Thursday, March 04, 2010

Bad Dog

São 5 horas da tarde. Shirley está sentada nua de tênis no azulejo azul da varanda. o quintal dela. com seu velho hábito inofensivo de riscar os braços com uma lâmina gasta de estilete. Fico um pouco intrigado com a rede que ela está usando nos cabelos. E tem um filho da puta buzinando na esquina há horas. Ecos intermitentes dentro da sala de estar onde durmo como um moribundo de favor. Rumores moídos espalhados num prato estilhaçado com restos da noite anterior. Uma caixa de areia entupida com a merda do gato atropelado. A casa está cheia de pessoas que não conheço nem de vista, hippies desdentados que mijam em potinhos e que gostam de massagem e da puta da mãe natureza deles e dos executivos preocupados. Tentam argumentar com calma, bastante dengo comigo, sobre como sou um sujeito sortudo por ainda estar vivo. Mas é à noite que eles ficam bêbados e choram ouvindo música mexicana. Shirley sempre chora mais que todos e berra sem saber agüentar as conseqüências nem medir as chances, mesmo assim, vai morrer de velha, eu sei, com o rosto inacreditavelmente enrugado e cistite. E todos falam muito alto, parecem caricaturas circunspectas e imundas que só falam merda, rumores. Sempre que acordo no meio da sala, nesse colchão úmido de solteiro sem lençol como comida esquecida num prato na geladeira, penso em Miyamoto Musashi de cócoras cagando em sua caverna escura elétrica. e chove torrencialmente e uma cortina d’água se forma na entrada da gruta.

1 comment:

Adriana Godoy said...

Que isso? duca, duca, duca!! bj