Tuesday, January 08, 2008

Marina não conseguiu engolir a amostra grátis de pão de queijo que a atendente lhe deu no balcão da padaria. As lágrimas escorreram por suas maçãs do rosto e ficaram ali, dependuradas no abismo de seu belo queixo. Tim havia sido morto por frentistas de um posto de gasolina em Palmas. Aquele foi seu último erro. Éramos uma gangue. Tim nos liderava em assaltos a bancos, postos de gasolinas e estações de trem ao redor do país. Sarah, sua mulher, um furacão em todos os sentidos, havia morrido numa fuga mal-sucedida num levante no interior de São Paulo. Com isso, Tim enlouqueceu. Chegou a apontar a arma na minha testa quando tentei tirá-lo de um hotel em Araçatuba depois de 11 dias trancado injetando cocaína com vodka Baikal. Tim se entregou ao diabo. Eu arrastei Marina, minha guria, para uma cidade minúscula no Paraná com intuito de desbaratinar alguns federais que estavam em nosso encalço. Fiz de tudo para Tim vir conosco, mas ele parecia decido a morrer e levar alguns canas com ele, talvez até alguns inocentes que atravessassem seu caminho. Estacionei o Maverick num matagal e o cobri com galhos e plantas secas, ali ninguém poderia encontrar a máquina usada no nosso último ataque a um posto Graal na Marechal Rondon. Era a quarta vez que assaltávamos aquela porcaria, dinheiro fácil e tanque cheio. Tive que ameaçar um pulha que quis bancar o valentão que tentou segurar a porta carro na hora da fuga. Desci, enfiei o cano na boca do infeliz e escutei o esmerilhar de seus dentes. O desgraçado era grande, e chorou ajoelhado como uma menininha. Conseguimos uma bolada e descemos pro Sul, com pacotes de cigarros, muita bebida no isopor no banco de trás e alguns comprimidos de Demeral. Tim havia escolhido seu caminho na loucura após a perda de Sarah, no entanto estava em meus pensamentos o tempo inteiro. Eu sabia que nossos dias de glória estavam chegando ao fim. Quando fiquei sabendo de sua morte através de um antigo comparsa de Brasília, através de um e-mail, não tive dúvidas de que tudo estava acabado, e que o certo era eu conseguir mais alguma grana em assaltos, comprar um pedaço de terra e me instalar com minha mulher.

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