Monday, December 01, 2008

O Largo da Batata à noite tem um clima bem noir. Dias atrás eu dei um pulo lá. fui procurar uma pessoa que não sabia aonde estava. apenas me dissera que era no Largo da Batata, num boteco com uma jukebox que tocava um forró sacana. já era bem tarde quando desliguei a ignição e deixei o carro deslizar até quase na esquina da Cardeal com a Cunha Gago. depois puxei o freio de mão e um cigarro. desci e tranquei o carro. caminhei rente ao muro e me encostei numa parede branca, debaixo de uma sombra formada pela luz do poste e pelo forro de alguma loja de macumba. apoiei minha breja no peitoral de uma janela e fiquei ali. haviam poucas pessoas nas ruas. elas eram enrugadas e sudoríparas como naqueles filmes. um grupo de 4 malucos passaram pela minha frente. eles estavam rindo de alguma coisa engraçadinha. eu não estava achando a menor graça. fazia tempo. eu esperava, foi quando lembrei da ficha do jukebox. o que ela fazia ali no meu bolso? comecei a me sentir como se estivesse numa história do Torpedo. desencostei e fui procurar outra lata. num boteco de azulejos azuis engordurados, perguntei se havia algo de errado com a máquina. Ixi, tá louco!, a mocinha de avental atrás do balcão disse, espantada hein - isso ai nunca funcionou. pois engoliu minha ficha, retruquei. a macacada toda riu. peguei uma nova lata e fui embora. voltei ao muro, às sombras. fiquei ali um bom tempo. jogando uma moeda para cima com ajuda do polegar. ela brilhava como lamina. uma moça baixa apareceu. de baton vermelho e lycra roxa. 

 - tá procurando alguma coisa? - ela perguntou com uma voz que parecia sair das entranhas do inferno. 
 - pode-se dizer que sim. 
 - o que você está fazendo aqui? 
 - acidente de percurso - respondi. 
 - E isso aqui, é pra mim? - ela arranca meu cigarro da boca e começa a tragá-lo, com um olhar bem de vagaba. 
 - devolve isso aqui, vagabunda - acelero, não tô pra palhaçada - tá achando o quê?
 - Calma, moço!
 - tô calmo.
 - você não gosta de chupar uma bucetinha?
 - você faz perguntas demais.
 - Eu sei.
 - eu não estou perguntando. estou afirmando isso.
 - credo! só achei que você estivesse procurando um programa.
 - não. dá licença.

fiquei ali mais um bom tempo. nem consigo me lembrar quanto. eu sabia que logo iria amanhecer. despertadores iriam tocar. e milhares de pessoas inundariam o terminal. fiquei ali mais um bom tempo. até que você apareceu. de vestido esvoaçante e um sorriso complicado no rosto. me fez perder o equilíbrio, mesmo encostado.

 - demorei muito?
 - égua!
 - hã?
 - nada. vamos embora.

e fomos assim.

 - gastou a ficha? - ela ainda perguntou depois.
 

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