Tuesday, May 12, 2009

É melhor eu ficar quieto, sempre penso isso quando acordo e sinto Neil Young estourando minha cabeça, com um balaço de rifle comprido, dentro do carro. Numa outra tarde em algum outro lugar. O volume no máximo enquanto o pé de chumbo, sem regulagem, afunda o pedal do acelerador e meus dedos sujos deliberam a direção. Fujo pela estadual sem arrependimento no retrovisor. Apenas a culpa me abastece a alma. O sol estalado parece querer coagular minhas vísceras. Vivo numa nuvem. Respiro o ar seco e árido e carregado de fuligem. Dentro do meu barco a motor. Um cadáver dançando com um braço agarrado ao volante e outro segurando um crivo. Pedaços de cães esfarelados pela malha de asfalto. Andarilhos tortuosos com cobertores repletos de carrapichos. Um doido que vaga. Dentro do carro. Apenas eu. Descontrolado. Sem vocação. Oh, mãe, o que mais eu deveria fazer?
Na rodovia cercada de capim seco o motor soa como um arroto dos deuses, um trovão no planalto do outro lado do mundo, que parece intocável agora. Tudo treme ao redor, dentro das sombras dos olhos. Joe Strummer não está por perto para me emprestar um punhado de canções. Empurre-me para fora, assim, quando notar algo estranho comigo. Sem fazer alarde, eu lhe digo, sem fugir de mim. Em câmera lenta e o giro no cume de Aconcágua. Erra-me na curva e jogue-me do desfiladeiro. Embrulhe-me em sangue e vidro. Deposite-me de costas no rio. Um altar que explode em metal e gasolina. Em nome do pai, da puta e do Espírito Santo.
Por que eu deveria querer morrer cantando “Sweet Home Alabama” para Deus?

1 comment:

Anonymous said...

UM BALAÇO NO PEITO!