Thursday, May 21, 2009

confio em ninguém e recuso ajuda

Sou um sujeito atormentado. Acho que deus me fez assim numas de dar risadas. Sinto-me numa planície destroçada pelo vento debaixo de uma tempestade que se alastra ao meu redor. Tudo é muito escuro, sempre, tanto os tons de verde do solo quanto o cinza do céu. Uma sensação dentro da minha cabeça que me aflige diariamente. Existo à noite. Nunca. Quando saio para caminhar pelos escombros da minha vida. Já não tenho amigos mais. Todos desapareceram ou pereceram pelas ruas descascadas dessa cidade. Alguns deles estão internados, como minha mãe. Ainda me lembro muito bem do dia em que Joaquim morreu. Ele ficou encolhido como um feto num terno branco numa viela escura e gelada da Santa Cecília. Tentei convencê-lo a se levantar e ir à um hospital. Ele me abraçou, beijou meu rosto e disse “irmão, prefiro morrer a ser enganado pela mulher que amo”, e o fez. Ninguém sabe o que ele estava sentindo. Algumas pessoas nunca mudam. Eu confio em ninguém e recuso ajuda. Costumo guardar uma arma no armário. Quando saio, carrego ela comigo. Ainda não tive a oportunidade de usá-la. Mas vou continuar. Vou buscar o safado que fez minha mãe triste. Entre becos e saídas da Sé. Na subida da Paim e na 14 Bis. Nas vielas do Jardim Herculano e nos banheiros dos bares do baixo Augusta e da 13 de Maio. Vou procurar nos hospitais públicos e nos terminais mais afastados. Nas esquinas dos Campos Elíseos beirando o Minhocão. Sob um frio de lascar a alma. Um frio que apenas eu sinto. Nas entranhas do negrume paulistano. Vou buscar o safado. E vou descarregar minha arma em sua cara e em seu peito. Vou destroçá-lo e comerei suas tripas. Depois farei uma pequena oração que eu mesmo inventei. Deitarei com os cães. E me sentirei bem satisfeito. O ódio me torna verdadeiro na genial era dos fracos deslumbrados.

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