Friday, March 27, 2009

sem fogo

era uma vez, numa dessas noites bem, bem escuras, eu andava pelas ruas do bairro. As copas das árvores cobriam as lâmpadas dos postes e o vento frio que soprava ajudava a formar sombras que mais pareciam espectros aleijados dançando na malha do asfalto. Isso dificultava minha busca por uma bituca qualquer para poder dar uns pegas num crivo. Eu tinha dezessete anos quando a encontrei plantada numa esquina. fumava com vigor. pálida como uma vela - de vestido esvoaçante e colorido - de macumba.  Eu tentei me aproximar hein. O grito dela acordou a vizinhança e os pombos nos fios de alta tensão. Credo. Cruz credo. Corri como quem rouba. Uns caras numa Kombi branca arremessavam jornais por sobre as cercas, nos quintais. Plah. Fiquei apavorado com os estalos. Plah. Plah. Eu estava em maus lençóis. O coração batendo na garganta. Um cheiro escroto subia do canal. Resolvi mijar nele. O pressentimento enorme de que alguém iria me atacar me aterrorizava. o berro dela ainda ecoava e fazia curvas. Um crivo. Meio. Achei um meio crivo menos que a metade numa rachadura. 

2 comments:

said...

Cara gostei desse, apesar de achar que quando tu escreve poesia a coisa flui mais, fica mais solta dançando um blues estrepado, mas gostei.

Amanda said...

Quando vc vai lançar um livro com esses seus textos? rs. Bj.