Tuesday, March 24, 2009

fim da trilha/grande nada

Seus frascos de remédio no criado mudo ao lado direito da cama do hotel estão cada vez mais vazios. A espera de um novo desastre, o fim da trilha. Talvez isso que estamos sugando não seja amor. Sinto que eles ainda estão no meu encalço pelas ruas do bairro. Posso escutar as sirenes. Existe algo de errado dentro da minha cabeça. Todas essas encrencas escondidas debaixo do meu chapéu. E seus olhos que encaram a quina do teto parecem um vale após um incêndio. Silenciosa como uma doença, eu vejo você se mover lentamente de um lado pro outro. Às vezes você age como uma anciã, agarrada a esse cachimbo encardido o dia todo. Quando a chuva da manhã de veludo tamborila na janela, como moscas que não conseguem escapar, eu me imagino em outro lugar. Talvez você esteja absorta demais pensando no grande nada, no vazio daquela garrafa. Qual era mesmo o nome daquela enfermeira de olhos de metal? Nosso quarto 37 se parece com uma cabine, e como fede esse carpete. Meu coração é um cinzeiro. Meu dinheiro está quase acabando. Talvez devêssemos voltar a dormir em casa. Talvez devêssemos entrar num tratamento com metadona. Ainda temos muita coisa a aprender. Amaldiçoados seremos para sempre. É. Você ainda está aqui, mas já não tenho tanta certeza.

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