Thursday, May 15, 2008

One Man Guy

Acordo, olho meu reflexo no espelho enquanto lavo o rosto e vou pro trabalho todas as manhãs. Fico ali o dia inteiro, entre intervalos para o café e o cigarro. Às vezes, no final da tarde, tomo uma cerveja com o pessoal no bar aqui ao lado. Dependendo do meu ânimo, fico andando sem sentido pelos bairros mais silenciosos até tarde da noite. Volto para casa numa melancolia confortável, preparo algo para comer, tomo um banho e vou para a cama com alguma leitura. Faço tudo sozinho. Pode parecer monótono. E é. Mas não reclamo. É a vida que escolhi. Certa vez, sentado num banco de praça, parei para pensar em minhas ambições. Flexionei minha mente numa espécie de meditação e pude visualizar um grande vazio. Tentei questionar se havia algo de errado comigo, ou por que eu não me importava com aquelas fotos de lugares maravilhosos e cheios de sombras que aparecem nas revistas de turismo. Desisti quando um garotinho espantou os pombos que levantaram em revoada. Minha última companheira queria que eu mudasse e reclamava da minha falta de zelo com minha pessoa. Isso foi há 17 anos. Eu continuo o mesmo, só um pouco mais velho e cansado. Todos que me conhecem sabem realmente quem eu sou. Como naquela canção de Loudon Wainwright II em que ele diz que é o mesmo cara nas manhãs, tardes e noites, eu não vou mudar, muito menos por alguém. Espero apenas minha hora chegar. Sem reclamar.

3 comments:

isaac castro. said...

grande texto.

Adriana Godoy said...

Texto legal demais. Bom. Me faz pensar um pouco em mim e nas minhas crenças. Gosto do seu jeito de escrever.

Anonymous said...

belíssimo texto, Carcará. me remete àquele poema grandioso do T.S. Eliot, o "Gerontion's". bjs