Tuesday, October 05, 2010

She won´t be my gal no more

Vinte milhões de habitantes nesta cidade, no entanto, não é pra você que devo satisfações, pare de fazer barulho à toa. Fica longe de mim, boneca. Só um pouco. Não foi você que me transformou nesse homem violento e descontrolado como uma bandeira num furacão, eu nasci assim. Vou apenas até o bar espremer o chorume da minha cabeça enquanto o céu desaba sobre toldos e telhados. E aí, quando a tempestade passar, eu voltarei para você coçar minhas costas, afinal, todos nós precisamos de alguém, num é mesmo? E não venha me falar de amor adequado ou sobre os rumores espalhados pela cidade sobre o meu temperamento; nem dessas besteiras sobre apostar todas as fichas numa viagem pro deserto de Mojave; sobre jogar as chaves de casa num vaso sanitário de banheiro público. Sinto como se segurasse uma bigorna besuntada de aflição nos braços. Todas as noites. Todas. Eu venho tendo visões e ando escutando vozes. Quando enxergo o céu de São Paulo, com suas nuvens magnetizadas pelas antenas e pelas luzes dos prédios da Paulista. Quando chove na cidade de São Paulo - como hoje - e eu não tenho para onde fugir. Quando respiro o ar úmido e denso e carregado de fuligem, como se estivesse num barco à vela no meio do oceano. Quando caminho devagar pela calçada irregular, acompanhando carros hesitantes e coletivos. Quando cruzo com estranhos e sequer olho em suas faces, pois não estou procurando ninguém e nem quero que me notem. Quando as poças d’água refletem o brilho dos faróis e das lâmpadas dos postes recém acesos. Quando, aos poucos, tudo fica encoberto pela penumbra da noite e a paz me escapa. Quando amo você apenas quando estou realmente triste – e estou sempre triste. Quando não sinto porra nenhuma mas lembro das coisas que preciso fazer antes de morrer. Quando percebo que meus irmãos pegaram carona antes de mim. Quando tenho apenas meus ossos e meus pulmões carregados como um cinzeiro cheio bitucas da noite anterior; minha vida que cozinha dentro do peito. Quando não tenho chances, quando não quero ser importante nem criar uma merda duma bela família. Quando estou além da lama e dentro da loucura.

7 comments:

Pedro Pellegrino said...

Carcarah, como vai? Você pode passar seu email? Abbraccio.

Carlos Carah said...

fala, Pedro. certo, irmão? pega ai:
carloscarah@gmail.com
abraço

diogo brunner said...

cortante
abraço

Anonymous said...

amigo, te amo e te compreendo.
se precisar to sempre aqui.
sei que vc acredita.
é de verdade.
bjs
vivi.
vc é muito foda.

Adriana Godoy said...

Porra! Algo que toca e muito. Comovente e nebuloso como a cidade de SP. bj

Anonymous said...

porra brother, cê escreve como desenha. abraço. kleber felix

Anonymous said...

O Bizarro de tudo isso é que, toda essa "sujeira" de São paulo atrai qualquer sentimentalista underground... Ótimo texto, belas palavras de uma Grande cidade. Quem me dera eu podre habitante encuralado numa ilha litorânea, viver nessa louca cidade.