Tuesday, September 11, 2007

Oi, meu nome eu esqueci. E hoje é só mais um dia dourado. Estou respirando fumaça e ainda calibro tudo com um cigarrinho, que desce como uma colherada de poeira, pra ver se não fode de uma vez. Envelheço tomando sol no concreto. O clima tá muito seco aqui na cidade. Finjo que tudo segue na moral quando acordo e chego no serviço, abro a cortina e vejo as pessoas se arrastando lá em baixo na calçada, sem a menor elegância. Faz tempo que não chove, daqueles torós com trovoadas retumbantes que ecoam até Valhalla e fazem esses répteis de asfalto escorregarem pra debaixo das marquises. Às vezes as marquises caem e esmagam os infelizes como uma imensa pedra arremessada pela mão pesada de deus. A chuva molha os cartazes de crianças desaparecidas e meus cigarros, mas não me importo, entendo que isso é vida. Se tivesse asas eu voaria para cima das marquises e pensaria num lugar mais arejado para visitar. Como só posso caminhar, vou me arrastando até uma sombra, sento e acendo um cigarro e rezo por uma chuva que não vai cair nos próximos meses.

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