Monday, February 26, 2007

num cafofo na floresta

Enquanto ela pensa, mexe os lábios. Diz que escuta vozes dentro de sua cabeça, de uma bruxa má com verrugas no peito, e que passou o carnaval em branco. Sem confetes, o tempo todo. Impossível não reparar que seus miolos estão cada vez mais soltos, já que moramos sozinhos nesse fim de mundo, onde os trovões sacodem a terra e espantam os pássaros. Nosso cachorro sumiu há dois dias, ela insiste em seqüestro da Bruxa e outras suposições. Já vasculhei a maldita floresta por horas e digo que podemos arrumar outro bicho na cidade. Ela tem aversão à civilização, por isso a trouxe pra cá. Eu também não gosto de lá, mas vez ou outra preciso comprar arroz e alguns enlatados para incrementar a janta e aproveito para roubar alguma leitura. Hoje não saio da minha cadeira na varanda. Nada, mas nada mesmo, me deixa mais feliz que vê-la cuidando do jardim, com sua franja tampando o rosto, atenta às mudanças do tempo e aos trovões.

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