Saturday, January 01, 2011

Twenty Thousand Roads I Went Down, Down, Down

Choveu durante 27 horas sem parar. Um dia cinza e entediante que me transportou direto para minha infância. Agora minhas lembranças estão mais nítidas e alimentadas. Assisti as nuvens se liquefazerem no horizonte. Não existe nada tão melancólico quanto uma metrópole, esvaziada por um feriado prolongado, num fim de tarde chuvoso.
Ao amanhecer empacoto minhas coisas e sigo o caminho de Palmas. Serão 800km de estrada mal sinalizada, e suponho que em boa parte do trajeto enfrentarei uma rodovia sem faixas de segurança, olhos de gato ou guard rails e com muitos caminhões - segundo informações recentes, o asfalto é liso como pele de serpente.
Vizualizo um quarto de motel vagabundo de letreiro neon azul piscante, uma televisão com um buraco de bala. O sinal falho. Borboleta-bruxa acerta repetidamente o vidro da janela, por onde o vento assovia. Lá fora, na rodovia, um trovador caipira caminha tocando as cordas tristes de seu alaúde enquanto canta baixinho em alguma língua esquecida.

Seguramente precisarei de mãos firmes e olhos atentos para poder voltar e enfrentar os bastardos, com o corpo coberto de óleo diesel e muita poeira de Tocantins.

3 comments:

Carlos said...

Massa!!!

Seus textos são foda!!

Pedro Pellegrino said...

Du caralho essas suas viagens, Carcarah! Um grande 2011 pra você! Abração.

Carlos Carah said...

firmeza, porra.
grande abraço pra vocês.