Monday, December 01, 2008

sob encomenda

alguns dizem que são os faróis das carretas que vêm na direção contrária. outros, que são os animais que fogem das sombras. alguns temem a polícia ou a falta de sinalização. eu já discordo. fico apavorado mesmo é com o brilho da lua. nada é comparável àquele círculo prateado dependurado no firmamento, no escuro de uma estrada deserta, daquelas que todos evitam trafegar nas altas horas da madrugada. onde não há socorro. onde os andarilhos vagam. onde os cães, entre centenas de gerações, ainda não aprenderam a evitar. onde a lua impera sem parceria. e um carro ricocheteia nas crateras de uma dessas estradas secundárias federais e ali, dentro de um recipiente de aço, na cautela de não trincar nenhum dos molares, ou de um pedregulho largado de propósito no meio das faixas com o intuito de estraçalhar algumas rodas, alguém tenta escapar. a lua insiste. em silêncio. sempre. como uma senhora cansada na varanda. onde do pânico, que é algo que nunca se controla e sempre toma as rédeas, eu tento escapar. para não levantar suspeitas, arranco um dos fusíveis responsáveis pelos faróis, assim, meu maior temor se torna meu grande aliado, eu posso me guiar pelo breu noturno sob sua luz prateada. completamente apagado. nunca irão me encontrar. em terceira marcha, com o giro no talo, mantenho um olho na pista e outro no retrovisor. algo no porta-malas ainda respira com dificuldades, como um asmático trancado no porão. sob encomenda. pode-se dizer assim. até que acerto algo bem pesado com a lateral direita do Dodge Charger `74. o estrondo é tão forte que voam faíscas. o pneu estoura, tenho certeza pelo barulho. talvez a suspensão também tenha arriado, não garanto, pois não confiro. o veículo desliza para o lado contrário com violência, a borracha berra como se esfregasse o rosto de uma criança no cascalho. meu polegar esquerdo sai do lugar, mas consigo consertá-lo no calor. desço cambaleante e caio no mato seco que cerca a pista. não sei o que mais há ao redor. a lua lá, fitando tudo de braços cruzados. algo queima por dentro. escorre fogo pelas entranhas e pelos ouvidos. o rádio ligado numa estação errada. uma grande roubada.

1 comment:

Anonymous said...

foda!!!