Monday, September 24, 2007

se o dia nunca amanhecesse eu poderia caminhar para sempre

Caminhando sozinho numa noite quente de domingo, com a cabeça tomada por devaneios e lembranças de muito tempo atrás, cruzei a Aclimação que naquela hora estava às moscas. Parecia que só eu existia ali naquelas pequenas ruas com nomes de pessoas esquecidas. As folhas das árvores cobriam as postes limitando a iluminação e dando um aspecto mais lúgubre a minha caminhada. Gatos namoravam sobre uma caixa de concreto com uma bandeja de isopor vazia ao lado. O frentista passava um pano com álcool nas prateleiras da loja de conveniência esperando a hora de ir embora. Descendo a rua eu me sentia envolvido por uma solidão cultivada há muito tempo, e isso me produzia uma grande satisfação a cada quilometro percorrido. Em algumas casas, placas com avisos de vende-se e aluga-se penduradas na parede me traziam imagens do vazio etéreo que pairava em seus interiores apagados. Num silêncio agradável, onde nem os cachorros latiam quando eu passava pela frente dos portão, eu podia notar os carros estacionados nas apertadas garagens das casas térreas e geminadas. Das janelas da sala, luzes tremeluziam indicando que as famílias estavam com seus televisores ligados no refúgio do lar, aguardando uma nova semana, onde a esperança de um novo domingo tranqüilo como aquele funciona como uma meta. Descendo uma rua em curva, senti um aperto no peito e apressei o passo para chegar em casa antes que todos os televisores estivesses desligados.

2 comments:

ninguem said...

Vamo indicá o geléião pra um quiquito ano que vem.

Carlos Carah said...

ele merece.