma criança no cascalho. meu polegar esquerdo sai do lugar, mas consigo consertá-lo no calor. desço cambaleante e caio no mato seco que cerca a pista. não sei o que mais há ao redor. a lua lá, fitando tudo de braços cruzados. algo queima por dentro. escorre fogo pelas entranhas e pelos ouvidos. o rádio ligado numa estação errada. uma grande roubada.
O Largo da Batata à noite tem um clima bem noir. Dias atrás eu dei um pulo lá. fui procurar uma pessoa que não sabia aonde estava. apenas me dissera que era no Largo da Batata, num boteco com uma jukebox que tocava um forró sacana. já era bem tarde quando desliguei a ignição e deixei o carro deslizar até quase na esquina da Cardeal com a Cunha Gago. depois puxei o freio de mão e um cigarro. desci e tranquei o carro. caminhei rente ao muro e me encostei numa parede branca, debaixo de uma sombra formada pela luz do poste e pelo forro de alguma loja de macumba. apoiei minha breja no peitoral de uma janela e fiquei ali. haviam poucas pessoas nas ruas. elas eram enrugadas e sudoríparas como naqueles filmes. um grupo de 4 malucos passaram pela minha frente. eles estavam rindo de alguma coisa engraçadinha. eu não estava achando a menor graça. fazia tempo. eu esperava, foi quando lembrei da ficha do jukebox. o que ela fazia ali no meu bolso? comecei a me sentir como se estivesse numa história do Torpedo. desencostei e fui procurar outra lata. num boteco de azulejos azuis engordurados, perguntei se havia algo de errado com a máquina. Ixi, tá louco!, a mocinha de avental atrás do balcão disse, espantada hein - isso ai nunca funcionou. pois engoliu minha ficha, retruquei. a macacada toda riu. peguei uma nova lata e fui embora. voltei ao muro, às sombras. fiquei ali um bom tempo. jogando uma moeda para cima com ajuda do polegar. ela brilhava como lamina. uma moça baixa apareceu. de baton vermelho e lycra roxa. 

 - tá procurando alguma coisa? - ela perguntou com uma voz que parecia sair das entranhas do inferno. 
 - pode-se dizer que sim. 
 - o que você está fazendo aqui? 
 - acidente de percurso - respondi. 
 - E isso aqui, é pra mim? - ela arranca meu cigarro da boca e começa a tragá-lo, com um olhar bem de vagaba. 
 - devolve isso aqui, vagabunda - acelero, não tô pra palhaçada - tá achando o quê?
 - Calma, moço!
 - tô calmo.
 - você não gosta de chupar uma bucetinha?
 - você faz perguntas demais.
 - Eu sei.
 - eu não estou perguntando. estou afirmando isso.
 - credo! só achei que você estivesse procurando um programa.
 - não. dá licença.

fiquei ali mais um bom tempo. nem consigo me lembrar quanto. eu sabia que logo iria amanhecer. despertadores iriam tocar. e milhares de pessoas inundariam o terminal. fiquei ali mais um bom tempo. até que você apareceu. de vestido esvoaçante e um sorriso complicado no rosto. me fez perder o equilíbrio, mesmo encostado.

 - demorei muito?
 - égua!
 - hã?
 - nada. vamos embora.

e fomos assim.

 - gastou a ficha? - ela ainda perguntou depois.