Tuesday, June 24, 2008

fora de moda

Ando postando pouco por aqui. Sequer acessei direito internet esses dias. Por mim, tudo bem, até aqui. No entanto, aproveito o frio e esse final de mês junino e o ensejo dessa onda caipira para falar de algo que venho escutando incessantemente:

Era uma vez, há muito muito tempo atrás, no ano de 1937, num vilarejo nos arredores do grande estado do Texas, quando o mundo era um pouco mais vazio e as grandes guerras eclodiam no Velho Mundo, quando os rios ainda eram limpos e as mulheres se vestiam melhor sem o auxílio de espelhos, uma cambada de moleques caipiras, de calças curtas e puídas e os dedos amarelados pelo tabaco e rapé, que tinham em comum o gosto pela música de Jimmie Rodgers, Bob Wills e Woody Guthrie. Um belo dia, esses vagabundos se juntaram num barracão e resolveram gravar um som, um hillbilly do caralho, para ser mais específico, já que naquela época, o termo country music nunca fora usado, e o estilo estava começando a criar asas após o primeiro lançamento de Jimmie Rodgers, 10 anos antes. Ben Pollack, Irving Fazola e Mugsy Spanier eram ratos do jazz, vistuosos e cheios de panca, já Maggsy Spanier, Ben Kanton, Joe Price e Francis Palmer, gostavam mesmo era de Western Swing, uma espécie de country dançante, cheio de improvisos e muitos músicos tocando juntos, num fuzuê só, daqueles que as damas no salão ficam dançando segurando as saias enquanto os marmanjos batem o salto da bota no assoalho ao mesmo tempo em que atolam o chapéu na cabeça. A turma, mal resolvida com o microfone, convida então Whitey McPherson, um molequinho magricela de 14 anos, um verdadeiro virgulino, para cantar numa sessão em que gravariam 15 músicas. Escutando a voz de McPherson, é fácil enxergá-lo como uma rapariga frágil de vestido florido e butina de couro marrom por causa de sua voz, que invoca ares de uma Billie Holiday yordeler. A forma como ele transforma um desafino em algo agradável como uma brisa é impressionante. Segundo o blog Western Swing, o Rhythm Wreckers praticamente fez apenas essas gravações e depois cada um foi pro seu canto. Mugsy Spanier, o rapaz responsável pela corneta da banda, suvaco de cobra que era, disse que sequer escutou as fitas depois de gravadas, e que a banda era um fracasso. Depois disso, Whitey McPherson ainda foi apadrinhado por Woody Guthrie, que o levou para Tijuana para se apresentar em seu programa de rádio. A última notícia que se tem do rapaz é que ele foi servir na Índia, em 1944. Big Tom, também conhecido como Tonhão, um negro de dois metros de altura e poucos dentes na boca, lembrou, numa noite farta de Bourbon, que McPherson era mais conhecido nas planícies texanas pelo seu gosto por ovelhas que pelos seus dotes de cantor hillbilly. No arquivo abaixo está disponibilizado essas raras gravações, que eu roubei do Western Swing. É difícil explicar a satisfação que sinto escutando essas antigas canções, que são cópias feitas diretamente de raros vinis de colecionadores. Apenas deito no sofá e aprecio esse jogo de solos, quando, na safadeza, entra o violino escorregando por cima; outrora quem manda é o clarinete; daí a guitarra de Joe Price aparece na maciota enquanto o violão faz a base marota. Algumas canções me remetem à antigos desenhos animados em preto & branco, outra me fazem sentar numa varanda de uma chácara há muito desaparecida, pouca iluminada, para cortar as unhas dos pés com um alicate enferrujado, numa noite fresca com alguns vagalumes que voam descompromissados pelo matagal ao redor. “Am I Blue” é a mosca branca desse disco. Quando McPherson pergunta se ele é triste depois que ela foi embora, sinto vontade de rir. Essa música, escrita por Harry Akst e Grant Clarke em 1929, depois seria gravada por Ella Fitzgerald, Billie Holliday e Etta James, no entanto, nenhuma dessas versões parece contar com o deboche e o swing dos Rhythm Wreckers. “Blue Yodel No.2 (My Lovin' Gal Lucille)” coloca uma guitarra viajante em primeiro plano, até que MacPherson entra num vocal jazzístico rasgado lamuriento que, esperto, se transforma em uivos para a lua cheia de outono. Perfeito.

Rhythm Wreckers - via mediafire

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Aproveitando, dêem uma passada no MySpace dos parahybanos do Burro Morto - esse nome de banda é foda – para conferir o ótimo som dos caras. Em breve mais informações sobre o show que eles vão fazer aqui com os mamelucos do Cicrano.

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E o Diddy Wah disponibilizou uma sonzera infernal do Fela Kuti lá em seu sítio. Se eu fosse vosmecê, passava lá e fazia o refestelo.

12 comments:

Anonymous said...

ô diacho!

Feliz said...

cara, tava procurando esse som. sempre veio por aqui. gosto dos seus trampos, dos textos e dos discos que vc bota aí. abraço.

Anonymous said...

valeu, Tiago.
abraço.

**

ô Ninguém. cê recebeu meu email?

Anonymous said...

delícia!

adorei!

Anonymous said...

tu precisa urgente voltar pra Inglaterra e encontrar o Boca Mole, seus escritos estão monotonos e sonolentos.

um blablabla didtaico e tecnico sem empolgaçao.

parece um livrinho de auto ajuda e conselhinhos musicais, litararios.

acorda Carah!

zema ribeiro said...

carah, cinco segundos disso e tu te apaixona! ao menos foi o que me aconteceu. obrigado! obrigado!... abração!

Anonymous said...

e o Flu? viche!
não é meu time, não.
nem vc me conhece.e derrepente to aqui.mas ultimamente leio o blog, e na final me peguei torcendo pro flu.
teve outras coisas tbêm, mas isso é assunto p/ outro dia. até.

Anonymous said...

é, eu também me peguei torcendo pelo fluminense. Li e gostei tanto suas palavras que nem me faltaram suas aventuras em Londres, mas me falta encontrar o que você escreve agora. came the light, caroline!

Anonymous said...

putz, beber e escrever é uma merda. agora diria: come to the light, carol anne. puta merda, afinal, o que fala na merda daquele filme?????

Anonymous said...

porra, nem me falem.

meu time se fudeu.

fiquei breaco e de mau-humor alguns dias.
agora passou...

eu acho.

abraço

cc

Anonymous said...

deveria escrever mais no blog, sinto sua falta...agora q estou "interessada" no q diz e escuta, não no time eh claro!rs.estarei sempre aqui a ali.
agora não mais tão anônima: Roose.
me apresentarei assim.até.

Anonymous said...

oi Roose,

ando preguiçoso aqui. sem novidades, talvez.

vou tentar melhorar.

beijo,

cc