Monday, June 29, 2009

Igor perdeu no par ou ímpar


Depois daquele atropelamento, todo mundo passou a mão em sua cabeça e o abraçou. Pareciam se preocupar com o garoto. Ele ficou imóvel, com seu pulôver listrado ridículo de gente mais velha e sua calça bege, agora com um novo furo no joelho esquerdo. Um fio de sangue escorria da sua testa. Outro brotava de dentro da blusa, bem no cotovelo, onde sempre se rala nos estabacos, ainda bem que ninguém percebeu. Ele olhava alguns pombos nos fios de alta tensão, alheio a tudo aquilo ao seu redor. Nada acontecera. Apenas o susto do impacto. Agora ele ouvia vozes desafinadas de pessoas que pensavam que ele fosse um bebê-chorão. Vozes de pessoas petulantes que encostavam suas mãos sebentas em seu rosto dizendo que não foi nada não. E não havia sido nada mesmo. Nada. Mesmo. Embora, ali, na calçada em frente à casa da Dona Tânia, surgisse, como se ligassem uma chave, alguma coisa o avisando para ficar longe daquela gente. Longe das pessoas que fingem. Assim, pegou sua BMX e desceu rumo ao gramado, onde estava indo antes daquele palhaço virar sem olhar para os lados. Onde deveria estar, à caça de grilos. Malditos grilos.

Low - "Peanut Butter Toast and American Bandstand"

1 comment:

Adriana Godoy said...

Kerouac baixou e fez belo texto. Uau, mais um.