Friday, January 09, 2009

revolt trio
Sem grandes imprevistos ou contratempos graves - a não ser algumas brigas, ressacas doentias e uma tentativa de assalto frustrada– e após rodarmos quase 5000 quilômetros, voltamos à Sampa anteontem à noite. Eu, Cabeça e Guizé conseguimos atravessar o Sul do Brasil e o Uruguai para conhecer Montevidéu. Foi um rolê do caralho. Com estradas sossegadas e outras que exigiam total concentração, o que terminava num desgaste absurdo no fim dos dias em que passávamos na estrada e nas paisagens em movimento. Deslizando pelas BRs e pelas rodovias uruguaias, paramos em Curitiba, Balneário Camburiú, Praia do Rosa, Rosário do Sul – onde ficamos num bangalô podre e cheio de moscas varejeiras ao lado de uma whiskeria fedorenta na beira da estrada -, Montevidéu, Las Palomas, Pelotas e Curitiba novamente.
a estrada

O sol tostou minha pele e hoje descamo como uma cobra, cheguei a ficar roxo, depois vermelho pimentão, hoje estou da cor do pecado, quase mameluco. Levamos um estoque de coisas que por pouco não acaba na primeira noite, quando ficamos rodando a pé pelo centro de Curitiba até voltarmos ao hotel mais barato da cidade para sermos praticamente expulsos pela bagunça e falta de senso.

Montevidéu

A parte mais interessante, sem dúvida, foi Montevidéu. Apesar da clara antipatia dos uruguajos para com os brasileiros e da desconfiança da gostosinha que trabalhava no hotel em que nos hospedamos e de toda a loucura e o delírio que passamos pelas ruas da Ciudad Vieja, tudo correu bem, embora alguns hematomas tenham surgido, claro.

Cidade Velha, Montevidéu
No primeiro dia do ano, com o céu completamente encoberto por nuvens negras e o vento minuano sujo soprando frio na carcaça e levantando o lixo acumulado, fiquei caminhando sem rumo por todas as ruas desertas da Cidade Velha. Um silêncio de cemitério. Um local carregado de histórias ancestrais, com casas muita antigas e ruas estreitas, pessoas com descendência indígena e tudo cercado pelo oceano cor de chumbo e revolto do Atlântico. Enquanto meus
compadres dormiam, eu caminhava, sozinho, sentindo nada, apenas a satisfação de ser um forasteiro num lugar estranho. Sentia-me num filme de Kieslowski com uma garrafa de vinho vagabundo e a câmera fotográfica nas mãos, sendo interpelado, por onde quer que vagasse, pelos mesmos mendigos, um deles que insistia em me vender uma porcaria de uma guitarrinha feita com arames e um alicate, um verdadeiro espectro. Depois fiquei sentado numa praça, com minhas roupas encardidas, like a rolling stone, minhas unhas imundas e meu cabelo crespo totalmente desgrenhado pelo vento, rambling man, com saudades não sabia do quê e o fôlego falho.
Depois passamos de carro por Punta Del Este, mas ficamos apenas observando, que nem crianças na vitrine de uma loja de doces, todos aqueles iates e porsches e as cocotas mais belas da América do Sul, gangues delas com seus cortes de cabelo arrojados e coxas lisas e macias como veludo. Em Las Palomas fomos beber num farol beira-mar, com o céu coberto de estrelas e nebulosas, quando fomos confundidos com molestadores de menores por um grupo de extermínio responsável pela segurança dos playboyzinhos uruguaios. Eram alguns brutamontes bicudos que nos seguiram por um tempo. Eu achei que fosse ser fuzilado por ali. Inclusive quando pensava equivocadamente que ninguém me observava mais e eu simulava uma ejaculação com uma garrafa de cerveja de 1 litro e gritava: motherfucker, baby! Algo bem headbanger boboca mesmo. A coisa piorou quando amanheceu. Como não havia lugar algum para se hospedar, dormimos no carro, o que deixou um cheiro escroto de humano podre na barca, enquanto isso, nas ruas, centenas de bêbados ricos e acéfalos tocavam o terror. A polícia nada fazia, parecia pensar: deixem esses moleques se divertirem agora no verão, depois, quando eles crescerem, vão cursar uma nobre faculdade para se tornarem adultos imbecis e se lembrarem desses tempos de loucurinha que tiveram nessa praia. Eu desejava mesmo era que todos se matassem ali, nada mais natural. Eu desci ali, de chinelos e uma bermuda toda furada, apavorado, olhando ao redor à procura de alguma arma que pudesse me defender de possíveis agressores. Brutal. Preferimos ir embora antes que qualquer encrenca nos farejasse.
Na volta, já em Curitiba, nós 3 fizemos mais do mesmo, e caminhamos pela cidade até amanhecer, onde conhecemos o Lovestory e o Amistosas genéricos da cidade, o NightStory e o Café Madrugada, respectivamente. Lugares fedorentos, da bandidagem e dos policiais civis de cavanhaque brigando com as bochechas para fazer cara de mau, das putas escandalosas e sebentas. Foi divertido, inclusive um acidente bisonho que presenciei na porta de um desses lugares. Voltamos pra Sampa e fomos matar a saudade dos amigos, só que não encontramos nenhum.

as fotos foram tiradas pelo Cabeça

6 comments:

Anonymous said...

Eu conheço esse negroooooo aí!

Anonymous said...

caraio, carcarah! que trip, hein? porra, quando vc passou por ctba? caraio, dá pxma vez da um toque que eu te levo pra conhecer as polaca da barreirinha, caraio... e o cabeça! o que é aquela foto ali! hahahahaha. seus grandes fdp! abração, velho.

Anonymous said...

coisa fiiina o café da madrugada...fui parar lá algumas vezes com amigos, há tempos qdo não tinha mais lugares abertos para beber e a sede continuava.na próxima, pra vc q é uma pessoa d gosto refinado, recomendo os bares do terminal guadalupe, antiga rodoviária.num desses bares tem uma jukebox onde garimpando se acha um bom rockabilly. diria q são noites memoráveis!

Carlos Carah said...

porra, Rubão,

eu pensei em te ligar em Curitiba mesmo. mas chegamos tarde e a idéia inicial era apenas descansar. não foi o que aconteceu.

arrumei um hotel legal lá. o cara me disse que custa 18o reais pra ficar um mês num daqueles quartos.

abraço,

cc

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Mariana, se eu soubesse do Terminal Guadalupe teria ido pra lá. uma pena. gosto de Curitiba, só não conheço muito.

um beijo,

cc

Adriana Godoy said...

Pô, dá pra escrever um livro. Adorei suas aventuras. Beijo.

Modern Greetings said...

Goodbye too Joe, me gotta go. See, I was able to travel anywere.