Wednesday, March 05, 2008

me chama de papai

Olá, querida. Puxa vida, quanto tempo. Hoje acordei me sentindo um pouco mal. Como se tivesse engolido um saco de pedras na janta. Fiquei andando em círculos pelo quarto que nem essas malditas galinhas de Angola. Não, isso não é ressaca. Venho maneirando na bebida com certo êxito. E não tenho problemas com o álcool, apenas penso demais quando estou de ressaca, e isso me incomoda. É uma lasqueira. Ninguém para conversar ou jogar um dominó no final da tarde, sabe? Mas, como você está, me conte? Como vai o seu novo amor? Ele deve ser bonitão, hein? Ou um almofadinha? Sei. Significa muito pra mim saber que você está bem. É. Eu também estou ótimo embora acorde com essas pedras no estômago. E esse negócio de andar em círculos pelo quarto está me deixando louco. Demoro um pouco para pegar no sono e penso bastante em você, principalmente quando sei que está longe. Minha pele mudou de cor depois que o inverno virou primavera. Te contei que uma caravana de ciganos passou por aqui esses dias? Pois é, não é fantástico? Pensei até em juntar meus trapos e ir com eles, sem nem perguntar o destino. Colocar uma argola prateada na orelha e sumir nesse mundão. Conheço tudo por aqui. Já caminhei por todas essas montanhas. Por todas essas encostas escarpadas. Conheço todas as curvas do todos os rios. O cheiro da brisa. Conheço tudo, inclusive na escuridão. Não há mais nada de novo. Queria ir pro litoral, catar conchas em praias desertas e esquecer meus tolos dias do passado. Queria parar de andar em círculos. Queria você de volta. Mas isso é um delírio. Viver com as costas prensadas num muro de pedras não é saudável. Para ser bem honesto, eu estou muito cansado de todas essas memórias. Não importa para onde eu olhe, sempre enxergo você. Carregando os baldes d’água ou reclamando que os coelhos atacaram a horta. Chutando os cães para fora de casa e me encarando com esse olhar de víbora pálida do deserto. Ou lavando a louça e rindo sozinha. Deixe me abraçá-la pela última vez, pelos velhos tempos. Agora peço que vá embora. Preciso arrumar minha vida, sair por ai e encontrar meu caminho. Parar de jogar com meus sentimentos como se barganhasse cavalos. Parar de andar em círculos como se tentasse limitar meu mundo. Minha alma atolada na lama. Preciso acertar minhas contas com o que deixei para trás antes de te conhecer e fugir para cá. Preciso me ver livre de mim novamente.

5 comments:

Amanda said...

Te visitei...

Anonymous said...

i love it when she calls me sweet da-a-dy!

Anonymous said...

Lindo, lindo...

ninguem said...

Colega, faz favô, junta essas porra e faz uma merda de um livro caraio!


...tá fartando seu nome na estante aqui.................

Adriana Godoy said...

Gostei do texto. Forte e poético.